Índices e a interpretação da realidade
Atualmente existem diversos índices econômicos utilizados pelos estados como forma de controlar o avanço de determinados projetos ou para mapear várias atividades, facilitando o papel que o governo deve cumprir e criando parâmetros capazes de mesurar os múltiplos fatores implicados e classificar os mesmos.
O cientificismo na ação do Estado surge no começo do século XX com a evolução do sistema global e as mudanças no capital internacional assim como a crescente dificuldade de organizar e quantificar os fatores políticos, econômicos, sociais entre outros, que configuram a balança de poder no mundo.
A criação de índices ajudou não somente a organizar a ação política como fundamentar determinadas mudanças ou ações através da positivação dos fatos políticos e econômicos permitindo assim uma abordagem mais realista e economicista das questões que surgem no cenário internacional.
Entre os diversos índices que existem no mundo atual o PIB (Produto Interno Bruto) criado na década de 1930 por Simon Kuznets é o mais popular e utilizado.
Houve uma apropriação dos diversos índices gerando uma severa distorção entre a natureza do fato que pretende expressar e a conotação com que o mesmo é utilizado, criando uma série de associações que por vezes limitam o real conhecimento dos fatores gerando divergências crescentes e sendo constantemente criticado por estudiosos como Piketty.
É muito comum que o PIB seja usado para estabelecer a riqueza de um país, embora em sua composição alguns fatores não são contemplados. Também é comum relacionar a evolução do PIB com o desempenho econômico de uma nação. Isto gerou a crença popular de que um país que prospera deverá ter um crescimento expressivo do seu PIB. Sendo que esse crescimento não indica precisamente uma melhoria generalizada e homogênea da nação.
O crescimento registrado na Espanha desde a superação da crise dos países do Mediterrâneo em 2015 é um exemplo de que o aumento do PIB não necessariamente significa uma melhoria socioeconômica pois mesmo com crescimento de 3% do PIB a Espanha continua enfrentando graves problemas tais como desemprego acima de 21%, déficit público superior a 90%, crescimento da desigualdade, etc. O crescimento da economia espanhola está relacionado as movimentações e fluxos do capital e a ação de determinados agentes econômicos que juntos a uma série de medidas governamentais, produzem o crescimento concentrado em determinados setores, mas que refletem no cálculo de toda a economia, transmitindo uma imagem distorcida da realidade da “riqueza” naquele pais uma vez que seus cidadãos sofreram uma regressão socioeconômica que permaneceu oculta pelo PIB.
A utilização indiscriminada dos diversos indicadores, promoveram sua própria distorção e criou no consciente coletivo uma série de correlações que não sempre possui fundamento.
Em países da América Latina, por exemplo, existe a crença generalizada de que a valorização da moeda local e consequentemente a redução das divisas (Dólar e Euro) indicam avanços na economia e melhorias gerais para o país e sua população, o que está correto até certo ponto pois por outro lado esse aumento indica um impacto na balança comercial da nação, na sua competitividade internacional e consequentemente na sua performance econômica.
Também podemos citar índices locais que geram controvérsia em diversos países como podem ser índices de desemprego e os índices de preços ao consumidor, cuja percepção generalizada é que existe uma divergência absurda entre os dados apresentados e a empiria dos consumidores.
Outro caso curioso é a utilização de índices criados no setor privado e orientados para um determinado público que foram apropriadas pela população como por exemplo as notas de classificação das agências de risco. Essas notas surgiram com o intuito de classificar os países através de uma analises metodológica e orientar ao mercado financeiro e seus investidores, mas acabou sendo usado como uma espécie de índice da atividade econômica e até mesmo da confiabilidade do Estado em geral, sem considerar os interesses externos que podem desvirtuar ou estimular determinadas ações.
Os índices que surgiram como formar de interpretar e positivar os fatos econômicos, sociais e políticos acabaram sendo desvirtuados pelo desgaste produzido por sua utilização indiscriminada e pela incapacidade de evoluir conforme o avanço dos próprios elementos avaliados se transformando muitas vezes em reflexos parciais da realidade, mas que desempenham um papel determinante nas ações dos atores internacionais atuando como causa e consequência do próprio cenário internacional, já que não somente refletem a realidade como também são utilizados para construir e projetar a mesma.
Diversos atores constroem seu discurso através desses dados e usam o mesmo para moldar a realidade dificultando mais ainda a real percepção das coisas.
Por esse motivo é tão importante desenvolver novas metodologias e atualizar as existentes, reduzindo dessa forma o descompasso entre o índice e o fato interpretado, permitindo aos autores internacionais e nacionais uma visão mais amplia e realista. Reduzindo dessa forma os contínuos desvios a discrepâncias. Aliando as estadísticas com novas metodologias para classificar e interpretar os fatos econômicos, sociais e políticos que formam o mundo e transformar a informação em uma ferramenta operacional e não um mero item de discurso.
BIBLIOGRAFIA:
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