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Acordos estratégicos de cooperação entre Pequim e Teerã elevam a pressão norte-americana no Oriente

Atualizado: 26 de set. de 2023

Luis Augusto Medeiros Rutledge

Analista de Geopolítica Energética

Acordos de cooperação fazem parte das relações diplomáticas entre países soberanos. Entretanto, quando uma das partes desta relação é um país com rígidas sanções comerciais e com grande isolamento internacional, uma análise mais profunda se faz necessário.


Em 2022, o Irã firmou estratégicos acordos de cooperação com Venezuela e China. E, entrou em conversações com a Rússia numa provável parceria para os próximos 20 anos. Em todos estes acordos estavam sobre a mesa cooperações em tecnologia, agricultura e, claro, petróleo e gás. E, implicitamente movimentos geopolíticos nas futuras relações internacionais do Irã. Este artigo aborda, em especial, a relação entre Irã e China.


O Irã, em busca de investimentos internacionais e tentando sair do isolamento imposto pelo Ocidente, enxerga na China um grande parceiro comercial e um aliado político nas questões diplomáticas que envolvem os EUA e as grandes lideranças europeias.


No cerne do acordo estratégico entre Irã e China estão questões geopolíticas que podem mudar severamente o equilíbrio de forças no Oriente Médio, diminuindo ainda mais a influência norte-americana na região, muito desgastada após a infrutífera visita do presidente Joe Biden a Arábia Saudita. Numa simples análise, o desenvolvimento das relações Irã-China, a partir da cooperação estratégica em diversos setores, pode a princípio formar uma ideia de crescimento geoeconômico do Irã na região e não agradar seus vizinhos árabes. Vale ressaltar que, a maior comodity iraniana, o petróleo, tem a China como destino final de grande parte de suas exportações.


No entanto, o direcionamento do Irã para Oriente deve impedir ainda mais qualquer alívio comercial vindo do Ocidente. E, aumentar a participação geopolítica da China nas diretrizes do Golfo Pérsico.


Em meio às tensões geopolíticas regionais observadas recentemente no Oriente Médio, o governo de Xi Jinping conseguiu estabelecer importantes laços comerciais e estratégicos não somente com o Irã, mas também com os opositores de Ebrahim Raisi. Importantes parcerias econômicas foram estabelecidas com a Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Catar. A estratégia diplomática é em alguns casos a mesma utilizada no norte da África, infraestrutura em troca de energia. No caso do Oriente Médio, o planejamento das relações internacionais da China visa utilizar suas ferramentas econômicas e políticas para estabelecer um equilíbrio com o Irã e os países árabes, sem tomar partido nas crises internas.


Entretanto, as rivalidades regionais impedem uma maior abordagem equilibrada da diplomacia chinesa. Enquanto, Dubai e Doha proporcionam um ambiente mais estável e lucrativo para as pretensões chinesas, o Irã, apesar de possuírem um inimigo comum, não construiu planejamentos e projetos de desenvolvimento sólidos. De qualquer forma, um alinhamento geopolítico com grande parte do golfo é vital para as pretensões chinesas de aumentar suas relações comerciais com aliados importantes.


Aos norte-americanos, o grande incomodo diz respeito ao possível novo acordo nuclear.

Um novo acordo poderia desencadear atividades chinesas no Golfo e aumentar sua influência geopolítica na região. Se um acordo mais brando for a frente, tendo os chineses como influente mediador, fortalecerá o Irã e aumentará a instabilidade no Oriente Médio.


Questões nucleares, guerra na Ucrânia e aumento da produção de petróleo logicamente não serão discutidas nesse acordo publicamente. Porém, vale lembrar que, num passado recente os reatores nucleares do Irã foram construídos com tecnologia chinesa.


Outro ponto importante, a guerra da Ucrânia. O grande fornecedor de drones balísticos às forças armadas russas é o Irã. E, alguns componentes que compõem os drones são fabricados na China. A China, por sua vez, grande aliada da Rússia na geopolítica mundial.


Na guerra geopolítica, não existem santos ou culpados, todos visam o melhor para seus interesses. A grande questão do momento consiste em analisar o fortalecimento das relações comerciais para além do financeiro. A China precisa do petróleo e do caminho para aumentar a rota de seu comércio e quer mais ainda obter a influência geopolítica nas decisões do Oriente Médio, outrora o grande papel dos EUA.


A pretensão geopolítica por trás desses acordos comerciais, na visão do governo de Ebrahim Raisi, vai mais além. No entendimento iraniano, as alianças estratégicas com China e Rússia, países de ideologias contrárias ao governo norte-americano, fortalecerá o país nas votações do Conselho de Segurança das Organizações das Nações Unidas (ONU). No entanto, sempre é bom lembrar que tanto a China quanto a Rússia, membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, não foram contrárias nas resoluções punitivas de sanções da organização contra o Irã em nenhum momento.


Expressando a enorme preocupação com o fortalecimento das relações sino-iranianas, o atual governo norte-americano rapidamente se pronunciou sobre a discussão de um novo acordo nuclear. Entretanto, dificilmente a República Islâmica concordará com algo próximo do atual acordo. O primeiro passo, somente retirando as sanções. Aguardemos.



Luis Augusto Medeiros Rutledge

Engenheiro de petróleo, possui MBA Executivo em Economia do Petróleo e Gás pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Analista de Geopolítica Energética, Membro Consultor do Observatório do Mundo Islâmico de Portugal e Membro do CERES - Centro de Estudos das Relações Internacionais. Atua como colunista e comentarista de geopolítica energética do site Mente Mundo Relações Internacionais. Pós-graduando em Relações Internacionais pelo Ibmec. Possui 16 anos de experiência em Projetos de Pesquisa e Desenvolvimento entre a UFRJ e o CENPES/PETROBRAS.


Referências


https://moderndiplomacy.eu/2023/02/25/iran-china-cooperation-fraught-with-contradictions/


https://foreignpolicy.com/2022/09/07/iran-nuclear-deal-china-us-geopolitics-middle-east-asia-gulf-sanctions-belt-road/

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