Aspectos da retomada de relações entre Cuba e Estados Unidos
Barack Obama entrou na história, de novo, neste mês de março. Ele foi o primeiro presidente americano a visitar Cuba em 88 anos. A viagem é mais um dos sinais importantes da reaproximação entre os dois países, que teve início em dezembro de 2014. Para este ano, nos últimos meses de mandato que ainda lhe restam, Obama trabalha para que o Congresso, dominado pela oposição republicana, derrube por completo o embargo econômico à ilha.
Em abril de 2015, Barack Obama e Raúl Castro apertaram as mãos durante um encontro de países das Américas no Panamá – a primeira reunião entre um líder americano e um cubano desde que os países romperam as relações em 1961, no auge da Guerra Fria. O isolamento continuou mesmo após o colapso da União Soviética.
No mês de maio foi a vez dos Estados Unidos retiraram Cuba formalmente da lista do Departamento de Estado de países que promoviam terrorismo. A saída da lista aliviou pelo menos as sanções ligadas a Regulação de Sanções do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros do Departamento do Tesouro americano.
Tudo o que atualmente parece acontecer muito rápido demandou 18 meses de conversas secretas entre diplomatas dos dois governos. Uma intervenção feita pessoalmente pelo Papa Francisco, que tem mostrado importantes habilidades diplomáticas desde que substituiu Bento VII no comando da Igreja Católica em março de 2013.
Barack Obama vem flexibilizando há meses a retomada de laços econômicos com os cubanos. A reintegração comercial foi muito bem recebida pelos amantes dos charutos cubanos, viajantes assíduos e empresários, principalmente os de origem cubana que, agora, vêm não só a oportunidade de impulsar os negócios como reviver experiências na terra natal.
Com um mercado profundamente adormecido, Cuba se tornou a estrela da vez aos olhos dos investidores americanos. O governo cubano estima que durante os mais de 50 anos de embargo, as restrições econômicas levaram à ilha a uma perda de U$ 1.126 trilhões.O tempo não volta, então, resta aos cubanos pensar no que podem ganhar de agora em diante. Hoje, produtos cubanos já são distribuídos na América Latina e na Europa. Contudo, o comércio exterior do país tomará proporções cavalares com a abertura para exportação ao mercado de mais de 300 milhões de americanos, e o melhor: a pouco mais de 150 quilômetros de distância.
Entre as regras econômicas que já foram flexibilizadas por Obama estão a autorização para que turistas americanos possam usar cartões de débito e crédito na ilha; companhias de seguro cobrirem apólices de vida ou viagem de cidadãos que visitam Cuba; empresas americanas estão autorizadas a investir em pequenos negócios cubanos;
Em fevereiro deste ano, uma fábrica de pequenos tratores com sede no estado do Alabama recebeu a autorização para se tornar a primeira indústria dos Estados Unidos a operar em Cuba em mais de 50 anos. Os dois países também assinaram um acordo para retomar voos comerciais regulares, pondo fim a meio século de interrupção. A previsão é de que até o fim do ano 110 voos estejam fazendo diariamente a rota para Havana e outras regiões da ilha. Atualmente, o trajeto é realizado apenas por voos fretados – por volta de quinze todos os dias.
Embora nem todos gostem da ideia de reaproximação, levantamentos apontam que a maioria dos americanos receberam bem os planos da Casa Branca. Uma pesquisa feita pelo jornal Washington Post e a rede de tevê ABC News apontou que 63% apoiam a retomada de laços entre os dois países e outros 66% gostariam que o embargo fosse derrubado por completo.
O tema também já foi pauta de votação nas Nações Unidas. Em 2013, a Assembleia Geral da ONU aprovou uma resolução condenando o embargo. Apenas dois países se opuseram a medida, Estados Unidos e Israel.
Boa parte das mudanças que os cubanos vivem atualmente estão diretamente ligadas a passagem de bastão de Fidel Castro para o irmão Raúl em 2008. O atual presidente tem trabalhado para tirar a economia do país da completa estagnação. Algumas das reformas dele incluem a descentralização do setor de agricultura, o relaxamento de restrições para pequenos negócios, maior facilidade para cubanos obterem autorização para viajar e expansão de acesso ao consumo.
Uma completa mudança de paradigma. Quando Fidel Castro assumiu o poder em 1959, uma grande parte da economia de Cuba estava atrelada aos Estados Unidos. Empresas americanas controlavam partes significantes de recursos naturais e ferrovias, além de deter o monopólio da produção de commodities como açúcar e tabaco, por exemplo. Castro nacionalizou as empresas e em troca recebeu como retaliação sanções do governo americano.
Mesmo que tudo ainda pareça caminhar para a iminente retirada do embargo, a prisão de Guantánamo continua sendo um dos obstáculos para a normalização das relações entre os dois países. Em fevereiro, Obama lançou um plano para fechar o centro de detenção militar. Um total de 91 suspeitos de terrorismo continuam presos na prisão, dentro de em uma base militar americana no sudeste de Cuba, – no auge a prisão abrigou quase 700 pessoas.
As divergências políticas entre os dois países ainda são impasse e continuam acirradas. Durante a viagem ao país, nesta semana, Obama disse que o país vai continuar defendendo a democracia em Cuba e o país precisa confiar em deixar o destino do povo cubano nas mãos dos próprios cubanos. Um dos encontros foi marcado por uma saia justa entre os presidentes. Ao ser provocado pelo americano sobre a soltura de presos políticos, Raúl Castro, visivelmente irritado, pediu a lista dos presos para que assim pudesse soltá-los.
Mesmo com sinais evidentes de tensão política no ar, a visita de Estado teve um saldo positivo. Ainda não se sabe porém se a passagem de Obama será útil para colaborar com o fim do embargo ou útil para algum tipo de abertura do regime comunista. Fato é que cubanos e americanos se preparam para continuar assistindo novidades da retomada destes laços durante 2016. Embora, tenha muita habilidade como negociador, Obama não terá capacidade de barganha para derrubar o embargo econômico no Congresso até o fim do ano. Esta conversa está só começando.
BIBLIOGRAFIA
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LEOGRANDE, William M., KORNBLYH, Peter, HUFBAUER, Gary Clyd, KOTSCHWAR, Barbara. – Foreing Affairs –
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http://www.un.org/press/en/2014/ga11574.doc.htm
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