Conflito Congelado
Devido ás seguidas crises ocorrendo pelo Oriente Médio no momento, entre elas o aumento da tensão entre Arábia Saudita e Irã, a guerra civil na Síria, no Iêmen e na Líbia, a insurgência e expansão do Estado Islâmico, caos político no Egito e em menor escala na Turquia, sem falar nos atentados que vem ocorrendo tanto no próprio Oriente Médio, como também na Europa em consequência dessa instabilidade na região, a situação do conflito na Ucrânia vem sendo deixada de fora do noticiário internacional.
O que ocorreu em seguida no país, após a tomada da península da Criméia pela Rússia, foi uma insurgência separatista pró-rússia na região leste em Donetsk e Luhansk (também chamado de Donbass, por causa do rio Don), que também queriam ser anexadas ao país, assim como ocorreu na península.
Os separatistas foram prontamente combatidos pelo exército regular ucraniano, que conseguiu tomar de volta algumas áreas sobre controle inimigo. De 2014 para cá, nem as forças separatistas ou o exército ucraniano tiveram alguma vitória relevante. Durante este tempo tentou-se estabelecer um cessar-fogo (Minsk I em 2014), que foi seguidamente violado pelos insurgentes pró-rússia, e em 2015 foi tentado novamente (Minsk II), que mais uma vez foi violado pelos rebeldes. Apesar das escaramuças diárias entre os combatentes que seguem ocorrendo, nenhum ganho real de território foi feito pelos lados, de modo que se pode considerar o conflito como estando congelado.
Aparentemente o congelamento do conflito faz parte do interesse de ambos os lados, pois o custo econômico do conflito estava começando a ficar muito alto, e as baixas já passaram de nove mil e há mais de vinte mil feridos (dados de dezembro de 2015). A situação econômica da Rússia se deteriorou bastante, afetada pelas sanções internacionais encabeçadas por EUA e UE, e pela queda no preço das commodities.
Enquanto isso a economia e a política ucraniana vêm sofrendo dos mesmos problemas que levaram à queda de Yanukovich, o rompimento com a Rússia, e a revolta na Praça Maidan. A economia do país teve uma retração de 12% em relação a 2014, à inflação no país para o ano de 2015 foi projetada para ficar em torno de 44%, além disso, possuí uma divida de 15 bilhões com a Rússia, que se encontra com uma parcela no valor de 3 bilhões em atraso.
Sua economia, que já era frágil antes das manifestações na Euromaidan, teve a situação muito agravada devido ao conflito, e a perspectiva de superar a crise é completamente dependente dos empréstimos de $4,5 bilhões de dólares do FMI, $1,5 bilhões da EU, e $1 bilhão dos EUA, e das reformas econômicas que serão feitas a partir de 2016. Como consequência disso o seu reestabelecimento econômico está completamente dependente dos empréstimos obtidos com o Ocidente.
O presidente Poroshenko se mantém no poder com um frágil acordo partidário, enquanto seu governo é bombardeado com denúncias de corrupção, acusações de incompetência para lidar com a crise econômica, e uma disputa de poder com o primeiro-ministro Yatsenyuk, enquanto tenta implementar reformas profundas nas instituições do país.
Já na península da Criméia, o ano de 2016 começou com graves problemas de infraestrutura, devido à dependência do fornecimento de água e energia por parte da Ucrânia. Desde o dia 1 de janeiro, com o vencimento de contrato, a região se encontra sem energia elétrica. Com isso mais de dois milhões de pessoas se encontram sem aquecimento, em pleno inverno, o que fez com que o governo russo declarasse estado de emergência.
Desde novembro a península do Mar Negro vem sofrendo atos de sabotagem por parte de nacionalistas ucranianos e tártaros da Criméia, que além de cortar as linhas de força, também tentam cortar as linhas suprimento vindo da Rússia.
O governo de Moscou está implantando cabos submarinos de energia pelo estrito de Kerch, para restaurar o suprimento de energia, mas isso pode demorar vários meses. Além disso, os russos também baniram a entrada de bens e produtos ucranianos em seu território, o que não só faz com que Kiev perca seu maior mercado exportador, mas também impede que seus produtos possam ser vendidos na Ásia central, pois essas mercadorias são transportadas pelo território russo.
O ano de 2016 começa um tanto quanto promissor para a resolução do conflito. Putin aparentemente resolveu voltar novamente sua atenção para o conflito, depois de se aproveitar da situação da Síria para desviar o foco internacional da região.
O presidente russo resolveu colocar Boris Gryzlov, um membro de seu conselho de segurança e ex-ministro, como seu representante no Grupo de Contrato Trilateral sobre a Ucrânia, grupo responsável pela negociação dos cessar-fogo Minsk I e II, e que engloba a Ucrânia, a Rússia e a OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa).
O último tratado que foi negociado em Minsk prevê mudanças constitucionais na Ucrânia que possibilitariam a autonomia das províncias rebeldes, e que fossem feitas eleições nas províncias para estipular uma liderança que negociaria com Kiev, além do retorno das áreas sob controle rebelde para as forças ucranianas, e tudo isso deveria ter acontecido até o fim do ano passado.
Tal acordo ainda não foi para a frente pois os ucranianos preferem ter o controle das regiões antes sejam feitas as eleições, enquanto os russos preferem que hajam eleições antes que se devolva as áreas ao governo de Kiev. Porém, no início desse ano, após o presidente ucraniano se encontrar com Gryzlov, ele se mostrou aberto a negociação para finalmente dar um fim ao conflito, apesar da difícil situação política interna da Ucrânia que pode dificultar que se chegue a um acordo rapidamente.
Referências
Fonte da foto: Wikipedia
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