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Coreias: existe solução?

Nos últimos anos a situação de relativa tranquilidade que existia entre as Coreias nos anos 90 e 2000 vem se deteriorando, com a chegada de Kim Jong-un ao poder após a morte de seu pai Kim Jong-il em 2011. Isso ocorre principalmente devido ao aumento de testes de mísseis balísticos e armas nucleares por parte dos comunistas do Norte.

A política de usar seu poderio militar para conseguir vantagens ao barganhar com seu vizinho do Sul e os EUA sempre foi um artifício muito utilizado pelos norte-coreanos pois estes não tem muito o que colocar na mesa além de suas forças militares e sua relação com a China.

Mas, nos últimos anos essa demonstração de poder vem se tornando mais frequente e acirrada, deixando a Coreia do Sul e seu aliados (Estados Unidos e Japão), além da própria China em estado de alerta com o possível desenvolvimento dessa política.

Um breve histórico sobre a(s) Coreia(s)

Após o final da Segunda Guerra Mundial, a Coreia, que fazia parte o Império Japonês desde o início do século XX (1910), devido a derrota dos chineses (que a controlavam desde o século XVII) na Primeira Guerra Sino-Japonesa, foi separada em dois a partir do paralelo 38: o norte ficou sob controle da União Soviética, enquanto o sul sob ocupação dos Estados Unidos.

A partir de 1948, os dois países já estavam estruturados como República Democrática Popular da Coreia no norte, sob controle do líder comunista Kim Il-sung  e República da Coreia no sul sob comando do então presidente Syghman Rhee.

Houveram tentativas infrutíferas de acordo entre as duas Coreias para que ocorressem eleições para presidente e se reunifica-se o país. Essa incapacidade de lidar com a divisão do país gerou grande tensão entre os lados. O norte, decidido a reunificar o país de qualquer maneira (com o apoio da tecnologia militar soviética e dos vitoriosos comunistas chineses) decide invadir o sul, iniciando a Guerra das Coreias, em 1950.

O inicial sucesso das forças do norte foi repelido por um contra-ataque dos sul-coreanos com apoio das forças armadas norte-americanas, após a aprovação da Resolução 82 pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas (com abstenção da URSS) condenando a invasão da Coreia do Sul e a sequente (Resolução 83) autorização de intervenção militar.

A intervenção norte-americana foi vitoriosa e conseguiu expulsar os norte-coreanos até a fronteira com a China, momento em que esta, vendo o seu aliado sofrendo maciças perdas e sem apoio dos soviéticos, decide entrar na guerra com suas tropas.

Os próximos três anos da guerra são marcados por batalhas em torno do paralelo 38 sem nenhum ganho real para ambos os lados, situação que por fim culmina no armistício de 1953, que decretou o cessar-fogo e estabeleceu uma zona desmilitarizada de 4km na fronteira entre os dois países. Até hoje nenhum tratado de paz foi assinado entre os países.

Cenário atual

Como já foi dito anteriormente, desde a chegada de Kim Jong-un ao poder, a tensão entre Coreia do Sul e do Norte vem se acirrando.  O Norte está ameaçando o uso de seu poderio militar contra o Sul cada vez mais nos últimos seis anos. Em 2010 um de seus submarinos foi acusado de torpedear uma corveta da Marinha sul-coreana, que supostamente teria invadido as águas territoriais de seu vizinho comunista [2].

Apesar da conhecida retórica belicista usada como política externa para a obtenção de mantimentos e ajuda internacional já ser algo comum na relação da Coreia do Norte com o resto do mundo, a continuidade do desenvolvimento e os constantes testes de armas nucleares por parte dos norte-coreanos vêm causando grande a tensão entre os países da região e seus aliados.

Em 2015 o líder do país chegou a colocar o seu exército em alerta de guerra após o Sul se recusar a parar de transmitir propaganda política anti-guerra para o Estado vizinho, situação que só foi acalmada com o auxílio dos chineses.

E o mais recente episódio de tensão entre os países se deve aos Estados Unidos começarem um grande exercício militar conjunto com a Coreia do Sul, como respostas aos novos testes nucleares e balísticos por parte da Coreia do Norte, que anunciou ter conseguido miniaturizar suas ogivas para uso nos projéteis que desenvolve.

Acusações de ambos os lados se seguiram, levando ao aumento das sanções por parte do Sul e seus aliados e ao rompimento de todos os acordos comerciais entre os países culminando com a ameaça da Coreia do Norte de usar armas nucleares contra a Coreia do Sul e os EUA em caso de guerra.

Perspectivas para a o conflito

A real possibilidade de um novo confronto massivo entre os dois países, como o ocorrido nos anos 50, tem uma capacidade de mobilização geopolítica que não se vê há muito tempo no cenário internacional. Essa situação, um resquício da guerra-fria, tem o potencial de colocar militarmente Estados Unidos contra a China e acabar arrastando também a Rússia e Japão (devido à proximidade com a região) para o conflito, levando assim os três maiores exércitos do mundo a uma guerra que potencialmente se tornaria mundial, ao fazer com que os aliados de cada um desses tenham que tomar partido.

Uma nova guerra entre as Coreias tem o potencial de ser o estopim de uma mudança no equilíbrio entre as potências mundiais e alterar o status quo. No presente momento já existe uma guerra virtual entre ambos os países, com os ataques iniciais partindo dos norte-coreanos [3].

Porém a situação não é de todo ruim. Tanto os EUA, quanto a China não tem nenhum interesse em um novo conflito estourando na península. Os países são grandes aliados comerciais e a guerra não seria benéfica para ninguém.

Além disso, o ditador Kim Jong-un não é uma unanimidade em seu país. Além de todos os problemas que o país já vem sofrendo (como fome, falta de remédios, combustíveis), ele se vê tendo que enfrentar opositores dentro de seu círculo próximo.

No ano de 2013 ele condenou a morte seu tio e mentor por corrupção e também sua esposa. Em 2015 condenou a morte o Ministro da Defesa por deslealdade e poucos meses depois trocou todos os membros da Comissão Militar Central.

O golpe mais recente a imagem do ditador vem do livro de um antigo espião e embaixador da Coréia do Sul sobre a luta pelo poder em Pyongyang, onde ele diz que Kim Jong-il pretendia passar o poder para um comitê e acabar com o governo hereditário, porém faleceu antes de conseguir colocar a idéia em funcionamento [4]. De modo que quanto chegou ao poder Jong-un se livrou de todos que apoiaram essa proposta de seu pai.

Isso demonstra que o ditador atual está longe de ser uma unanimidade em seu país e talvez este fosse o ponto a ser usado pelos países que pretendem evitar um novo conflito na região. Se a China, seu único aliado, fizesse pressão para a queda do ditador, ele não conseguiria se manter no poder, pois a economia do país depende totalmente do comércio e dos subsídios  chineses .

Felizmente a China vem revendo a sua aliança com os norte-coreanos nos últimos anos, os considerando mais como um risco do que como aliados [5], e condenando veementemente a política nuclear, além de apoiar as últimas medidas de endurecimento das sanções contra o aliado. A total dependência econômica da Coreia do Norte coloca na mão da China as peças para a resolução pacífica desse conflito que já dura mais de sessenta anos.

Referências bibliográfica

[1]http://www.historia.uff.br/nec/sites/default/files/A_China_e_a_Guerra_da_Coreia_1950-1953.pdf

[2]http://noticias.r7.com/internacional/noticias/entenda-o-conflito-entre-coreia-do-sul-e-coreia-do-norte-20101123.html

[3] http://br.sputniknews.com/mundo/20160311/3793084/coreia-norte-usa-hackers-guerra-cibernetica.html

[4]https://www.publico.pt/mundo/noticia/kim-jongil-quis-passar-o-poder-a-um-comite-nao-ao-filho-revela-um-novo-livro-1721243

[5]http://www.ipri.pt/publicacoes/working_paper/working_paper.php?idp=34

Foto: Wikimedia Foundation

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