Dia 30 de Outubro, um “plebiscito” sobre a democracia e a república no Brasil
por Bernardo Monteiro
Nos últimos meses nosso país tem sido a atenção de quase todo o mundo, se fosse pela sua importância regional e internacional já seria natural que isso ocorresse, ou por conta de sua posição estratégica economicamente, recursos naturais, mercado consumidor e exportador de commodities. Mas é preciso observar a realidade, não é exatamente por essas razões que o Brasil tem sido observado de forma tão preocupada por toda a comunidade mundial, há muito mais do que isso em jogo.
Dia 30 de Outubro de 2022 vamos às urnas para o 2º turno das eleições para presidente, serão cerca de 150 milhões de eleitores e eleitoras aptas a votar em um sistema seguro, eficiente, exemplar, inviolável, provavelmente às 22 horas de domingo já saberemos a escolha dos brasileiros. Uma campanha que ficou marcada por poucas propostas e muitas acusações, principalmente entre os dois que restam na disputa (favoritos desde o início). O ex-presidente (de 2003 a 2010), Luiz Inácio Lula da Silva do Partido dos Trabalhadores (PT) e o atual presidente, candidato à reeleição Jair Messias Bolsonaro do Partido Liberal (PL). Como os novos tempos regem as disputas foram travadas muito mais na internet e seus caminhos tortuosos, onde o ódio e a raiva, assim como as “fake news”, dominam o interesse tanto do público quanto do algoritmo.
É de suma importância refletirmos sobre alguns aspectos, o primeiro sobre um pleito onde há uma reeleição. Nesse caso, como o desse ano, a pergunta que a democracia “faz” a sociedade não é qual candidato você prefere, e sim se você, enquanto sociedade, está satisfeita e deseja mais 4 anos do mesmo modelo de governança que está em vigor? É uma sutileza que exploro com vocês aqui: se você está satisfeito como o país foi governado nos últimos 4 anos, sua escolha está feita, do contrário a mudança é um caminho a ser considerado.
Evidente que a opção pela mudança tem seus problemas, suas críticas, principalmente sobre a forma como lidou com o legislativo e a resistência em fazer um “mea culpa” em muitos equívocos. Porém é inegável, com fatos, feitos e números, fora a memória histórica, que Lula não somente deu continuidade ao que fora iniciado com Fernando Henrique Cardoso, como ampliou e melhorou as políticas públicas, transformando-as em algo de Estado e não de governo. Além disso, levou o Brasil a patamares internacionais nunca antes vistos, com extremo respeito da Organização das Nações Unidas, assim como praticamente todos os países, houve de fato uma política externa pragmática e independente, pilares do Itamaraty de Barão do Rio Branco a San Tiago Dantas e Araújo Castro.
Porém não é somente sobre esses fatos que consideraremos nosso voto, secreto, pessoal, intransferível, inviolável, no próximo domingo. O dia 30 de Outubro de 2022, pode entrar para a história, como o dia em que os brasileiros escolheram a democracia e o fortalecimento da república, o respeito às instituições, a constituição, será um plebiscito para saber se os brasileiros estão satisfeitos ou não com a forma de governo do país. Pode entrar para a história também como o dia em que escolhemos a escalada do autoritarismo, do fascismo, de uma política baixa e feita de forma amadora, dos ataques e desrespeitos aos sistemas de três poderes da república, remontado por Morgenthau, como o dia em que decidimos dar todos os poderes nas mãos de um só líder para que continue sua escalada ao regime totalitário de seguidores fiéis.
Como disse o lado da mudança, Lula, possui seus equívocos, mas nunca, desde que o Brasil voltou a ser uma democracia, ou que se tornou uma de fato, em 1988, desafiou e atacou a democracia, a constituição, os poderes estabelecidos, assim como grande parte dos políticos que já foram eleitos. Lula não atacou a democracia e a república nem quando foi injustamente preso (compriu 580 dias na cadeia utilizando sempre dos meios legais e democráticos para se defender) em uma clara armação político jurídica para tirá-lo do pleito de 2018, - tudo desvendado por um hacker de Suzano, que tentava livrar-se de crimes pessoais e que acabou desvendando a maior farsa político jurídica da história do país.
Dia 30 próximo, iremos às urnas para decidir se queremos permanecer na democracia ou preferimos uma escalada ao autoritarismo totalitário fascista de extrema direita; se desejamos tentar mudar os rumos e recuperar o que foi destruído nos últimos 4 anos, dentro das leis e respeitando a república, ou se daremos plenos poderes a uma liderança frágil, que assumidamente defende a ditadura que houve no país, sem qualquer respeito pela liberdade de imprensa; se iremos optar pela entrada de vez nas pautas mais importantes que precisam ser defendidas e restauradas ou se permaneceremos na ilusão do eleitor médio de negacionismos sem sentido e “fake news” de redes sociais; podemos optar pela liberdade religiosa de forma igualitária ou defenderemos que só é certo aquilo que lemos, vemos e ouvimos de algumas religiões ou denominações; escolheremos a paz, a defesa das liberdades civis, as escolhas de cada um, o progresso, ou seremos uma das primeiras grandes nações do mundo ocidental a adotar e chancelar de vez um regime e um líder de extrema direita, que prega o culto a si mesmo.
Nunca o dia 30 de Outubro foi tão importante para o Brasil. E nunca o dia 31 de Outubro, Halloween (no significado tradicional, véspera do dia de todos os santos) terá um significado véspera de esperança, tal qual a leitura de santos ou véspera do significado norte americano, dia das bruxas.
Um forte e demorático abraço.
Bernardo Monteiro é graduado em Relações Internacionais pela UNESA e também pós graduado (MBA) em Relações Internacionais pela FGV-RJ; autor de Para uma Estabilidade Democrática, possui formação como analista político internacional; atua como escritor, analista político, pesquisador e divulgador científico sobre: política brasileira, história da democracia, democracias ocidentais e sociopolítica;
foi pesquisador associado do Laboratório de Simulações e Cenários da Escola de Guerra Naval da Marinha do Brasil (LSC-EGN/MB); foi professor convidado para a disciplina Análise de Política Internacional para a graduação em Defesa e Gestão Estratégica Internacional da UFRJ; foi professor de Análise de Política Externa para o I Congresso de Relações Internacionais (I CONRI); foi palestrante e professor sobre política brasileira, análise política, geopolítica, democracias e cenários prospectivos. Membro do CERES.