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Diplomacia aplicada em crises internacionais

Luis Augusto Medeiros Rutledge*

De tempos em tempos, observamos a aplicação da diplomacia na tentativa de conter graves crises internacionais ou até mesmo pequenas discordâncias entre Estados soberanos. Algumas definições apresentam a diplomacia como o método aplicado pelos Estados nas relações de políticas externas com o intuito de evitar conflitos ou, em termos teóricos, a diplomacia é o uso da comunicação nas relações internacionais. Na verdade, não há um padrão único de diplomacia para a condução das relações internacionais entre representantes ou líderes governamentais. A forma como a diplomacia deve se guiar varia de acordo com os atores e as situações envolvidas nos campos econômico, geopolítico e humanitário. Ao longo da história recente, observamos o uso de abordagens diplomáticas díspares aplicadas nas constantes crises no Norte da África, no Oriente Médio e, mais recentemente, no leste europeu.


Grande parte das relações diplomáticas entre nações soberanas foram construídas ao longo do tempo e possuem um passado histórico importante para a compreensão do momento atual. A atual crise entre Ucrânia e Rússia carrega, além do fardo da guerra, laços históricos e culturais desde o século IX. Especialistas políticos compreendem a singularidade deste conflito com alguns ocorridos no Oriente Médio, onde, num passado não tão distante, a região compreendia um único território e povos que se distinguiam apenas por diferentes dialetos. O presente artigo faz uma análise dos meios diplomáticos utilizados no conflito ucraniano e de seus desdobramentos após a utilização de força militar pelos russos.


No atual estágio da guerra entre Rússia e Ucrânia verificamos que não estamos em meio a uma crise diplomática, mas numa crise da ordem internacional. Por diversas vezes, autoridades da Ucrânia e da Rússia se reuniram em Belarus e líderes mundiais mantiveram contatos com o presidente russo Vladimir Putin sem que a diplomacia atuante surtisse efeito. Alguns consideram um erro diplomático grave a primeira avaliação de que se tratava de um conflito de relações bilaterais com improváveis consequências aos países europeus. O que verificamos tardiamente é que estávamos diante de uma crise internacional sem precedentes e, desde então, acompanhamos uma escalada de ruptura da integridade e soberania territorial de um Estado-membro da ONU.


A diplomacia tradicional foi esgotada. As tradicionais mesas de rodadas de negociações se mostraram infrutíferas diante do líder russo, mais afeito às medidas militares do que diálogos diplomáticos. Líderes mundiais, apenas para citar, a primeira-ministra israelense Naftali Bennett e o presidente francês Emmanuel Macron falharam nas tentativas de evitar uma escala militar sem precedentes e término definido. Os argumentos de que uma guerra no atual cenário de um mundo globalizado e de mercados interconectados seria péssima para todos parecem, aos olhos russos, menos importantes do que invadir um país-trânsito de gás natural para a União Europeia.


Até o presente momento, a diplomacia coercitiva como uma alternativa à guerra também se mostrou ineficiente. A estratégia norte-americana, juntamente com a União Europeia, de ameaças militares somadas à aplicação de bloqueios e sanções econômicas, isolamento político e fechamento de mercados se mostrou insuficiente para conter os avanços militares russos. Uma prova do quanto as opções do Ocidente se encontram limitadas, podem ser encontradas no bloco comercial sólido e desenvolvimentista formado entre Rússia, China e Índia, e alguns países do Oriente Médio, especialmente Irã. A solidez comercial e energética entre estes países permite uma sobrevivência sem a participação europeia em seu comércio exterior.


E, saltar do diálogo diplomático para medidas extremas como uma corrida armamentista parece incompatível com a atual crise. Em tempos atrás, a estratégia de ameaça e uso militar em agressões humanitárias internacionais vivenciadas no Iraque, Líbia e Afeganistão se mostrou eficaz, ao menos para estancar momentaneamente as crises em questão. Porém, a aplicação real da força militar contra os russos poderia ser um prenúncio de uma catástrofe nuclear. Até o momento, parece claro que lideranças dos EUA, OTAN e União Europeia reiteraram seu compromisso com a diplomacia de boa-fé.


Apesar dos fatos, a diplomacia coercitiva continua sendo a única estratégia cabível para persuadir a Rússia. Muitos desafios à tática coercitiva foram vencidos pela Rússia. No entanto, o caminho a ser trilhado é o crescente isolamento de Putin, tratá-lo como uma pária internacional. E, estrategicamente, estabelecer as metas diplomáticas possíveis quando se negocia com o governo russo. No atual momento da crise, não se pode exigir uma retirada total dos militares russos do solo ucraniano, nem a retomada do fornecimento energético russo aos lares europeus. Portanto, devem-se estabelecer objetivos pontuais para almejar algum sucesso. Quanto maior a demanda, menor a chance de o adversário cumprir.


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Referências


· Courtney McBride, “U.S., NATO Reject Intervening in Ukraine,” WALL STREET JOURNAL, https://www.wsj.com/articles/u-s-nato-intervening-in-ukraine-11646428978.


· UKraine war: Russia must withdraw to pre-invasion position for a deal – Zelensky, BBC News, https://www.bbc.com/news/world-europe-61359228.




*Luis Augusto Medeiros Rutledge é engenheiro de petróleo e possui MBA Executivo em Economia do Petróleo e Gás pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Analista de Geopolítica Energética e Membro Consultor do Observatório do Mundo Islâmico de Portugal. Atua como colunista e comentarista de geopolítica energética do site Mente Mundo Relações Internacionais e no CERES - Centro de Estudos das Relações Internacionais. Pós-graduando em Relações Internacionais pelo Ibmec. Possui 16 anos de experiência em Projetos de Pesquisa e Desenvolvimento entre a UFRJ e o CENPES/PETROBRAS. Colaborador de colunas de petróleo, gás e energia em diversos sites da área. Contato: rutledge@eq.ufrj.br


FOTO: Soldados russos em solo ucraniano

Fonte: War On The Rocks

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