Estado Pária, sim. Grupo terrorista, não
Há um tempo se falava que o Estado Islâmico (EI) estava recuando, enfraquecendo. Que os bombardeios internacionais – mal e lentamente, claro – em conjunto com os combates travados pelas milícias locais, em especial os curdos no Iraque, avançavam e começavam a funcionar de maneira mais efetiva.Durante a retomada de Kobani, um dos soldados das brigadas locais disse: “Finalmente eles estão atingindo os locais certos”. A cidade curda que faz fronteira com a Síria se viu livre do EI no começo de outubro de 2014.
Ataques aéreos, feitos pela coalizão liderada pelos Estados Unidos, fizeram com que integrantes do Estado Islâmico deixassem os limites de Kobani. Um outro exemplo desse “enfraquecimento”, ocorreu alguns meses antes, em agosto de 2014 – sem os bombardeios, inclusive. O EI recuou na fronteira com o Iraque, abandonando cidades ao leste da província síria de Deir ez Zor. O movimento ocorreu depois de combates contra membros da tribo sunita Al Shaitat, deixando livre os povoados de Al Koshkia, Abu Hamam e Garanich, além de regiões próximas de Abu Hodrob, Suidan Al Jazeera e Al Yardi Oriental. Pode não parecer nada, mas deve ser levado em conta que o território perdido é, em sua maioria, povoado por tribos e organizações armadas que juraram lealdade ao EI.
Até o começo de 2015 se falava sobre uma possível recuperação razoável do território que estava sobre o poder do Estado Islâmico. Em janeiro, oficiais do exército iraquiano chegaram a afirmar à Al-Jazeera que as tropas curdas e iraquianas expulsariam o EI do Iraque até o fim do ano.
Mas, o ano de 2015 contrariou as expectativas dos analistas, e as coisas parecem estar mudando. Em maio deste ano, o EI tomaou o controle da fronteira entre o Iraque e a Síria, dominando as duas principais estradas entre a província iraquiana de Al-Anbar e a Síria. E, no último dia 26 de junho, ocorrem atentados simultâneos na França, no Kuwait e na Tunísia. Três dias depois dos atentados, foi o Estado Islâmico comemorava um ano do anúncio de sua criação como um califado transnacional. Na época, o grupo se empossava como autoridade religiosa, política e militar.
Hoje, o Estado Islâmico domina boa parte do Iraque, da Síria, já firmou um acordo com o Boko Haram e há suspeitas de ações no Afeganistão e na Malásia. Só na semana passada, tropas egípcias foram atacadas em diversos locais, simultaneamente, e mísseis foram lançados contra Israel.
Esse ressurgimento, após seguidas derrotas, levanta questões sobre o real o poder do EI. A teoria clássica delimita que três fatores são essenciais para a formação de um Estado: A existência de fronteiras e de poder militar para garantir sua segurança, além da capacidade de coletar impostos usados para a manutenção dessa Nação.
Desses três fatores, o questionável seria a questão das fronteiras, pois elas ainda não estão fixadas, mas por razões expansionistas. A capacidade de arrecadar impostos e a força militar podem ser facilmente verificadas. Além disso, há regras bem delimitadas, e fiscalizadas, pelos líderes de cada território ocupado. Também existe uma ideologia, seguida por muitos moradores das áreas dominadas e que faz a sociedade permanecer funcionado (bem ou mal já seria outro debate).
Há a ausência de Estados e forças políticas que se firmem nas regiões e que auxiliem os governo centrais.Tudo isso deve ser levado em conta quando analisamos os movimentos e as influências do EI, já que todos os pontos citados podem mostrar uma parte do poder do califado implantado.
Atuar contra uma organização terrorista merece um tipo de ação, pois ela não possui um lugar fixo e deve ser esperada em qualquer lugar minimamente relevante. Mas como lidar com um grupo que consegue ter este mesmo comportamento, mas ao mesmo tempo, possui uma região sob seu controle e, hoje, tem grande capilaridade e capacidade de convencer pessoas a se unir a ele (por meios violentos ou não)?
Sem nenhuma comparação específica, mas histórias já vividas mostram como influentes aparatos estatais de comunicação, somados a insustentáveis conflitos sociais ou crises econômicas – ainda mais quando esses dois fatores ocorrem concomitantemente -, conseguem ser perigosos.
Problemas desse tipo, que vão se alastrando mundialmente, costumam causar feridas sociais bem profundas e alterações nas esferas de poder. Até o momento temos uma gigante instabilidade no Oriente Médio – não só causada pelo Isis, mas com fortes contribuições -, que também começa a ser vista na África; afeta diretamente a Europa; preocupa seriamente os EUA e levanta questões sobre xenofobia, “islamafobia”, entre outros conflitos sociais.
O modo de combater esse tipo de problema ainda não foi encontrado. Isso fica ainda mais claro quando o integrante do Conselho de Segurança Nacional de Segurança, Ben Rhodes, afirma que o combate ao grupo tem apresentados resultados não muito positivos. Também leva-se em conta que o líder da coalizão, segundo as palavras de de seu presidente, Barack Obama, afirmou que ainda não há um estratégia completa.
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