Lingua Franca (Português/Inglês)
O conceito de um mundo onde todos falam uma única língua sempre foi entendido como uma possibilidade de unificação dos povos, evitar conflitos causados pela má interpretação e, apesar de tudo, para facilitar a interação humana. Bíblico.
Ideias opostas muitas vezes levam a conflitos desnecessários; seja a guerra propriamente dita ou uma troca comercial malsucedida. É nesse contexto que uma ciência como as Relações Internacionais atua. Buscar uma solução pacífica é, com certeza, o mais desejado. E, por isso, o mundo contemporâneo lutou três guerras, mesmo que uma delas tenha sido fria. Aliás, essa última foi justamente sobre ideais, sobre palavras.
Em 1989 o mundo foi finalmente unificado sob uma ideia – comércio livre –, falando uma língua – o capitalismo. Assim, um mundo “globalizado” não apresenta fronteiras para mercadorias e commodities. O Acordo de Bretton-Woods também assegurou que o mercado escrevesse com os mesmos símbolos – dólares estadunidenses.
Com a Internet sempre em evolução, este processo se mostra tão simples quanto possível e fluído. A informação circula a uma velocidade surpreendente, a comunicação ao redor do globo é comum. Não há mais desinformação provocada por dados perdidos em entregas demoradas. Se, por exemplo, há um problema com a filial da Malásia, a sede francesa é notificada quase instantaneamente e com precisão.
O sistema de produção terceirizado, global, funciona. Todos temos um celular feito na China, o montado no Brasil, concebido nos Estados Unidos em nossos bolsos. O mesmo pode ser dito de carros, eletrodomésticos e assim por diante. A estrutura fala a mesma língua, mas nada disso funcionaria se nós, o povo, não tivéssemos um discurso comum, a Lingua Franca.
Todas as supremacias políticas impuseram seus idiomas – grego, latim e agora Inglês. É uma coisa necessária, ter uma linguagem comum; devemos nos comunicar, como todos os seres vivos o fazem, de uma forma ou de outra. Mas este mecanismo raramente é restrito somente à fala. Para utilizar corretamente uma língua estrangeira é preciso entender o significado simbólico das palavras, as ideias que cada verbo, adjetivo e substantivo implicam, caso contrário, funciona tanto quanto o falar um bebê.
Entender a simbologia é partilhar uma cultura comum. A “globalização” dos povos não é necessariamente o modo de produção (ou não só), mas as palavras utilizadas para transmitir essas informações e a cultura contida nelas. Palavras são produção e produtoras de cultura e, como designers terceirizam a produção para outros países, os “designers” da cultura terceirizam-na através da arte, filmes e livros. Mas mesmo idiomas conversam entre si e cada vez mais se misturaram e combinam a línguas nacionais, à nossa própria língua, a qual falamos com termos estrangeiros, com jargões de internet, com diferentes ideias e crenças culturais.
Esse humilde texto não é diferente; você pode lê-lo duas vezes.
Versão em Inglês/ English Version
The concept of a world speaking a single language has always been sought out as means of unifying the peoples, avoiding conflict caused by misinterpretation and, all in all, to facilitate human interaction. Biblical.
Opposing ideas often lead to unnecessary conflict; be it all out war or an unsuccessful commercial exchange. That’s where a science such as International Relations comes in place. Trying to figure a peaceful solution is, by all means, the desired course of action. And for that, the contemporary world has fought three wars, even if one of them was a cold one. As a matter of fact, the latter was precisely about ideals, about words.
In 1989 the world was finally unified under one idea – free commerce, speaking one language – capitalism. Hence, a ‘Globalized’ world shows no boundaries for goods and commodities. Bretton-Woods Agreement also ensured that the market wrote with the same symbols – US Dollars.
With the ever evolving Internet, this process is made as easy and fluid as possible. Information cycle at astonishing speed, communication throughout the globe is common place. No more misinformation due to data lost in a time consuming deliveries. If, for example, there’s a problem with the Malaysian branch, the French HQ is notified almost instantly and precisely.
The outsourced, global production system works. We all have a China-made, Brazil-assembled, US-designed cell phone on our pockets. The same can be said for cars, home appliances and so forth. The structure talks the same language, but none of it would work if we, the people, didn’t have a common speech to, the Lingua Franca.
All political supremacies have imposed their idioms – Greek, Latin and now English. It is a necessary thing to have a common spoken language; we must communicate, as all living beings do, one way or the other. But this mechanism is seldom restricted to speech alone. To properly use a foreign language, one must understand the symbolical meaning of the words, the ideas every verb, adjective and noun implies, otherwise works as much as speaking a toddler’s gibberish.
To understand the symbology is to share a common culture. The globalization of people is not necessarily the mode of production – or rather, not only – but the words used to transmit such information and the culture within. Words produce culture and, as designers outsource the manufacturing to other countries, the cultural “designers” outsource it (the language and culture) through art, movies and books. But even idioms converse and more and more they mix and match with national languages, with our own spoken language, spoken foreign expressions, with internet slang, with different cultural ideas and beliefs.
This humble excerpt is no different; you can read it twofold.
#LinguaFranca #núcleodeestudosmultidisciplinardeRelaçõesInternacionais #NEMRI #construtivismo #Globalismo #PedroCoutinho #NEMRIFESPSP