O Estado Islâmico contra a Sociedade Internacional (Portuguese/English version)
“… aquele que se utiliza sem piedade do uso da força e não recua perante nenhuma efusão de sangue ganhará vantagem sobre o seu adversário se este não agir da mesma forma…” (Carl von Clausewitz)
No início do séc. XIX, Clausewitz já exortava em seu tratado sobre arte militar o uso excessivo da força em frentes de batalha e seu efeito nocivo sobre os atores envolvidos.
Passados quase dois séculos, sua tese seria reavivada com um novo tipo de guerra que usurparia toda e qualquer forma civilizada de embate bélico. Tratados internacionais, convenções, manuais de estratégia foram rigorosamente destituídos de seu valor quando colocados sob a égide da selvageria do intitulado Estado Islâmico (EI). Um inimigo político/militar que não tem patentes nem uniforme, mas se apresenta camuflado em seus atos terroristas pelo mundo atingindo a Sociedade Internacional e os valores que ela representa.
Num primeiro momento deve-se entender como cada ator é representado no cenário global para que se possa digerir este conflito e tentar visualizar uma possível solução para este desequilíbrio.
Segundo Calduch (1991) entende-se como Sociedade Internacional o conjunto de entes que interagem de maneira sistêmica em uma esfera internacional sob a influência de forças profundas.
Essa interação se dá através de relações mútuas, intensas e duráveis no tempo fortalecendo os preceitos de globalização, polarização e harmonização nas relações internacionais.
O EI por sua vez é uma entidade fundamentalista anárquica criada em 2013 como Estado Islâmico no Iraque e na Síria (Isis) e em junho de 2015, com a declaração de um califado, mudaram o nome para Estado Islâmico (EI). A entidade é fundamentalista por estar baseada em uma interpretação literal dos vários livros sagrados que envolve não só o aspecto religioso do Islã, mas também permeia os sistemas econômico, político, cultural e social do estado. É anárquica devido ao fato de não possuir uma autoridade superior reconhecida pela comunidade internacional mesmo tendo Abu Bakr al-Baghdadi como seu principal líder, mas que conduz a suposta hegemonia da entidade de acordo com seus próprios interesses.
Com o intuito de impor sua ideologia pela força, o EI começa a formar seu hegemon a partir do enfraquecimento político do Iraque pós Saddam Hussein e se desenvolveria até os dias de hoje com o aproveitamento da situação cambaleante da Síria, onde uma guerra civil se deflagraria para depor o seu governante Bashar al-Assad, apontado como um ditador pelas forças rebeldes de libertação e, como numa lógica darwiniana, onde o mais forte se impõe ao mais fraco, o EI começa a tomar poder com a conquista de vastos territórios ao norte e oeste do Iraque além de dominar completamente mais de 30% do território Sírio (uma área equivalente a Grã-Bretanha).
Se houvesse a possibilidade de parar a ação do EI nesse ponto, o “conceito” de guerra ainda estaria dentro dos parâmetros históricos onde uma nação se impõe sobre outra pela necessidade de aquisição de poder, territórios, recursos naturais, mas o mundo ainda seria testemunha de diversas atrocidades cometidas por esta entidade que indignariam não só os preceitos do Direito Internacional como também ultrapassariam a mais torpe ideologia de qualquer regime ditatorial.
Diversos crimes de guerra já foram relatados por órgãos internacionais numa interminável lista macabra: tortura e assassinato de prisioneiros, estupro coletivo de mulheres e crianças capturadas em zonas de conflito, destruição de patrimônio cultural milenar, atentados terroristas em solo estrangeiro no intuito de atingir soft targets, disseminação do terror através de vídeos de tortura, decapitações e execuções em massa enviados aos quatro cantos do mundo, ameaças a líderes de governo que são contra a ideologia fundamentalista além é claro do enorme desequilíbrio sistêmico causado à Sociedade Internacional com o massivo deslocamento de refugiados para
A comunidade internacional respondeu rapidamente ao se opor contra essa ideologia insana comunicando ao Estado Islâmico que não vai aceitar sua hegemonia e que vai combater com repudio toda e qualquer forma de desrespeito às leis internacionais alavancando alianças entre países com grande capacidade militar para intervir dentro do território sírio. Mas, a grande dúvida é qual o nível de efetividade que será tomada pela aliança global no tocante ao extermínio da ameaça? Como agir dentro dos preceitos morais, éticos e estratégicos tendo em vista que o inimigo notadamente está fora de qualquer padrão razoavelmente civilizado? Voltaremos aos primórdios da civilização onde não haviam leis nos confrontos e que a força e a violência eram as únicas ferramentas de negociação? A única perspectiva que temos é que a Sociedade Internacional ainda sofrerá muito com esta questão e consequentemente será alvo de uma grande reestruturação em suas ideologias.
ENGLISH VERSION
Islamic State against International Society
“…one that takes no pity on the use of force and does not retreat before any bloodshed gain advantage over your opponent if it does not do the same …” (Carl von Clausewitz)
At the beginning of 19th century, Clausewitz already urges in his treatise about military art, the excessive use of force in battlefront and their harmful effect on involved actors.
After almost two centuries, his thesis it revived with a new kind of war that usurp any civilized form of military confrontation. International treaties, conventions, strategy manuals were strictly devoid of value when placed under the aegis of Islamic State savagery. A political / military enemy that has no patent nor uniform but presents camouflaged in their terrorist acts around the world reaching the International Society and the values it represents.
At first moment, we must understand how each actor it represented on the world stage so that we can digest this conflict and try to visualize a possible solution to this imbalance.
According Calduch (1991), we understood as International Society a set of entities that interact together in a systematic way in an international sphere under the influence of deep forces. This interaction occurs through mutual, intense and durable relationship in time strengthening the principles of globalization, polarization and harmonization in international relations.
IS is an anarchic fundamentalist organization created in 2013 as the Islamic State in Iraq and Syria (Isis) and in 2015, June, with declaration of a caliphate, changed the name to the Islamic State (IS). The organization is fundamental due to be based on a literal interpretation of various holy books that involves not only the religious aspect of Islam, but also permeates the economic systems, political, cultural and social status. It is anarchic due to the fact of not having a higher authority recognized by international community even though Abu Bakr al-Baghdadi as its main leader, but leading the alleged hegemony of the entity according to its own interests.
In order to impose their ideology by force, the IS begins to form its hegemon from the political Iraq weakening post Saddam Hussein and, would develop to this day with the use of the wobbly situation in Syria, where a civil war began to overthrow their ruler Bashar al-Assad, appointed as a dictator by liberation rebel forces and as a Darwinian logic, where the strongest is imposed on the weakest, the IS begins to take power with the conquest of vast territories in north and western of Iraq in addition to completely dominate over 30% of Syrian territory (an area equivalent to Britain).
If there was the possibility of stopping action of IS at this point, the “concept” of war would still be within the historical parameters where a nation imposes itself on the other by the need to acquire power, territories, natural resources, but the world would still witness over several atrocities committed by this entity, indignant not only the precepts of international law, but also would exceed the most vile ideology of any dictatorial regime.
Many war crimes have been reported by international bodies in an endless macabre list: torture and murder of prisoners, gang rape of women and children caught in conflict zones, cultural heritage destruction, terrorist attacks on foreign soil in order to achieve soft targets, spread terror through videos of torture, beheadings and mass executions sent to the four corners of the world, threats to government leaders who are against fundamentalist ideology and of course the huge systemic imbalance caused to International Society with the massive displacement of refugees
The international community responded quickly to oppose against this insane ideology informing the Islamic State that will not accept its hegemony and will fight with all repudiation and any form of disrespect to international laws leveraging alliances between countries with large military capacity to intervene in Syrian territory. However, the big question is what level of effectiveness that will be taken by the global alliance regarding the extermination of the threat? How to act within the moral, ethical and strategic precepts considering that the enemy is notably out of any reasonably civilized standard? Does we back to the dawn of civilization where there were no laws in the clashes and that force and violence were the only trading tools?
The only perspective we have is that the International Society still suffer a lot from this and consequently will be the subject of a major restructuring in their ideologies.

Edson Jose de Araujo:
– Graduado em Economia pelo Centro Universitário da Fund. Sto André com Pós-Graduação em Economia de Empresas pela FEA-USP. Especialista em Finanças Corporativas com mais de 15 anos de experiência em análise de custos e planejamento financeiro com certificação internacional Six Sigma Green Belt e cursos de extensão em Análise de Investimentos em Projetos e Gestão Estratégica de Custos (FGV). Educador na área de Organização Industrial e de Serviços com ênfase em Política e Democracia (Fundação IOCHPE). Cursando extensão em Direito e Relações Internacionais pelo Centro de Direito Internacional (CEDIN) e Política Contemporânea pelo ILB/Interlegis. Pesquisador autônomo nas áreas de Economia e Relações Internacionais. email: edsongn419araujo@gmail.com fone: 011 98959-7795
Referências Bibliográficas:
CALDUCH, Rafael. Relaciones Internacionales. Madrid: Ediciones Ciencias Sociales, 1991.
CLAUSEWITZ, Carl von. Da Guerra. São Paulo: Martins Fontes, 3. ed. 1996.
HOBSBAWM, Eric. Globalização, Democracia e Terrorismo. São Paulo: Companhia das
letras, 2007.
Relações Internacionais: Teoria e História. Sociedade Internacional. p. 2-12. Disponível em:
http://saberes.senado.leg.br/mod/book/view.php?id=22198&chapterid=56576 > acesso em 25
nov. 20015.
Reuters Brasil. Artigo: Estado Islâmico cometeu crime de guerra ao destruir templo romano
na Síria, diz Unesco. Disponível em:
http://br.reuters.com/article/worldNews/idBRKCN0QT1VR20150824> acesso em 01 dez. 2015.
#SyrianWar #crisedosrefugiados #NEMRISP #ConselhodeSegurançadasNaçõesUnidas #War #Islã #núcleodeestudosmultidisciplinardeRelaçõesInternacionais #islãeaviolência #Isis #Sociedadeinternacional #NEMRI #SegurançaInternacional #muçulmanos #Islamismo #EdsonJosédeAraujo #EstadoIslâmico #MultidisciplinaryCenterforStudiesofInternationalRelations #refugeecrisis #Diplomacia #FESPSP #IslamicStateOfIraqueandSyria #cicloperspectivas #PolíticaInternacional #RelaçõesInternacionais #Terrorismo #CiênciaPolítica #NEMRIFESPSP