Os refugiados, o Brasil e o mundo
Sem dúvida alguma, o Brasil está mais uma vez, próximo de mostrar a todos que pode sim, ser considerado o celeiro do mundo, ou a mais famosa alcunha, “berço da humanidade”.
Isso é simples de confirmar. Senão vejamos.
Até o ano de 2.014, o país registrou um aumento de 2.131% nas solicitações de refúgios de estrangeiros, conforme dados do Departamento de Estrangeiros do Ministério da Justiça, entre os anos de 2.010 a 2.014, sendo este cravado por 25.996 pedidos formais. Não só isto, o país foi o que mais recebeu pedidos de solicitações dentre todas as nações pertencentes à América Latina, o que demonstra o compromisso que o Brasil está imbuído, calcado no princípio da solidariedade humana, dando guarida a quem realmente sofre com as mazelas e os maus-tratos, como por exemplo, os refugiados da Colômbia, da República Democrática do Congo, da Angola e por fim, da Síria, este baseado em um número avassalador de 23% dentre todas as solicitações efetivamente realizadas, conforme dados do CONARE (Comitê Nacional para Refugiados).
O ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), que está atrelado a ONU (Organização das Nações Unidas), onde recebe informações sobre a abertura de processos no que tange a solicitações de refúgios, divulgou que até então no Brasil, há refugiados de 81 nacionalidades, devidamente reconhecidos e registrados, o que prova mais uma vez, ou aliás, ratifica a citação descrita no primeiro parágrafo deste artigo, ou seja, que o Brasil é o “berço da humanidade”, o que veio a ser confirmado, inclusive, com a situação da corveta da Marinha brasileira que conseguiu resgatar 220 estrangeiros no Mar Mediterrâneo, quando estava prestes a substituir a fragata brasileira que atua em uma missão de paz da ONU, conseguindo salvar tais imigrantes, sendo 94 mulheres, 89 homens e 37 crianças, sendo 04 destas, de colo, totalmente em estado de debilitação.
Nesse rumo, a própria ONU, afirma que o Brasil é sim, o país mais importante, até o momento, no que diz respeito ao acolhimento legal de refugiados, em todo o mundo, o que deveria também ser reconhecido pelas grandes potências hegemônicas do globo, mas que também estas pudessem efetivamente seguir o modelo e o exemplo do Brasil na recepção dos imigrantes refugiados, em nome da “dignidade humana” e do princípio da “solidariedade humana”, criando uma certa estrutura para o acolhimento das pessoas e famílias inteiras, em nome do amor e da paz.
A política em nível interno e externo deixa o sistema funcionar de forma mecânica, esquecendo-se que ambas são comandadas por seres humanos providos de sentimentos e estes, no momento, tem por obrigação de deixar aflorar a humanidade do ser, mesmo que isto possa acarretar prejuízos em suas carreiras de profissionais da política, mas ouvir um “muito obrigado”, não tem preço, ainda mais nas condições em que as coisas estão ocorrendo, em que o ser humano refugiado, está sendo tratado como um animal irracional abandonado como por exemplo, as travessias de risco para a Europa e as respectivas mortes que acontecem todos os dias de adultos e crianças, basta vermos a situação do pequeno Ayslan Kurdi, que morreu afogado, juntamente com seu irmãozinho e sua mãe, tentando atravessar por mar, clandestinamente, rumo à Europa, fugindo da crueldade que fora imposta a sua família, bem como ao seu povo, ora povo sírio, pelo famigerado Estado Islâmico, ocasionando uma das cenas mais tristes da história, ao visualizar a foto do cadáver da criança em uma praia do mediterrâneo.
Sabe-se, que embora o Brasil se esforce no sentido da recepção, da formulação de processos e no atendimento aos refugiados, ainda há inúmeros problemas a serem resolvidos, como por exemplo, uma política efetiva de estruturação e acompanhamento dessas pessoas no cotidiano e em solo nacional, haja vista, o sério problema, que é notório, é o caso dos haitianos que chegam ao país através do Estado do Acre e este, por não possuir o mínimo de estruturação para a suas permanências, providencia transportes rodoviários em condições tenebrosas para atravessarem o gigantesco país rumo ao ente federativo, denominado São Paulo, conhecido por ser a locomotiva do Brasil, sem perspectivas e garantias de sobrevivência digna nessa selva de pedra, sem ao menos a interferência do Governo Federal para atenuar o sofrimento desses seres humanos castigados pela fome, pela miséria e pela guerra civil em seu país de origem, mas principalmente, pela dor na alma de terem deixado para trás, parentes, amigos e família.
Mas, em meio as dificuldades, inegável que o Brasil procura cumprir o seu papel, pelo menos dignamente, praticando a cooperação com o mundo e é assim que tem que ser, mostrar para o planeta que o ser humano está acima de tudo, independentemente da cor, da crença e da religião, isto não pode ser levado em conta jamais, ainda mais com as crises concomitantes que acontecem no mundo atual, como a crise econômica, a crise de guerras, especialmente, no Médio Oriente, entre alguns países dessa região, como a Síria e o Iraque em face ao Estado Islâmico, visualizando apenas o realismo, uma das teorias das Relações Internacionais que deixa a cooperação às margens de quem efetivamente necessita, como a própria Síria que está sendo atacada constantemente.
Não tenhamos dúvidas de que os precursores dos Direitos Humanos devem rolar em seus túmulos com todos esses fatos negativos que ocorrem no mundo hodierno, com a disponibilidade de tanta tecnologia, pujança e facilidades em rede devido a globalização solidificada, grandes potências hegemônicas, grandes empresas multinacionais, grandes fortunas, não conseguem lhes dar apenas dignidade, solidariedade, sequer lhes dar alimentos e paz, chega-se a conclusão que o problema não é a falta de bem material ou falta de estruturação física, mas sim de falência na crença do próprio ser humano no homem, que é tratado como um mero instrumento de trabalho, um número, pelo capitalismo voraz, assim, reporto-me a Thomas Hobbes, que expressa “homo homini lupus”, ou “o homem é o lobo do homem”, ou seja, regredimos para o Estado Natural?
Referências:
. BBC/Brasil, de 05 de setembro de 2.015.
. Thomas Hobbes. O Leviatã. Editora Abril.
Foto: Marinha do Brasil/ Ministério da Defesa
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