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PERSPECTIVA DA RELAÇÃO SINO-BRASILEIRA SOB O PRISMA DA 4º REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Natasha Melo Carlos¹

É ilusório pensar que a Quarta Revolução Industrial não é um fenômeno corrente. Esse processo, impulsionado pela associação entre a tecnologia física e recursos digitais, já é capaz de permitir uma melhor análise de dados provenientes de mecanismos robotizados, aumento de performance dos parques industriais e otimização do tempo de desenvolvimento e resposta (VILJOEN, 2018). Em países com baixo nível de industrialização, como é o caso do Brasil, esse acontecimento ocorre de forma simples, com pequenas alterações nas estruturas tecnológicas. Por outro lado, nos países líderes dessa revolução, as modificações nos processos de produção, assimilação de conhecimento e comercialização podem ser observadas de forma mais enfática.

Assim como o fenômeno da globalização, a Indústria 4.0 é capaz de promover significativas oportunidades econômicas e criar desafios sociais que requerem engajamento dos governos para adequação da própria sociedade às novas formas de consumo, inovação e de produção (BEM DHAOU, S.; ICKSON MANDA, M., 2019). Além da conversão tecnológica, esse novo panorama industrial modifica expressivamente as relações de trabalho. A mão humana já não é mais o centro do processo de construção, desde a Terceira Revolução Industrial. Em vista disso, no atual cenário, a inteligência artificial (que é o novo termo de troca), a biotecnologia e outras inovações dependem de recursos digitais e tecnológicos mais avançados, fazendo com que o vínculo homem máquina perca espaço para um relacionamento voltado para a busca de colaboração financeira e promoção de parcerias que promovam o desenvolvimento do conhecimento em tecnologia (VIAN, 2019)

Objetivando refletir sob o futuro da relação sino-brasileira no cenário da 4ª Revolução Industrial, salienta-se que o relacionamento construído ao longo dos anos entre Brasil e China, de acordo com Christensen, é caracterizado como estratégico, visando benefícios econômicos e cooperação tecno-científica. Nesse sentido, os termos de troca para o Brasil foram pautados no fortalecimento dos setores de energia, minério e agrobusiness, que adquirem vantagens por meio da variação do preço de bens primários no mercado internacional. No que tange à perspectiva da China, essa parceria vem possibilitando não apenas a exportação de produtos manufaturados, mas também a diversificação de seus investimentos com um viés global e político.

Considerada como um país em pleno processo de expansão, tanto no plano econômico como no militar, a China é também observada como uma grande possível líder nas transformações tecnológicas promovidas pela Revolução 4,0 devido ao seu grande empenho em desenvolver inovações tecnológicas, proteger a propriedade intelectual de seus produtos e investir em pesquisa e desenvolvimento. (YANG, 2019).

No caso do Brasil, a Indústria 4.0 já se faz presente em alguns segmentos estratégicos. De acordo com Gouget et al. (2018), praticamente todos os setores da economia já encontram-se integrados por sensores integrados em rede que permitem a coleta, o processamento, a análise e o armazenamento de dados, além de auxiliar no desenvolvimento de novos serviços.

Apesar do grande avanço brasileiro em direção aos processos digitais, a 4ª Revolução Industrial ainda enfrenta alguns desafios no Brasil devido à dificuldade em viabilizar de forma equilibrada os custos de incentivo ao desenvolvimento e especialização com a promoção de políticas que visam o aumento da competitividade de tecnologia produzida no próprio país (GOUGET et al, 2018). Segundo Buainain (2018), o pleno desenvolvimento da Indústria 4.0 no Brasil está condicionado não só na capacidade de inovação da indústria doméstica, mas também em saber buscar parceiros, formas de financiamento e mão de obra especializada no ambiente global.

Nesse sentido, tanto o Brasil quanto a China (assim como outras economias dos BRICS) reconhecem que ações voltadas para a cooperação econômica, política e na área de segurança possibilitará um aproveitamento mais satisfatório em relação às mudanças trazidas pela 4ª Revolução e criação de melhores estratégias para o desenvolvimento (MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS OF THE PEOPLE’S REPUBLIC OF CHINA, 2018). Com isso, pode-se afirmar um posicionamento positivo em relação à busca de cooperação para adaptação às mudanças da Revolução 4.0. Essa cooperação foi fortalecida na X Cúpula dos BRICS e delineada na Declaração de Joanesburgo em 2018, onde os países estabeleceram a BRICS Partnership on New Industry Revolution (PartNIR).

De acordo com a Declaração de Joanesburgo, “a PartNIR tem o propósito de fortalecer a cooperação dos BRICS no que tange à digitalização, industrialização, inovação, integração e investimento para maximizar as oportunidades e responder ao desafios criados com a 4ª Revolução Industrial” (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, 2018). Essa parceria, no caso da relação sino-brasileira, pode ser fortalecida através da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN) que é um mecanismo de coordenação entre os dois países para a promoção do diálogo em torno dos setores sensíveis às partes e fortalecimento de estratégias de cooperação.

Além da PartNIR, que foi estabelecida recentemente, Brasil e China através de reuniões da COSBAN elaboraram em 2011 o Plano Decenal de Cooperação. Nesse viés de cooperação, o plano objetiva “assinalar as áreas prioritárias e os projetos­chaves em ciência e tecnologia e inovação; cooperação econômica; e intercâmbios entre os povos dos dois lados de 2012 a 2021” (DIVISÃO DE ATOS INTERNACIONAIS, 2012). Pode-se depreender, dessa forma, que os governos reconhecem a necessidade de parcerias longevas e para tanto procuram promover diálogos ministeriais para o estabelecimento de trocas em diversos setores estratégicos.

Nesse sentido, Jaguaribe e Rosito (2018) destacam que o avanço da China em direção à Indústria 4.0 faz parte dos interesses delineados pelo Brasil, pois o projeto chinês:

Contém um projeto de upgrading e retrofitting de setores atrasados da indústria nas áreas de digitalização e robótica, e busca de fronteiras tecnológicas para os setores de energia, transporte (aviação civil, indústria naval, trens rápidos, maquinário agrícola, carros elétricos) e comunicação (semicondutores, Internet das coisas, veículos autônomos, 5G), entre outros, onde empresas chinesas são fornecedores de empresas brasileiras ou já operam no Brasil. (JAGUARIBE, A.; ROSITO, T., 2018)

Conforme observada nas estratégias e vontades perante o fortalecimento do comércio, desenvolvimento e trocas que promovam a inovação, investimento e conhecimento tecnológico, cabe ao novo governo do Brasil e à China intensificarem o diálogo à cooperação incentivando a geração de parcerias público-privadas e o engajamento da sociedade para melhor adequação às mudanças da Revolução 4.0 e inserção de tecnologia nas operações de ambos os países para aumento de competitividade, aumento de produção e redução de desvantagens no panorama internacional.


natasha

1 – Pós-graduanda em Direito Internacional (UNESA) e graduada em Relações Internacionais (IBMR).

BIBLIOGRAFIA BEN DHAOU, S.; ICKSON MANDA, M. Responding to the challenges and opportunities in the 4th Industrial revolution in developing countries. In Proceedings of the 12th International Conference on Theory and Practice of Electronic Governance – ICEGOV2019, 4, 2010,, Melbourne. Australia, 2019. Disponível em: <http://collections.unu.edu/eserv/UNU:7324/p244-Ickson-Manda.pdf&gt; Acesso em: 03 de outubro de 2019. 5

BUAINAIN, A.M., Desafios para a indústria 4.0: além da economia. Diálogos Estratégicos, v. 1, n. 2, p.36-43, 2018. Disponível em: < http://www.secretariageral.gov.br/estrutura/secretaria_de_assuntos_estrategicos/publica coes-e-analise/revista-dialogos-estrategicos/revista_volume_2FINAL_020818.pdf> Acesso em: 04 de outubro de 2019.

BRITO, Alexandra Antonia Freitas de Brito. The fourth Industrial Revolution and the prospects for Brazil. Multidisciplinary Core scientific journal of knowledge. 07 Edition. 02 year, vol. 02. pp 91-96, October 2017. ISSN: 0959-2448. Disponível em: <https://www.nucleodoconhecimento.com.br/business administration/wednesdayindustrial-revolution> Acesso em: 02 de outubro de 2019.

CHRISTENSEN, S.F. Brazil-China bilateral relations: Between strategic partnership and competition from the Brazilian perspective. Disponível em: <http://web.isanet.org/Web/Conferences/FLACSOISA%20BuenosAires%202014/Archive/9ca90f04-e22a-4809-8deb-fb51f1e70546.pdf&gt; Acesso em: 02 de outubro de 2019. DIAS, O. Fourth industrial revolution – will Brazil miss this train? Fundação Fernando Henrique Cardoso, 2018. Disponível em: < https://fundacaofhc.org.br/en/initiativesdebates-en/fourth-industrial-revolution—willbrazil-miss-this-train&gt; Acesso em: 03 de outubro de 2019. DIVISÃO DE ATOS INTERNACIONAIS. Plano Decenal de Cooperação entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Popular da China. 2012. Disponível em: < /http://www.aeb.gov.br/wpcontent/uploads/2018/01/AcordoChina2012.pdf> Acesso em: 09 de outubro de 2019. GOUGET, R.; MONTES, L.G.; PIO, C.; REPEZZA, A.P. A indústria 4.0, o comércio internacional e o Brasil. Diálogos Estratégicos, v. 1, n. 2, p.10-15, 2018. Disponível em: < http://www.secretariageral.gov.br/estrutura/secretaria_de_assuntos_estrategicos/publica coes-e-analise/revista-dialogos-estrategicos/revista_volume_2FINAL_020818.pdf> Acesso em: 04 de outubro de 2019. 6 JAGUARIBE, A.; ROSITO, T. Brasil-China: por uma parceria estratégica global sustentável para o século XXI. MERCADO ELETRÔNICO. The fourth industrial revolution and opportunities for Brazil 4.0. Disponível em: <https://blog.me.com.br/en/english-the-fourth-industrialrevolution-and-opportunities-for-brazil-4-0/&gt; Acesso em: 02 de outubro de 2019. NATIONAL CONFEDERATION OF INDUSTRY. Challenges for industry 4.0 in Brazil. Brazília: CNI, 2016. Disponível em: <http://midias.cebri.org/arquivo/Asia_PositionPaper_Setembro18.pdf&gt; Acesso em: 08 de outubro de 2019. https://bucket-gw-cni-static-cmssi.s3.amazonaws.com/media/filer_public/54/02/54021e9b-ed9e-4d87-a7e5- 3b37399a9030/challenges_for_industry_40_in_brazil.pdf> Acesso em: 04 de outubro de 2019. Cebri, 2018. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. X Cúpula dos BRICS – Declaração de Joanesburgo – 27 de julho de 2018. Disponível em: < http://www.itamaraty.gov.br/ptBR/notas-a-imprensa/19236-x-cupula-dos-brics-declaracao-de-joanesburgo-27-de-julhode-2018-ingles&gt; Acesso em: 04 de outubro de 2019. MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS OF THE PEOPLE’S REPUBLIC OF CHINA. Xi urges BRICS countries to deepen strategic partnership, open up 2nd “Golden Decade”. Disponível em: < https://www.fmprc.gov.cn/mfa_eng/zxxx_662805/t1580846.shtml&gt; Acesso em: 04 de outubro de 2019. PEREIRA, C.; DE CASTRO NEVES, J.A. Brazil and China: South-South Partnership or North-South Competition. Foreign Policy at Brookins, n.26, 2011. Disponível em: <https://www.brookings.edu/wp-content/uploads/2016/06/03_brazil_china_pereira.pdf&gt; Acesso em: 02 de outubro de 2019. VIAN, C. Brazil in the revolution 4.0. CEPEA, 2019. Dispinível em: <https://www.cepea.esalq.usp.br/en/opinion/brazil-in-the-revolution-4-0.aspx?pagina=1&gt; Acesso em: 03 de outubro de 2019. 7 VILJOEN, L. What is the Fourth Industrial Revolution?. IOL, 2018. Disponível em: <https://www.iol.co.za/business-report/opinion/what-is-the-fourth-industrial-revolution14127465&gt; Acesso em: 02 de outubro de 2019. YANG, Y. China takes a leading role in fourth industrial revolution. China Daily, 2019. Disponível em: <http://www.chinadaily.com.cn/a/201907/11/WS5d26cb19a3105895c2e7cee3.html#targ etText=The%20world%20is%20in%20the,having%20unprecedented%20impact%20on %20society.&targetText=He%20said%20one%20of%20the,of%20China%20and%20the %20globe.> Acesso em: 03 de outubro de 2019.

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