Por que o Veganismo não é essencialmente um movimento anti-vacina
Recentemente, o filósofo brasileiro Luiz Felipe Pondé deu uma declaração sobre Veganos em sua coluna publicada pela Folha de São Paulo, os associando ao movimento anti-vacina (dentre outras coisas).
Ainda estamos vivendo em 2021, a pandemia que se iniciou no final de 2019 na China e assolou o mundo todo, contaminando cerca de 90,633,939 pessoas e levando à óbito em torno de 1,942,030 de pessoas.
Nunca foi tão importante falarmos sobre a importância das vacinas e acabar com a desinformação acerca delas. Isso, inclusive no que diz respeito ao Veganismo no contexto de medicamentos, incluindo as vacinas.
No Brasil, de acordo com dados divulgados pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), o número de adeptos a esse estilo de vida em 2019 foi 20% maior em relação ao ano anterior. Isso representa mais de 15 milhões de brasileiros que se consideram Veganos, ou seja: não ingerem alimentos e bebidas de origem animal, assim como não utilizam roupas e acessórios como o couro, lã, e têm um estilo de vida voltado para o boicote a produtos e marcas envolvidos com a exploração animal e testes em animais. Uma vez que todos os medicamentos passam atualmente por testes em animais e produtos de origem animal são usados em sua fabricação, acredita-se que Veganos não utilizam remédios e nem tomam vacinas (também não vacinam seus filhos). Isso não é verdade.De acordo com a própria “The Vegan Society”, grupo que criou o termo “Veganismo” em 1944 no Reino Unido, “Veganismo é uma filosofia e estilo de vida que busca excluir, na medida do possível e praticável, todas as formas de exploração e crueldade contra animais na alimentação, vestuário e qualquer outra finalidade e, por extensão, que promova o desenvolvimento e uso de alternativas livres de origem animal para benefício de humanos, animais e meio ambiente.”
A definição de veganismo reconhece que nem sempre é possível ou praticável evitar o uso de animais, o que é particularmente relevante para situações médicas.
A vacinação é considerada pacto coletivo pois não se trata somente da saúde do indivíduo que a toma, mas também de toda a sociedade. Para que elas funcionem, é necessário que a maior parte da população seja vacinada.
No caso da Covid-19, a vacinação terá um papel fundamental no combate à pandemia e no salvamento de vidas. E como todas as vacinas atualmente são testadas em animais, nesta fase é impossível ter uma vacina que foi criada sem uso animal.
Infelizmente, todo movimento tem suas exceções, e assim como em outras esferas da sociedade, existem os Veganos anti-vacinas. Uma vergonha para o Veganismo, mas não uma exclusividade.
Dados históricos evidenciam que o movimento anti-vacina teve início antes mesmo da primeira vacina ser criada, através dos experimentos de Edward Jenner contra a varíola em 1796.
A partir de então, começaram-se a difundir mitos e histórias assustadoras daqueles que eram contrários à vacinação em massa.
Grupos anti vacinas no século 19 tentavam “alertar” as pessoas sobre produtos químicos tóxicos em vacinas, diziam que as vacinas não funcionavam realmente e incentivavam práticas médicas alternativas, incluindo fitoterapeutas, homeopatas etc. Até fizeram com que algumas celebridades aderissem ao movimento anti vacinas, incluindo George Bernard Shaw.
Alguma semelhança com o que estamos vendo agora no século 21? Cloroquina, Ivermectina, Ozônio…
No século 21, em pleno 2020/2021 Um dos maiores mitos sobre o Coronavírus e a vacina da COVID-19 envolve Bill Gates, fundador da Microsoft.
Através da Fundação Bill e Melinda Gates, ele estaria envolvido em um plano que originou a pandemia da COVID-19 e essa tragédia seria aproveitada para implantar microchips na população mundial. Além disso, cada microchip permitiria controlar as pessoas através de antenas 5G.
Além desse mito que vem sendo compartilhado como fake news extensivamente em grupos de redes sociais e mensageiros, o mais recente é a associação da Talidomida com as vacinas da Covid19
As fake news insinuam que assim como as vacinas “estão sendo aprovadas muito rapidamente” por causa da pandemia, a Talidomida – medicação utilizada para alívio dos enjôos da gravidez nos anos 50 e que posteriormente teria causado má-formação fetal em milhares de bebês – também teria sido aprovada rapidamente pelas agências sanitárias reguladoras da época, por causa da epidemia de influenza asiática de 57. O medicamento tinha a finalidade inicialmente de combater os sintomas de gripe.
O fato confirmado por cientistas é que na época, cerca de 70 anos atrás, não eram necessários tantos experimentos para os laboratórios lançarem os medicamentos. A talidomida, inclusive, foi testada em animais porém não foi feito nenhum teste em animais gestantes.
Mesmo que um novo tratamento humano tenha sido desenvolvido sem animais, as leis e agências regulatórias em todo o mundo atualmente exigem que novos medicamentos e tratamentos sejam testados em animais antes dos ensaios clínicos em humanos. Isso geralmente envolve testes primeiro em camundongos, ratos ou coelhos e depois cães ou macacos. Esses testes são exigidos por lei e, infelizmente, testes que não envolvem animais não são aceitos no momento.
A própria Vegan Society e outras organizações (como a Animal Free Research UK) vêm trabalhando para um futuro em que o papel dos animais na medicina seja eliminado, como as regulamentações para que métodos eficazes de pesquisa que não envolvam animais possam ser usados para transformar drogas em testes em humanos de forma rápida, segura e eficaz. Essas organizações também buscam apoio de parlamentares para garantir que a pesquisa sem animais ganhe um lugar de destaque na agenda política e resulte em mudanças concretas na lei.
No entanto, todas organizações sérias de promoção do Veganismo preconizam que as pessoas cuidem de sua saúde e da sociedade em geral, a fim de continuarem a serem defensores eficazes do Veganismo e dos animais.
“É melhor um Vegano que se vacinou e esteja saudável e vivo”, para lutar pelos que não têm voz e por um mundo mais ético, do que um que não se vacina e morre. Deixa de lutar.
Portanto, o filósofo que fez essa afirmação generalizada sem citar fonte alguma confiável, o fez errôneamente. Veganos não só se vacinam como promovem a saúde da sociedade e do planeta.

Por Carolina Bellodi Coimbra, natural de Campinas e formada em Comércio Exterior pela Universidade Uniter de Curitiba cursando atualmente MBA em Relações Internacionais pela ESPG. Tem uma ampla experiência em outsourcing e tecnologia na área internacional e se interessa pela sustentabilidade e tecnologia conciliando suas atividades com o belo papel de mãe e defensora dos direitos animais. Vegana ativista há vários anos e já participou de várias ações de divulgação dos Direitos dos Animais com coletivos de sua minha cidade. Toda sua família (marido e filhos) é Vegetariana/Vegana há quase 10 anos e tem muitos animais resgatados em casa.Atualmente são 7 gatos e 4 cachorros, todos vítimas de abandono e maus-tratos. Procuram divulgar os direitos dos animais de forma acessível e praticável.
Fontes:
Folha de São Paulo
O Estado de São Paulo
SVB
The Vegan Society
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