Prognóstico do Governo Bolsonaro
Faltando menos de um mês para a posse de um dos presidentes mais controversos da história do Brasil, ainda continua sendo uma tarefa árdua realizar um prognóstico do seu futuro governo, sem levantar as paixões partidárias e ideológicas que dividem o país ou sem ofender a seu séquito de seguidores.
Longe dessa questão banal que trata de simplificar o mundo em apenas dois lados, o intuito deste texto é analisar os acontecimentos recentes e seu possível impacto no sistema internacional, assim como a formação da equipe de governo do presidente eleito Jair Bolsonaro e suas repercussões na economia do Brasil.
Muitas são as questões que geram as escolhas do futuro presidente, assim como o posicionamento de membros do seu governo perante temas considerados polémicos ou interesses divergentes aos seus integrantes. Sendo este o primeiro ponto a ser analisado.
O presidente eleito Jair Bolsonaro deve compreender que ao ser o chefe do executivo, deve governar para a totalidade da população e não somente a parcela que o apoia, da mesma forma deve conciliar os diferentes interesses do país, não sendo sua escala pessoal de valores o parâmetro que utilizado como linha de separação, mas sim aquilo que está estabelecido na constituição. Assim mesmo, seus eleitores devem compreender que ele é um funcionário do povo e não seu patrão, sendo eles mesmos os primeiros que devem questionar suas ações e não aceitar tudo de braços abertos somente pelo fato de que ele seja seu candidato. Essa é a principal diferença entre um presidente democrático e um messias religioso ou ditador.
Embora possa parecer um tema simples, a capacidade de diálogo de um governo é justamente uma das bases que legitima o pacto social e o diálogo político levando o país ao progresso. Saber quando termina o período eleitoral e quando começa de fato atuar como governo é fundamental, sendo necessário haver uma adaptação do discurso à realidade social e demográfica do país.
No caso de Bolsonaro, o que assusta tanto a comunidade internacional como aos opositores é que seu discurso mantem o mesmo tom agressivo usado durante as eleições, motivo que já gerou diversas contradições e mudanças de ultima hora. São justamente essas mudanças de opinião, geradas devido ao discurso passional e por contradições de membros de seu futuro governo, que por sua vez geram um entorno cheio de dúvidas e pouco previsível, o que mantém parceiros históricos do Brasil em alerta e setores da sociedade em grande desconforto.
O mercado interno também reflete essa cautela em relação ao governo de Bolsonaro, embora alguns setores sejam diretamente beneficiados pela formação de sua equipe de governo (tais como o agrobusiness) a indústria nacional por outro lado, teme uma repentina abertura de mercado sem o devido investimento em infraestrutura, o que levaria ao colapso de diversos setores que serão incapazes de competir com empresas estrangeiras que passem a atuar no país, sendo este ponto importante para o próprio bem-estar da população.
A venda indiscriminada de estatais é outro ponto que merece especial atenção, pois a privatização é sem dúvidas uma importante ferramenta de desenvolvimento, porém não todos os recursos e setores são passíveis de privatizar, ao menos não sem causar um forte impacto nos interesses nacionais e até mesmo na estratégia do país, colocando em risco a segurança energética, alimentícia e hídrica da nação. Se o objetivo é levar o país ao desenvolvimento, o controle de alguns setores é fundamental para promover um crescimento homogêneo e equânime e somente depois de alcançar um determinado patamar, avaliar sua privatização. Caso contrário o país e todos seus recursos estarão eternamente a mercê do mercado internacional e do interesse de grande multinacionais ou estatais estrangeiras, não havendo nenhum país na história do planeta que tenha conseguido dessa forma se desenvolver plenamente.
Outro ponto fundamental para analisar o futuro governo de Jair Bolsonaro é a política externa brasileira, já que a mesma é fundamental para manter as bases da economia (instauradas pelo plano Real) sendo a balança comercial uma das colunas do tripé econômico e o IED (investimento estrangeiro direto) uma das principais fontes de recursos financeiros do país.
Também é interessante analisar que o futuro presidente, critica as relações estabelecidas na gestão anterior que se caracterizaram pela diversificação de parceiros econômicos, alegando uma aproximação puramente ideológica, mas consequentemente ignorando as transformações geopolíticas dos últimos 20 anos.
As parcerias do Brasil com os países do Mercosul são essenciais para diversos setores (e começaram já no governo Collor) assim como com os países africanos (que permitiram a internacionalização de grande parte da indústria brasileiras que hoje atuam no exterior) sendo a África um dos continentes que mais cresce no planeta e a ultima região onde existe espaço para a própria expansão do capital, sendo sem duvidas a principal característica do sistema liberal.
Por outro lado a China e demais BRICS não somente refletem uma parceria ideológica, como também estratégia em termos geopolíticos, e por maior que seja a aversão do presidente eleito Jair Bolsonaro ao comunismo, cabe lembrar que a China se autoproclama em sua constituição como um pais comunista e que a mesma é o principal investidor no Brasil.
Um alinhamento com caráter exclusivo embora já tenha ocorrido em outros momentos históricos, poderia resultar em um suicídio econômico não devido ao fato de que seja os Estados Unidos, mas as politicas cada vez mais isolacionistas da gestão Trump.
Por ultimo a saída do Brasil de protocolos como o de Paris ou a não participação da nação em assuntos relevantes como o meio ambiente, reduz drasticamente a ação brasileira no cenário internacional e elimina anos de trabalho nesse sentido e que começaram muito antes nos anos 90.
Sendo assim, o governo do futuro presidente do Brasil possui três desafios fundamentais que nada tem a ver com um posicionamento ideológico, mas com a pura realidade social, econômica e politica do Brasil e do mundo.
Independente do posicionamento ideológico do presidente, o Brasil é um país multiétnico, multicultural e laico, com diversidade de religiões e opiniões, pelo qual é necessário gerar uma convergência entre os diferentes interesses e dialogar com os diferentes setores da sociedade, sem gerar uma polarização (como está acontecendo com os evangélicos) e promover uma conciliação nacional (sem dúvida necessária) o governo deve governar para a totalidade da nação respeitando sua diversidade assim como manda a constituição.
O segundo desafio está relacionado às transformações econômicas que devem ocorrer no país, pois sem dúvidas é necessário implementar mudanças, porém é importante não negligenciar a própria estrutura macroeconômica do Brasil assim como o estágio de evolução dos atores nacionais e sua capacidade competitiva e de transformação. Uma mudança drástica, a exemplo do que ocorreu na vizinha Argentina, pode gerar um colapso produtivo em lugar de uma transformação, sendo vital avaliar o quê precisa ser mudando e o tempo necessário para implementar essa mudança.
O terceiro desafio é um resumo dos pontos anteriores, a forma como o Brasil se apresentará perante a Comunidade Internacional e que sem dúvidas irá afetar não somente o fluxo de investimentos como também a própria atratividade dos recursos que serão apresentados e a entrada de novas empresas e novos atores. Se dizer um país liberal mas atuar dentro de um espectro conservador pode gerar uma serie de ingerências e isolar o Brasil, levando a uma desvalorização generalizada tanto dos seus produtos como de dos seus recursos.
É impossível prever de momento os resultados da futura gestão de Bolsonaro. Atualmente existem grandes desafios e um determinado encanto (chamado na teoria politica de “efeito ganhador” por uma parte da população e do mercado que são típicos em um ciclo de mudanças no governo, mas que acostumam durar pouco, porém de momento e apesar das dúvidas o horizonte não parece muito promissor, ao menos não no que tange ao cenário internacional e a conciliação nacional.

Bibliografía:
O Brasil e o Mundo: a política externa e suas fases. Fagundes, Paulo G.
Como funciona o tripê econômico. Mello, Marcelo.
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