Rússia: reestruturação, realinhamento ou reafirmação na possível ordem mundial?
O saudosismo russo da antiga e extinta União Soviética, faz a Rússia se reestruturar, se realinhar ou se reafirmar?
A forte URSS obteve uma parte gigante do continente asiático após junções geopolíticas e geográficas, antes e depois da queda do Muro de Berlim, transformando-se em uma potência mundial e colocando-se no jogo global, como um dos maiores atores, tendo como carta na manga, a sua pujança militar e nuclear, respectivamente. Após a queda, formou-se no mundo dois blocos, sendo de um lado o capitalismo liderado pelos Estados Unidos da América e do outro, o socialismo, liderado pela URSS (como representante maior), trazendo conflitos épicos entre as duas potências no campo ideológico, travado pela espionagem recíproca e pela corrida espacial.
Ousada ou soberba, a URSS não moveu as peças corretas no tabuleiro de xadrez com os norte americanos, elaborando reformas políticas e econômicas inviáveis para a sua estrutura e superestrutura, fragilizando a sua sociedade, não conseguindo mais manter o seu modelo adotado e o próprio bem-estar social, tornando-se abatida pelo capitalismo que se sobrepôs aos erros e equívocos tomados nos anos 80, por Gorbachev, na implantação da Glasnost e da Perestroika.
Embora na época tenha sido uma tentativa de readequação política e econômica, não acompanhou as mutações internas e externas trazidas até então por aquela ordem mundial, ocasionando a corrosão daquilo que se pretendia quando da sua aglutinação territorial inicial, principalmente do comunismo que sofreu o abate pela introdução de um pouco de democracia (com a inserção da liberdade de expressão em sua sociedade), tendo sido uma tentativa de mudança profunda, mas com medidas perfunctórias de recuperação, com ressalvas da nossa visão analítica, pelo fato de a Glasnost ter sido necessária, haja vista a abertura para o mundo, através de transparência das ações do governo fosse positiva na época para se atingir o respeito das outras nações, mas sem dúvidas serviram de base para que a potência norte americana tivesse acesso ao desconhecido e com isto, agisse ao seu contento.
Após a fragmentação geopolítica e econômica da URSS, ainda remanesceu uma sólida perspectiva de ressurgimento, pois já havia ingressado na OTAN, bem como no Conselho de Defesa da ONU, que lhe proporcionou claras possibilidades de reestruturação, realinhamento, mas em especial, uma reafirmação para um retorno russo como potência triunfante.
Atualmente, a Rússia está em alta, novamente como potência global, pois figura no G8, é considerada ainda uma potência militar e bélica nuclear e tecnológica, tanto o é, que no momento, ainda faz contraponto pesado e frontal no tabuleiro à hegemonia dos Estados Unidos, vide sua linha de ação nas relações internacionais onde mantém aproximação com países renegados pela maioria ocidental como, Venezuela, Coréia do Norte (que não fazem parte das relações negociais americanas), como também seu estreitamento com a Síria, sendo a favor da manutenção do atual governo de Bashar Al Assad (contrariando mais uma vez os EUA que pretendem a sua queda) e por fim, a ocupação da Criméia pela Rússia, após intensos conflitos daquela com a Ucrânia que encerrou com a aprovação do parlamento russo autorizando o envio de tropas ao território (demonstrando força, influência e poder do presidente Vladimir Putin) que resultou na absorção da Criméia aos russos, provocando enorme descontentamento dos americanos que propuseram na sequência, retaliações comerciais e econômicas à Rússia.
Será que a guerra fria realmente terminou?
O mundo assiste ainda vários embates entre os russos e americanos, vejam o caso Wikileaks onde denunciou várias práticas de espionagens praticadas pelos Estados Unidos a vários países e governos (dentre eles, a espionagem no Brasil, sobre a Petrobrás e o governo Dilma Rousseff) contados e provados em detalhes, por Edward Snowden, um norte americano, treinado pela inteligência americana, que revelou toda a prática ilegal de seu país e teve que fugir da esfera de observância da águia, sendo protegido e acolhido justamente pelos russos que ainda lhe dão guarida e na sequência, a título de contragolpe, sofreu um novo revés com a denúncia de doping dos seus atletas olímpicos (conforme denúncia do COI acusa a Rússia, especificamente, o governo Putin de transformação biológica ilegal de seus atletas para participação no evento) “RIO 2016”.
Portanto, como se pode ver, realmente, de forma positiva ou negativa, a Rússia tenta se reafirmar no mundo, mesmo batendo e assoprando, porque ao mesmo tempo em que a Rússia é capaz de agir duramente, como no caso da Crimeia, também é capaz de agir com leveza, como no caso do acordo para diminuição de armas nucleares com os Estados Unidos, governo Obama. Na verdade, a Rússia sempre foi e sempre será um ator relevante, e também uma potência, mesmo que sofra fragilidades internas, como por exemplo, o desequilíbrio do seu PIB, ainda mais se aproximando da China, o gigante vermelho, que é um colosso de poder, o que a faz se reafirmar no mundo globalizado.
Referências
RIBEIRO, Paulo Silvino. “Perestroika e Glasnost: as reformas da URSS que iniciaram uma nova ordem mundial”; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/sociologia/perestroika-glasnost-as-reformas-urss-que-iniciaram-uma-nova.htm>. Acesso em 20 de agosto de 2016.
IANNI, Octávio. A Sociedade Global. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, ano de 1995.
CHOMSKY, Noam. O Que o Tio Sam Realmente Quer, p. 32.
Imagem: O Presidente russo Vladimir Putin participa da 70ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU). Crédito: Un Photo/ Mark Garten
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