Sempre aprendemos muito do desenvolvimento europeu no final da Idade Média, com o Renascimento, conhecido também como a Renascença, com o desenvolvimento da Ciência, da Arte, da Literatura, e do “Humanismo”. Pouco se sabe é da influência oriental neste grande desenvolvimento europeu: desde a formação dos Estados Modernos europeus ao conhecimento científico. Uma parte que ficou apagada na história por motivos, obviamente, políticos.
A era de ouro do Islã, também chamado Renascimento, mas Renascimento Islâmico, foi fundamental para o Renascimento europeu. O intuito aqui será discorrer nesta influência direta e indireta, não só vinda do Islã, mas do oriente de modo geral.
Do século VIII ao VIV, houve um período de grande desenvolvimento no mundo islâmico em muitas áreas do conhecimento e tecnológicos. Neste período, não era Atenas na Grécia, outra cidade ocidental que fervilhava em conhecimento, senão Bagdá que, antes do primeiro milênio, atingiu uma cifra de mais de 1 milhão de pessoas vivendo ali. Nesta cidade surgiu um primeiro protótipo de uma universidade: A Casa da Sabedoria. Seu objetivo era coletar, recuperar, copiar, traduzir textos antigos dos gregos, dos hindus, dos siríacos e persas. Eles não só traduziam, eles também produziam e divulgavam todo o conhecimento científico.
Por exemplo, a matemática foi aprimorada pelos árabes a tal ponto de se creditar alguns conceitos, como o de zero, aos árabes. Porém, diferente dos ocidentais, os próprios árabes tiveram o cuidado de deixarem eu seus escritos que eles só faziam contribuições aos conceitos criados pelos Hindus.
A título desta influência, quando falamos de algarismos, estamos falando dos estudos do matemático Al-huuarizmi, que no latim se tornou Algarismo. A palavra algoritmo também deriva do nome do mesmo matemático, mostrando toda essa rica herança cultural. E outros nomes, como álgebra todos são vindouros desta herança.
Além de Al-huuarizmi também existe Al-Farabi, outro pensador dessa época que deixou sua influência no conhecimento ocidental. Em Portugal, por exemplo, seu nome é usado para dar lugar aos locais que se vendem livros velhos, como os sebos aqui do Brasil. Em Portugal os sebos são conhecidos como Alfabistas. Diz-se que por causa dos estudiosos de Al-farabi, na idade média, que andavam com seus livros velhos.
Al-Farabi, ou Alfarábi, foi um filosofo, músico e matemático, escreveu mais de 100 obras. Além do mais, graças a ele, que traduziu e estudou as obras dos clássicos gregos, como Aristóteles e Platão, conseguimos ter muitas obras desses pensadores revividas na Idade Média, principalmente as perdidas de Aristóteles. Que deu origem ao pensamento escolástico base do período medieval europeu.
A se falar de alguns nomes não se poderia deixar de falar de Avicena, também conhecido como Ibn Sina. Avicena é considerado o principal polímata da Idade de Ouro do Islã. Contribuiu para a alquimia, química, filosofia, ética, matemática, poesia, música, entre outras áreas, e claro, a Medicina, sua principal área de conhecimento com suas obras primas: o Livro da Cura e Cânone da Medicina.
Com a expansão do islã por todo o Oriente Médio, pelo Norte da África, chegou também à Península Ibérica no século VIII, criando Al-andaluz e, por essa região da Europa, foi levado de volta muito desse conhecimento resgatado do mundo antigo e que possivelmente sem essa Renascença Islâmica teríamos perdido muitos de seus conteúdos, foi daí que Aristóteles ressurgiu no velho continente e começou sua influência na escolástica que tomava o espaço da patrística, de influência platônica. Cordoba foi para a região o que Bagdá era para o oriente médio: centro intelectual.
Também foi com a expulsão dos mouros (árabes) e com a Reconquista (processo histórico que durou até 1492) da península ibérica, que se tem a formação dos primeiros Estados Modernos europeus como conhecemos hoje, que foram Portugal e Espanha.
Na música, o violão é um instrumento derivado de instrumentos musicais árabes, os estilos musicais como o Flamenco e o Fado são também provenientes desta influência. A arquitetura como já é sabida desta influência assim como diversas palavras. Há outra influência importante: a de navegação.
A engenharia naval europeia foi fruto desse período e, como se sabe, foi nesse período que Portugal e Espanha dividiram o mundo pelo tratado de Tordesilhas, e que a Inglaterra seria a rainha dos mares. E toda a história do “descobrimento” que já conhecemos. Não só o conhecimento de engenharia naval dos árabes foi o que impulsionou Portugal e Espanha a ganharem os mares: depois da perda da Península Ibérica, os árabes dominaram por completo o mercado no Mar Mediterrâneo, o que fez com que estes países buscassem outra rota para as especiarias da Índia. O resto da história já sabemos. É válido mencionar que a bússola, principal instrumento de navegação, tampouco foi invenção europeia, senão chinesa. Então, desta forma, fica um pouco evidente que até o “descobrimento” das américas foi um evento que teve influência oriental no processo.
No livro de Dan Jones, O Poder e os Tronos, uma nova história da Idade Média, de 2023, o autor diz que todo o desenvolvimento europeu do fim da Idade Média foi graças à bússola, à pólvora e à prensa. Se tomarmos como um axioma esta frase, percebemos que o desenvolvimento europeu foi trilhado graças à herança oriental, uma vez que a bússola e a pólvora são invenções chinesa e até a prensa de Gutenberg dependia do papel que também de invenção chinesa.
Aqui não se tem como intuito desqualificar todo o desenvolvimento europeu, mas apenas mostrar que este desenvolvimento aconteceu através da contribuição de outras partes do globo. Para dar as credibilidades aos povos que normalmente, de forma errônea, são vistos como bárbaros ou são tentados serem apagados da história.
Para saber um pouco mais sobre essa influência islâmica na Península Ibérica, ouçam ao podcast, de Rui Tavares, Agora, Agora e mais agora. O historiador português é magistral em apresentar alguns dos nomes citados no decorrer desse artigo e suas influências deixadas na história do conhecimento.
Desta forma, percebemos que o desenvolvimento do conhecimento humano não é algo do qual se tem base tão somente no Ocidente, mas em uma espécie de dialética, o conhecimento foi se moldando através das épocas e passado de um povo para outro e melhorado. Não só o Ocidente foi responsável por essa evolução, foi parte de um processo que começou muito antes da criação dessas barreiras fronteiriças. O desenvolvimento do conhecimento é de todos e não só ocidental,
Genildo Pereira Galvão
Graduado em Relações Internacionais pelo Centro Universitário IESB. Cursou um semestre do seu curso na Universidad Autónoma de Guadalajara, México. Conquistou essa oportunidade em um programa de bolsas do Programa Santander Universidades, no qual ficou entre os 9 selecionados do processo seletivo de 2017. Iniciou uma Licenciatura em História, em 2021, que trancou para iniciar uma em Filosofia que segue cursando. Trabalhou no Ministério da Educação como Analista Jurídico Júnior pela THS Tecnologia.
Referências
JONES, Dan. O poder e os Tronos, uma nova história da Idade Média, 2023.
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