Conjuntura política e econômica da América do Sul em 2025
- CERES
- há 1 dia
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A América do Sul atravessa, em 2025, um cenário de intensa volatilidade política e incerteza econômica, resultado de um ciclo de polarizações ideológicas, crises institucionais e baixo crescimento estrutural. Nas últimas décadas, a região tem oscilado entre projetos progressistas e conservadores, refletindo a chamada “nova maré rosa” — um retorno de governos de esquerda e centro-esquerda ao poder, embora com características distintas das experiências da década de 2000 (WORLD POLITICS REVIEW, 2024). Essa alternância de poder, somada à fragmentação partidária e ao enfraquecimento das instituições tradicionais, tem produzido um quadro de instabilidade e fragilidade democrática.
O desgaste da representatividade política e os escândalos de corrupção corroeram a confiança nas instituições públicas, impulsionando o surgimento de lideranças outsiders e movimentos de protesto social em diversos países. Em 2024, por exemplo, crises de legitimidade e confrontos entre os poderes Executivo e Legislativo foram observados em países como Peru e Equador, expressando o esgotamento de modelos de governabilidade e o descrédito popular nos sistemas eleitorais (DNI, 2024). Paralelamente, a crescente influência do crime organizado e dos conflitos armados urbanos, como os que se intensificaram no Equador a partir de 2024, adiciona novas camadas de complexidade à crise política, afetando diretamente a segurança pública e a estabilidade dos governos.
No campo econômico, a região enfrenta o que alguns analistas denominam uma “nova década perdida”. O crescimento médio da América Latina e do Caribe está projetado para apenas 2,2% em 2025 e 2,3% em 2026, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL, 2025). Esse desempenho limitado reflete a combinação entre baixa produtividade, desindustrialização, informalidade laboral e dependência de exportações primárias. A escassez de inovação tecnológica e o baixo investimento em ciência e educação perpetuam um modelo de crescimento concentrado e vulnerável às oscilações externas.
A vulnerabilidade econômica sul-americana está fortemente ligada à dependência de commodities — petróleo, minério de ferro, soja e cobre —, cujos preços flutuam conforme o mercado global. Com a desaceleração da economia chinesa e o realinhamento das cadeias produtivas internacionais, países como Brasil, Chile e Argentina enfrentam dificuldades para sustentar suas balanças comerciais. Além disso, a crescente influência da China como principal parceiro comercial da região tem reconfigurado o equilíbrio geopolítico, deslocando gradualmente os Estados Unidos e a União Europeia de sua posição tradicional (LATINOAMÉRICA21, 2024).
Internamente, a maioria dos governos enfrenta sérios desafios fiscais. O alto endividamento, a rigidez orçamentária e a necessidade de manter programas sociais pressionam as contas públicas. Em um contexto de juros elevados e margens fiscais estreitas, equilibrar austeridade e políticas redistributivas se tornou um dilema político central. Países como Argentina e Colômbia exemplificam essa tensão entre demandas populares e limitações macroeconômicas (KPMG, 2025). As reformas estruturais — tributária, previdenciária e institucional — continuam sendo apontadas como fundamentais para reverter o quadro de baixo crescimento, mas enfrentam resistências políticas e sociais.
Em síntese, a conjuntura atual da América do Sul é marcada por um tripé de desafios: a instabilidade política derivada da polarização ideológica e da fragilidade institucional; a persistente vulnerabilidade econômica associada à dependência de commodities; e a necessidade urgente de reformas estruturais para evitar um novo ciclo de estagnação prolongada. A interação entre esses fatores reforça a percepção de que a crise na região não é apenas conjuntural, mas estrutural — resultado de um modelo de desenvolvimento que, embora resiliente em momentos de bonança, mostra-se incapaz de sustentar inclusão social e estabilidade democrática em tempos de turbulência global.

Gabriela Eslabão é historiadora e mestre em Relações Internacionais. Pesquiso América Latina e movimentos sociais da virada do século XX. Há quatro anos trabalho na área de educação, com projetos de recomposição de aprendizagem para crianças e jovens em situação de vulnerabilidade."
Referências:
CEPAL. Latin America and the Caribbean Endures a Prolonged Period of Low Growth: It Will Grow 2.2% in 2025 and 2.3% in 2026. Santiago: United Nations Economic Commission for Latin America and the Caribbean, 2025. Disponível em: https://www.cepal.org/en/pressreleases/latin-america-and-caribbean-endures-prolonged-period-low-growth-it-will-grow-22-2025.
DNI. Global Trends 2040: Latin America Regional Outlook. Office of the Director of National Intelligence, Washington, 2024. Disponível em: https://www.dni.gov/index.php/gt2040-home/gt2040-5-year-regional-outlooks/latin-america.
KPMG. Latin America Economic Outlook Q3 2025. Nova York: KPMG International, 2025. Disponível em: https://kpmg.com/us/en/articles/2025/latam-q3-2025-outlook.html.
LATINOAMÉRICA21. Latin America’s Global Geopolitical Projection. Madrid: Latinoamérica21, 2024. Disponível em: https://latinoamerica21.com/en/latin-americas-global-geopolitical-projection/.
WORLD POLITICS REVIEW. The ‘Pink Tide’ Returns: How South America’s Political Landscape Is Shifting Again. Nova York, 2024. Disponível em: https://www.worldpoliticsreview.com/pink-tide-south-america-politics-economy/.

