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QUARENTA E CINCO ANOS DA REVOLUÇÃO IRANIANA: O PASSADO PERSA NO PRESENTE IRANIANO, UMA DIALÉTICA DA HISTÓRIA DO PAÍS.

Há quarenta e cinco anos acontecia no Irã uma revolução sem igual, conhecida como a Revolução Iraniana, a qual, sob controle do aiatolá Ruhollah Khomeini, que fundou a República Islâmica do Irã, tal qual conhecemos hoje. Antes da revolução iraniana o País era governado pela Dinastia Pahlavi, que governara por 53 anos.


Depois do descontentamento com a forma que Mohammad Reza Xá Pahlavi reinava: buscava uma ocidentalização forçada do Irã, havia forte indícios de corrupção, e ainda reestabeleceu seu poder com apoio dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha depois de perder poderes em 1953, em uma disputa democrática para o primeiro-ministro Mohammad Mosaddegh, o qual tentara nacionalizar algumas empresas de petróleo, e claro, fugia dos interesses dos países ocidentais EUA e UK. Além do mais o Monarca era visto como um autocrata, que não governava de forma democrática e ainda por cima, era denunciado de minar os valores islâmicos. 


Desta forma, vários grupos políticos: os de esquerdas, apoiado pela então URSS, grupos xiitas, liderados pelo Aiatolá Khomeini, e demais grupos se juntaram com apenas um único intuito: derrubar o Xá. O que aconteceu em 1979. E logo em seguida, o líder xiita assumiu o poder e fundou, assim, a República Popular do Irã, um país teocrático. 


A Revolução Iraniana pôs fim a uma tradição monárquica no país que remonta a tempos da antiguidade, com os grandes reis persas: Ciro, o Grande, Dario I e Xerxes, da dinastia Aquemênida, derrubada por Alexandre, da Macedônia, o Grande. Ainda na Idade Média, seus sucessores, os sassânidas, do qual os Xás modernos, remontavam sua legitimidade monárquica.


O Império Persa Aquemênida foi o primeiro grande império que existiu, um dos mais importantes da antiguidade, que deixara um magnifico legado histórico e cultural. Esquecido por muito tempo e sendo estudado de forma deturpada apenas pela visão grega. Hoje em dia sendo estudado por fontes próprias, sendo recontada sua história através de seus próprios escritos, mas não só está sendo revivido no contexto histórico, porém sendo usado como forma de “revolução” pelos jovens iranianos. 


O Próprio Xá usava os grandes reis persas para se legitimar no poder dizia que “Nenhum estrangeiro pode realmente entender o que é a monarquia significa para o Irã. É nosso modo de vida. Sem ela não podemos ser uma nação”, Muhammed Reza Xá disse em uma entrevista em 1971.


Para Loyd (2023) O Xá, nutria de um fascínio gigantesco pelos três principais monarcas arquimênidas, os supracitados, de forma já obsessiva, corroborando para a visão do Rei de que a monarquia era a única força de unificação do povo iraniano. Ainda em 1971, ele também fez uma grande comemoração de 2500 anos de Ciro o Grande não só para demonstrar a grandiosidade de Ciro, mas também para se comparar ao mesmo. 


Porém, com a revolução, o culto a estes grandes nomes passou a ser malvisto pelo líder Xiita. Este afirmava, por exemplo, o título Rei dos Reis, título dos reis persas, como “o mais odioso de todos os títulos aos olhos de Deus”. A Formação do Estado Teocrático do Irâ desencadeou um grande massacre ao passado grandioso do país. Iniciou-se uma cruzada: foi fechado programas de história de universidades, sítios arqueológicos, monumentos importantes, tudo o que poderia gerar culto à antiga história dos persas.


Entretanto em 2016 começara no Irã um movimento contrarrevolucionário o qual busca, através do passado persa, reestabelecer uma nova forma de governo. Neste ano, cerca de 15 a 30 mil pessoas foram ao túmulo de Ciro, O grande, em Pasárgada, lugar até então tranquilo. Os manifestantes gritavam: “o Irã é nosso país!” “Ciro é nosso Pai!” “o governo clerical é tirania!”. Algo perigoso a se fazer num país como o Irã, mas demonstra muita coisa! Mudança de ares.


O Irã hoje é a população mais jovem do mundo, graças aos impulsos de fertilidade feitas pelo governo por conta da guerra Irã-Iraque, século passado. Hoje em dia, mais de 70% da população iraniana tem menos de 40 anos, ou seja, não participaram da revolução que foi de seus pais. Para Llewellyn-Jones (2023) a revolução não faz mais sentido para esta parcela da população. Também a própria religião, o islamismo, exerce pouca ou nenhuma influência nestes jovens e, desta forma, eles buscam novas formas identitárias no passado pré-islâmico do país, mas precisamente no passado áureo dos Grandes Reis Persas. 


Os jovens iranianos estão cada vez mais usando imagens de Ciro, Dario, Xerxes, fazendo tatuagens de aura-Mazda, entidade religiosa da antiguidade, se conectando com histórias do passado persa como forma contrarrevolucionaria ao atual governo iraniano. Onde isto vai parar? o autor do livro Os persas a era dos Grandes Reis, não sabe dizer, mas que já é algo a ser observado, é algo que fica latente. Assim como em 1978 ninguém imaginava a queda da Dinastia Pahlavi, talvez haja, desta forma, também, a iminência de um fim de um governo. 


Os eventos organizados pelo Xá em 1971, para prestigiar Ciro, o Grande foi usado pelo Aiatolá Khomeini para reforçar a necessidade da queda de um governo idolatra, que idolatrava figuras do passado que se julgavam Rei dos Reis, ou seja, infiel a Allah. Agora, a Imagem de Ciro, o Grande, está sendo usada para desestabilizar um regime teocrático cuja governança se baseia através das leis islâmicas. O rei Dario, e muitos outros posteriores a ele, usaram a imagem de Ciro, o Grande, como forma de legitimação de seus reinados. A história vai se fazendo, contudo, o nome do monarca, criador do primeiro grande império mundial, segue vivo, numa dialética na qual seu nome é a tese para reformas ou permeância de um status. 




GENILDO PEREIRA GALVÃO, Graduado em Relações Internacionais pelo Centro Universitário IESB. Cursou um semestre do seu curso na Universidad Autónoma de Guadalajara, México. Conquistou essa oportunidade em um programa de bolsas do Programa Santander Universidades, no qual ficou entre os 9 selecionados do processo seletivo de 2017. Iniciou uma Licenciatura em História, em 2021, que trancou para iniciar uma em Filosofia que segue cursando. Atualmente está trabalhando no Ministério da Educação como Analista Jurídico Júnior pela THS Tecnologia. Membro do CERES.


REFERÊNCIAS


Llewellyn-Jones, Lloyd, OS PERSAS, A ERA DOS GRANDES REIS. 2023.

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