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África na Era da Inteligência Artificial

  • Foto do escritor: CERES
    CERES
  • 28 de mai.
  • 3 min de leitura

O continente africano está diante de uma virada histórica. A recente Cúpula Global de IA, realizada em Kigali, Ruanda, não foi apenas um encontro simbólico, mas um marco prático no reposicionamento da África como protagonista no cenário global da inteligência artificial. Pela primeira vez, um esforço articulado entre governos, setor privado e sociedade civil sinaliza que o continente pretende deixar de ser apenas consumidor de tecnologia para se tornar um verdadeiro centro de inovação e produção.


Esse novo momento ganha contornos concretos com o anúncio da instalação da primeira “fábrica de IA” africana pela Cassava Technologies, em parceria com a Nvidia. A empresa, liderada pelo bilionário zimbabuano Strive Masiyiwa, começará a implantação de supercomputadores na África do Sul. Trata-se de um passo inédito e ambicioso, capaz de romper com a dependência crônica de serviços de nuvem estrangeiros e inacessíveis à maioria dos pesquisadores africanos.


A infraestrutura local proposta pela Cassava é mais do que técnica, é política. Atualmente, apenas 5% dos profissionais africanos da área têm acesso a recursos computacionais adequados. Superar essa barreira significa abrir espaço para inovações genuinamente africanas, ajustadas às realidades do continente, da agricultura de subsistência aos sistemas de saúde pública. Mais do que acelerar o desenvolvimento de modelos de IA, trata-se de garantir que esses modelos reflitam a diversidade linguística, cultural e demográfica africana, historicamente negligenciada em bancos de dados globais.


Nesse contexto, a Declaração de Kigali sobre IA, firmada em abril de 2025 por dezenas de países africanos, reforça o engajamento político e ético com essa transformação. O documento consolida princípios como soberania digital, inclusão, diversidade e sustentabilidade, alinhando-se à Estratégia Continental de IA da União Africana e à Agenda 2063. Mais do que palavras, a declaração se traduz em compromissos práticos: criação de um fundo de US$ 60 bilhões para desenvolvimento de IA, estímulo à formação de talentos, elaboração de conjuntos de dados abertos e promoção de políticas regulatórias integradas.


Claro que os desafios estruturais permanecem. O gargalo energético, a limitação no acesso à internet e a baixa penetração de dispositivos digitais ainda dificultam a democratização da tecnologia. Mas a instalação de supercomputadores em solo africano representa um divisor de águas simbólico e estratégico: é o primeiro grande compromisso de uma empresa africana com o poder computacional de ponta, uma aposta que pode inspirar um novo ecossistema de inovação nativa, com protagonismo africano.


Em tempos em que a inteligência artificial redefine as estruturas de poder econômico, social e político, a África parece determinada a não repetir os erros do passado, aqueles que a colocaram à margem da Revolução Industrial e da era digital. A janela de oportunidade está aberta. Se o continente conseguir sustentar esse impulso com políticas públicas consistentes, cooperação regional e investimento contínuo em talentos, a África poderá não apenas acompanhar a corrida global por IA, mas influenciá-la com suas próprias soluções e perspectivas.


É hora de reconhecer que a inteligência artificial não é um luxo futurista, mas uma ferramenta de transformação presente. E que, dessa vez, a África quer e pode estar no centro do tabuleiro.



João Pedro do Nascimento
João Pedro do Nascimento

João Pedro do Nascimento

Bacharel em Relações Internacionais, com pós-graduação em Políticas Públicas. Atua como editor-chefe de um site especializado em análises internacionais e tem experiência em tradução, mediação de negócios e cooperação internacional. Fluente em inglês e espanhol, já colaborou com empresas e organizações em contextos multilíngues e multiculturais.


Referências Bibliográficas

LEWIS, Nell. Africa’s first “AI factory” could be a breakthrough for the continent. CNN. Disponível em: <https://edition.cnn.com/2025/04/03/africa/africa-ai-cassava-technologies-nvidia-spc/index.html>.


VILLAR, João Pedro. África, o novo hub da IA. RI Talks. Disponível em: <https://www.ritalks.com/post/%C3%A1frica-o-novo-hub-da-ia>.


The Africa Declaration on Artificial Intelligence. Disponível em: <https://c4ir.rw/docs/Africa%20Declaration%20on%20Artificial%20Intelligence.pdf>.



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