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Geopolítica: acordos geoeconômicos entre União Europeia e países do Golfo Pérsico

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    CERES
  • há 3 dias
  • 4 min de leitura

Luis Augusto M. Rutledge

Geopolítica Energética


O atual cenário do comércio exterior com diversos fatores impactando as relações comerciais, com riscos geopolíticos de grande proporção, faz com que novos acordos comerciais sejam acelerados. Em busca de maior amplitude comercial, um acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Conselho de Cooperação do Golfo está sendo costurado. 


A iniciativa faz parte de uma estratégia europeia destinada a expandir as parcerias comerciais com potências regionais influentes em meio a crescentes desafios geopolíticos e pressões comerciais internacionais. Essa retomada das negociações entre o Conselho de Cooperação do Golfo e a União Europeia em torno de um acordo de livre comércio representa um importante passo estratégico para ambas as partes, com implicações econômicas e geopolíticas significativas.


As negociações paralisadas há mais de 16 anos, tiveram sempre alguns entraves que ao longo dos anos impediram a formação de uma agenda de cooperação comercial, a insistência árabe em impor tarifas sobre bens estratégicos, em troca de demandas europeias por maior flexibilidade de mercado e, claro, a instabilidade política do Oriente Médio. 


À luz dos crescentes desafios geopolíticos, impulsionados pela Covid-19, as Guerras Ucrânia-Rússia e Israel-Hamas e as tarifas do governo norte-americano, a União Europeia acredita na diversificação de parcerias tecnológicas e comerciais, principalmente, com países estratégicos em fornecimento de energia para evitar novas rupturas à exemplo do fornecimento de gás russo.


De imediato, a União Europeia abriu negociações bilaterais com os Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita em acordos de livre comércio, abrindo o caminho para os demais países do Conselho de Cooperação do Golfo, visando as fontes energéticas e cadeias de suprimentos. 


Nesta renovada relação comercial se destaca a Arábia Saudita. Após as mudanças geopolíticas desencadeadas pela invasão da Ucrânia pela Rússia e pela contenção ocidental do Oriente Médio e Norte da África, a Arábia Saudita alavancou seu capital energético, financeiro e político para se tornar um ator de influência crescente no atual mundo multipolar. Sem sombra de dúvidas, A Arábia Saudita é um parceiro econômico e diplomático cada vez mais importante para a Europa e desempenha um papel crítico nas conversas globais sobre mudanças climáticas, conectividade e energia.


Não somente os países europeus, mas também líderes regionais e globais têm o entendimento de que a Arábia Saudita é um ator-chave e influente no direcionamento da guerra entre Israel e o Hamas e na busca por uma estrutura de segurança regional nova, inclusiva e de longo prazo.


A partir de um olhar mais abrangente, os novos acordos contribuirão significativamente para apoiar os esforços dos países do Golfo para diversificar seus investimentos estrangeiros, bem como abrir o potencial mercado europeu para suas exportações e permitir importantes parcerias de inovação tecnologia em energias renováveis.


Embora a segurança energética seja uma preocupação urgente, a parceria econômica mais ampla ganhou ímpeto. Os dois lados estão trabalhando ativamente em um acordo comercial há muito discutido, que atualmente está sendo considerado como parte da estratégia mais ampla da União Europeia para fortalecer as parcerias com os principais mercados emergentes. Se for bem-sucedido, o acordo representará um importante passo após anos de negociações e discussões paralisadas.


O Conselho de Cooperação do Golfo é uma força importante na economia global, com um PIB que deverá ultrapassar US$ 2 trilhões em 2025. Um acordo comercial entre os blocos facilitará o acesso aos fundos soberanos do Golfo, que estão entre os maiores e mais influentes do mundo. Esses fundos, conhecidos por suas estratégias de investimento de décadas, são capazes de impulsionar significativamente as perspectivas econômicas da Europa, injetando capital em vários setores, incluindo infraestrutura, tecnologia e energia renovável.


A cooperação política é fundamental para impulsionar o crescimento econômico sustentável em ambos os lados. Pode parecer paradoxal, em termos geopolíticos, uma cooperação com países árabes neste momento. O Oriente Médio testemunha uma instabilidade crescente à medida que as tensões regionais estão a cada dia mais amplas. No entanto, essa convergência entre a União Europeia e os países expoentes do Oriente Médio também enfatiza um interesse estratégico comum na promoção da estabilidade regional e na consecução de um acordo de paz sustentável.


Ao defender a formação do Estado palestino, os dois lados visam mitigar as tensões de longa data, promover a cooperação econômica e de segurança e aumentar a estabilidade geopolítica na região. A forte cooperação política destes blocos influentes destaca a importância de esforços internacionais coordenados para lidar com conflitos complexos no Oriente Médio e ressalta o papel da diplomacia europeia na formação de iniciativas de paz.


As novas configurações geopolíticas, a forte presença global da China e a atual desordenada governança dos EUA, exigem uma estratégia da União Europeia diferenciada e com visão de futuro. Ao adotar uma abordagem multipolar, os dois blocos econômicos podem promover uma ordem regional equilibrada e estável. Esta agilidade estratégica fortalece as relações e influência no meio de dinâmicas globais em mudança. 

Concluindo, uma estratégia geopolítica dinâmica que navegue por acordos multipolares garantirá resiliência em meio a alianças globais em constante mutação. E, parcerias estratégicas com atores globais emergentes reforçam a capacidade de navegar em cenários geopolíticos complexos e enfrentar desafios transnacionais.


Luis Augusto Rutledge
Luis Augusto Rutledge

Luis Augusto Medeiros Rutledge é Engenheiro de Petróleo e Analista de Geopolítica Energética. Possui MBA Executivo em Economia do Petróleo e Gás pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Pós-graduado em Relações Internacionais e Diplomacia pelo IBMEC. Atua como pesquisador da UFRJ, Membro Consultor do Observatório do Mundo Islâmico de Portugal, Consultor da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior – FUNCEX, Colunista do site Mente Mundo Relações Internacionais e autor de inúmeros artigos publicados sobre o setor energético.

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