NECROPOLÍTICA: A LÓGICA DO GENOCÍDIO NO RIO DE JANEIRO
- CERES

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Necropolítica é um conceito filosófico de Achille Mbembe, camaronês. O conceito, que expande a ideia de Foucault, de biopoder, descreve como o poder político decide quem deve viver e quem deve morrer, focando na capacidade de matar como forma de soberania, além, é claro, do controle da vida (o mesmo pensamento de biopoder).
Exemplificando ainda mais o supracitado: a necropolítica é uma forma de poder que transformas Estados para além de administradores da vida (biopoder), mas em um gestor da morte, que decide ativamente quem vai viver e quem vai morrer; as vezes matando, as vezes deixando morrer, as vezes criando territórios de mortes, sempre visando minorias indesejadas.
A necropolítica é uma forma filosófica de explicar as “justificativas” que permitem o Estado a praticar genocídios, como o ocorrido no Rio de Janeiro, recentemente, o qual eu, pessoa negra, pobre, marginalizada, não posso me silenciar: “a omissão não é uma opção diante do terrorismo de Estado”[1]. Até porque, o termo genocídio, aqui se encaixa muito bem, porque essa necropolítica, ou seja, essa política de morte, não é nada aleatória, senão com um foco, um alvo sistemático: a população negra.
Essa guerra contra os negros e pobres no Rio de Janeiro não é de hoje, é bem antiga, é com a expulsão dos escravos para os morros, após suas “libertações” sem direito à moradia, à dignidade, a viver, mas não entremos em delongas, fiquemos no mais recente, as do século XXI: operação no Complexo do Alemão (2007), antes dos jogos panamericanos, chacina do Jacarezinho (2021), a mais letal até a de outubro desse ano, ou no “Ano Terrível de 1993” com a famosa chacina da Candelária e a (23 de julho de 1993): O assassinato de 8 crianças e adolescentes em situação de rua, mortos a tiros por policiais militares enquanto dormiam próximos à Igreja da Candelária, no centro do Rio, e a chacina de Vigário Geral (29 de agosto de 1993): Um massacre onde 21 moradores da favela de Vigário Geral foram assassinados. A chacina foi cometida por um grupo de extermínio formado por policiais militares, como forma de retaliação pela morte de quatro PMs ocorrida na região no dia anterior.
Os corpos no chão, de 28 de outubro, no Rio de Janeiro, é mais uma página nessa longa história de genocídio do Estado do Rio de Janeiro para com sua população negra, o discurso é sempre o mesmo: acabar com a violência, o combate às drogas.
A realidade é outra, é mais estrutural, é limpeza, é política de extermínio, é desumanização e invisibilidade de certos grupos da população, é o preconceito social, é a necropolítica em ação, para limpeza social.
O Estado que no contrato social de Hobbes é o defensor do cidadão, o qual este último abandona seu estado de natureza, e se torna súdito do Estado, para ser protegido, guardado, mas o próprio Estado quebra este contrato, agindo Ele em um estado de natureza, agindo (contra uma parcela da população) de forma racional, matando, atingindo com brutalidade os jovens negros e periféricos, sem dar-lhes oportunidades alguma, apenas o direito de morrer e serem expostos, a céu aberto, em cenas de horror, corpos negros, assassinados pelo Estado genocida, o qual transforma as mortes em troféus, e aumenta a aprovação dos governadores que, sem pegar uma arma, sem dar um tiro são, os verdugos.
A necropolítica é apenas uma das muitas lentes que nos faz enxergar a “megaoperação” do RJ, a mais violenta e sangrenta dos últimos 15 anos, como uma chacina, uma forma de impedimento de que algumas populações vivam, se reproduzam e em especial a população negra, periférica.
Pelo fim do genocídio do povo negro!
[1] Nota de repúdio do Conselho Regional de Psicologia do DF.

Genildo Pereira Galvão
Graduado em Relações Internacionais pelo Centro Universitário IESB. Cursou um semestre do seu curso na Universidad Autónoma de Guadalajara, México. Conquistou essa oportunidade em um programa de bolsas do Programa Santander Universidades, no qual ficou entre os 9 selecionados do processo seletivo de 2017. Iniciou uma Licenciatura em História, em 2021, que trancou para iniciar uma em Filosofia que segue cursando. Trabalhou no Ministério da Educação como Analista Jurídico Júnior pela THS Tecnologia





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