A Expressão como (re)modelação das dinâmicas sociais
O cinema, desde os seus primórdios no final do século XIX, dispõe dos recursos visuais para que propague influências pela comunicabilidade, como expressão social. Todavia, ademais dessa capacidade, possui os poderes simbólicos como desígnio de manipulação, em opressão ou mesmo como veículo para que impulsione os novos olhares aos desafios visíveis nas sociedades. A forma como foi desenvolvido e divulgado ao longo da jornada dos indivíduos faz ligação às forças que moldam a produção e o consumo pelos filmes…
Compreende-se que desde o início do cinema como meio de linguagem, foi aplicável com o ideal de propaganda e manipulações ideológicas. Vide o exemplo referencial do uso no Nazismo, que o aplicou no recurso de divulgação de falácias para um égide social. Nisso, o próprio Joseph Goebbels (Área da propaganda do regime) foi um dos responsabilizados pela criação de filmes que glorificavam a liderança e demonizava inimigos da mesma, os judeus, com especificidade. Consolidou-se horrores pelas “Telas” e, como maniqueísmo.
E de uma maneira mais ampla, os filmes foram usados há décadas para reforço da ideia no domínio, da ideologia comercial, seja baseada na raça, gênero e/ou classe social. Em exemplificação, Hollywood foi analisada pela sua indicação específica de perfis, como em modelos vulgares de personalidades, aparências, mesmo sob estereótipos inúmeros das figuras femininas e sobre as minorias raciais (negras, amarelas). Nisso, vê-se com ênfase uma percepção masculina heteronormativa que objetifica reforçando dinâmicas desiguais.
Sabe-se que manipulações pelas obras cinematográficas são visíveis com as escolhas de narrações e mesmo nas maneiras de projeção. Como exemplificação, os filmes históricos, inúmeras vezes, confeccionam uma versão que favorece as demandas e anseios dos que se acham “vencedores”, com poderes no domínio. Sobre isso, elenca-se inúmeros filmes que maquiam verdades para sobreposição de percepções que endeusam versões com incoerência do que na realidade ocorreu, como o modo de influenciarem novas ideologias.
Porém, quando a universalização do “bom senso” viu-se comum, o cinema abrangeu com poderes, sendo recurso de modificação social. Na hodiernidade, ao longo dos anos, esses profissionais do campo usam o mesmo para reanálise das normas prefixadas, com reflexo sobre as inúmeras desigualdades (sejam sociais, raciais), oferecendo novas percepções sobre o mundo, isso desafiando a narração mais “cômoda” e comercial, com disposição de obras cada vez mais complexas sob diversidade às comunidades mais marginalizadas.
Também serviu como uma nova maneira para que desse voz aos grupos silenciados. E com isso, vê-se com a “New Hollywood”, em específico nos anos 1960, 1970, mobilização que propiciou renovação na forma das narrações, abordando cenários sociais simbólicos e necessários, como a conflagração pelas liberdades, problemas de classe, gênero (...) E mesmo explorando a alienação e as dificuldades da classe operária, sendo precursores de uma nova idealização de impulso social pela expressão dessa linguagem mobilizadora.
No campo das discussões de gênero, como exemplo, na direção de longas Agnés Varda e Akerman foram as pioneiras quando romperam as convenções do cinema mainstream e confeccionaram figuras femininas cada vez mais complexas, com sua própria narração ou desejos ao invés de apenas personalidades com desejos frívolos e secundários, no ideal de composição da demanda de homens principais. E com isso, enxergaram camadas profundas nas composições dos personagens dados como “marginais” e, sem expressão.
Em suma, o cinema hodierno com iniciações como o da mobilização do “Cinema Novo” no Brasil e/ou mesmo “Blaxploitation” nos Estados Unidos, logo avançam como um recurso para que essas comunidades marginalizadas e/ou negligenciadas assim expressem cada uma das suas experiências de forma única e visceral, claro que rompendo com os clichês e personificações estereotipadas confeccionadas pela indústria, propiciando olhares mais verdades sobre suas realidades maquiadas ou mesmo ampliadas pela lupa ideológica (...)
Enfim, como forma de expressão, compreende-se que o cinema não é em essência bom ou mau, mas sim um reflexo dos poderes sob domínio que o usam para opressão, reforço dos seus anseios e personificações alheias, com manipulação ou recurso de modificação de realidades para expansão da percepção do social. Nisso, a jornada dos filmes é quase que uma narração complexa de como esse meio foi aplicado, com referencial simbólico na observação de desigualdades e/ou desafiando normas para os novos olhares globais.

FONTES CONSULTADAS I REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS =
BRASIL, Luiz Felipe de. Cinema Novo: A Era do Cinema Brasileiro. Editora Paz e Terra, 2002.
GOEBBELS, Joseph. A Máquina de Propaganda Nazista. Biblioteca Internacional, 1941.
MURRAY, C. raça, classe e gênero no Cinema. Routledge, 2006.
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