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Política, Fakenews e Eleições: Uma Releitura do Mito da Caverna

Atualizado: 26 de set. de 2023

Genildo Pereira Galvão1


  1. INTRODUÇÃO


O mito da caverna de Platão, escrito há dois mil e quinhentos anos, segue sendo reinterpretado de muitas formas por diversos filósofos e não filósofos. Este trabalho buscará trazer a analogia da alegoria da caverna para o cenário político no Brasil e, em certa medida, no mundo.


Neste clássico, Platão explora a ideia de que existe alguns homens que, por suas curiosidades, buscam sair de suas amarras e vão em busca da luz, da verdade, do novo. Por outro lado, há aqueles que prefere manter-se em suas realidades mesmo que estas não sejam a verdade, permanecendo, portanto, em suas prisões.


O sair da caverna é uma forma de alertar as pessoas para saírem de suas amarras, buscarem a luz, saírem de suas sombras, seus medos, é um chamado a saírem de suas zonas de confortos. Segundo Matos a alegoria significa:


Sair da caverna significa superar os esquemas de alienação e de medo de conhecer a verdade. Há um pouco de verdade em cada pessoa. O ser precisa se libertar das amarras mais escuras de sua mente. O homem é chamado a andar por caminhos novos, é chamado a descobrir o diferente, a retirar de sua mente aquilo que o impede de ser feliz (MATOS, 2021, p. 68 a 78).

Em contrapartida, há aqueles cuja afinidade é maior em continuar preso na caverna, ao sistema, às mentiras e alienados.


Presentemente, com o advento da tecnologia, das redes sociais, da internet de modo geral, cresceu em muito a disseminação de notícias falsas, as fakes news. Nesta conjectura, a disseminação de mentiras se tornou forma de se fazer campanha política.


Um político que saiba falar bem, que tenha a capacidade de se comunicar bem, que tenha persuasão, que possa ganhar fãs, votos e um apoio de modo geral, pode usar


desta questão para induzir seu eleitorado a sua ideação política projetando sombras (mentiras) nas paredes (redes sociais) da caverna de seus eleitores.


1 Graduado em Relações Internacionais, Graduando em Filosofia.


  1. O MITO DA CAVERNA


O mito da caverna ou alegoria da caverna, criado por Platão, trata-se de uma Fábula na qual se é apresentada por uma possível conversa entre Sócrates, Adimanto e Glauco. Consiste na ideia de que algumas pessoas viviam dentro de uma caverna, ou melhor, estavam presas, pois encontravam-se acorrentadas desde pequenas e não tiveram oportunidade de conhecer uma outra realidade além daquela, a apresentada na caverna.2


Havia um muro alto o qual através dele passava pouca luz e, por meio desta, homens externos projetavam sombras, barulhos, que assombravam os homens dentro da caverna, os aterrorizavam. Em todas suas vidas, estes homens viam tão somente esta realidade3.


Desta forma, fica evidente que para estes prisioneiros era, portanto, a única realidade existente por todas suas míseras vidas. Até que algum dia um deles conseguiu se libertar, saiu da caverna, viu a luz, conheceu outra realidade e se sentiu na incumbência de voltar e contar-lhes o que viu e tentar trazer seus irmãos para a luz, pois ainda estavam presos nas trevas, nas sombras4.


Ao voltar, o liberto descreve as maravilhas vistas fora da caverna, outra realidade além das ilusões projetadas na parede da caverna, entretanto os demais não conseguiam acreditar na realidade de fato, zombando assim daquele que lhes trouxera as boas novas, daquele que havia presenciado a luz, a verdade. Assim, logo o matam!5


2 fonte: A República 6° ed. Ed. Atena, 1956, p. 287-291


3 Idem

4 idem

5 idem

  1. DAS CAVERNAS MODERNAS


O discurso sempre foi uma forma de persuasão social. Desde a Grécia Antiga, por exemplo, houve a busca pelo domínio desta arte. Os sofistas, do tempo de Protágoras e Górgias buscaram aprimorar tal conhecimento. Posteriormente, começando por Platão, a ideia do sofista passou a ser percebida de uma forma um tanto mais próximo dos que os políticos atuais fazem: usar todos os meios possíveis para o convencimento daquilo que lhe é favorável, mesmo que não seja a verdade, mas apenas porque aquilo lhe convém (CONTRERAS, 2013).


Na atualidade, a qual temos informações vindas de todas as partes, através da internet e sendo produzidas por qualquer um, em qualquer meio, no qual não se segue regras de checagens e verificação dos fatos, um político bem articulado, com uma forte influência, através de conteúdos digitais tais como: WhatsApp, Telegram, Instagram, Facebook, dentre outros, pode controlar a opinião pública através de informações falsas e propagação de fake news (MEYOHAS, 2019).


Ou seja, o ator político, que está preocupado apenas em se eleger, é a personagem da alegoria acima citada, que fica atrás do muro, nesse caso, do outro lado da tela de seu computador, e controla a sombra, as imagens, os sons, que passam pelo muro (notícias falsas) que são projetadas nas paredes da caverna, atualmente, estas paredes, que se transformam em imagens, sombras, para nos controlar, são nossos dispositivos moveis: celulares, tablets, PCs, notebooks etc.


Muitos estão nestas cavernas (redes de fake news em grupos de WhatsApp e Telegram, por exemplo) e acreditam veemente que aquela é a realidade, que são os fatos, e nada além do que se aparece nas paredes das cavernas podem ser real. Ali se torna seu mundo, sua bolha.

Desde as eleições nos Estados Unidos, em 2016, na qual Donald Trump foi eleito Presidente e as posteriores em outros países como na França e até mesmo no Brasil, foi ampliado o debate deste problema de disseminação de notícias falsas e os seus efeitos na opinião pública nas democracias mundo afora. É evidente o perigo que as fakes news

geram durante as campanhas eleitorais é grandíssimo, pois distorcem as informações prejudicando os debates de ideias e propostas de candidatos6.


Desta forma, as democracias estão sofrendo ataques em suas essências, pois está desaparecendo a noção de uma comunidade direcionada ao entendimento. Nas últimas eleições, as fakes news foram fortemente usadas, fazendo com que a ideia de verdade se diluísse perante convicções próprias, alimentadas por interesses políticos através dos aparatos das redes sociais, por plataformas digitais, deixando fortes sequelas na nossa frágil democracia, desestabilizando as instituições democráticas de direito de nosso país e do mundo (PINHEIRO, 2021).


  1. CONCLUSÃO


Percebemos que mesmo depois de tanto ouvirmos a história do mito da caverna ainda seguimos em nossas cavernas, presos em nossas bolhas, sendo enganado por outras pessoas que nos espantam com sombras, que distorcem a realidade do mundo para que enxerguemos a realidade que eles possam nos controlar.


Devemos sair das cavernas, das ondas de mentiras, das deturpações dos fatos. Devemos ser nossos senhores, conhecedores de nós mesmos para assim conhecermos nossas realidades.

Devemos nos instigarmos a sair das cavernas e buscarmos diálogos, comunicação eficaz, para assim sermos mais fortes e mesmo que corramos o risco de morrermos, devemos voltar à caverna, para que busquemos libertar nossos irmãos que estão acorrentados, devemos buscar, a todo custo, um reestabelecimento da ordem democrática de direito, reforçar que existem verdades e mentiras, notícias reais e falsas, devemos superar a ignorância, levar luz às trevas.


Só estaremos todos livres destas cavernas quando não houver polarizações políticas que coloquem em risco nossas democracias, só podemos dizer que estamos livres destas cavernas quando o grito de liberdade não vir seguido de uma ambígua solicitação de intervenção militar.


Para fugirmos de vez da caverna temos não somente que encontrarmos a luz fora da caverna, mas sermos a luz dentro de qualquer escuridão.


Genildo Pereira Galvão

Graduado em Relações Internacionais pelo Centro Universitário IESB. Cursou um semestre do seu curso na Universidad Autónoma de Guadalajara, México. Conquistou essa oportunidade em um programa de bolsas do Programa Santander Universidades, no qual ficou entre os 9 selecionados do processo seletivo de 2017. Iniciou uma Licenciatura em História, em 2021, que trancou para iniciar uma em Filosofia que segue cursando. Trabalhou no Ministério da Educação como Analista Jurídico Júnior pela THS Tecnologia.


REFERÊNCIAS


CUADROS contreras, Raúl. Sofística, retórica y filosofía. Prax. filos., Cali, n. 37, p. 75- 93, dezembro de 2013. Disponível em

<http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0120- 46882013000200004&lng=en&nrm=iso>. acesso em 12 de novembro de 2022.


MATOS, Lucas Pereira. Revista Pandora Brasil – Número 34, setembro de 2011 – ISSN 2175-3318 A alegoria da caverna e seu mito hoje, p. 68-78.


MEYOHAS, Matheus Reis de Albuquerque. Fato ou Fake: a Agência de Checagem do Grupo Globo nas Eleições 2018. Orientadora: Cristiane Henriques Costa. Monografia (Graduação em Comunicação Social – Jornalismo). Rio de Janeiro: ECO/UFRJ, 2019.


PINHEIRO, Muriel Felten. INTERVENÇÕES PRIVADAS NA COMUNICAÇÃO

PÚBLICA DO GOVERNO DE JAIR BOLSONARO: os vieses moralistas e religiosos. Dissertação de Mestrado.

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