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A Guerra na Palestina numa Perspectiva do Pensamento de Fanon: A Violência como Superação da Violência

Frantz Fanon foi um pensador martinicano, nascido em Martinica (Colônia Francesa no Caribe). Ele se formou em medicina, foi um psiquiatra, filósofo e revolucionário, que lutou na Guerra sangrenta da Independência da Argélia, contra a França. Suas duas obras mais célebres são “Os Condenados da Terra”, que se tornara conhecido por conta de o prefácio de seu livro ter sido escrito por Jean Paul Sartre, e pelo “Pele Negra, Máscaras brancas”. Ambas as obras abordam questões raciais, de colonialismo e descolonização. 


As ideias deste Pensador influenciaram muitas organizações políticas em várias partes do mundo que buscavam liberdade, como por exemplo, a Frente de Libertação da Argélia, a qual Fanon fizera parte e lutou contra os franceses numa das mais violentas guerras de independência do continente africano. Seu trabalho continua a ser uma referência importante para acadêmicos, ativistas e movimentos sociais que lutam contra o racismo, a opressão e a injustiça. Uma de suas ideias era que para o colono se livrar da opressão, deveria, também, usar da mesma violência de seu opressor, colonizador, para se libertar: “O homem colonizado se liberta na e pela violência”, argumentou o autor.


Fanon defendia a necessidade de uma revolução radical para a libertação das populações oprimidas, colonizadas e, diferente de muitas visões pacifistas, e por isso para muitos, visto com certa repulsa, via a violência como um meio legítimo de resistência contra toda opressão colonizadora. Como para ele, a colonização é um processo violento o qual desumaniza o colonizado e que nega seu passado, sua essência e seus valores, o colonizado tem na violência uma resposta aos traumas causados pela colonização, desta forma, a violência é uma forma de reconquistar a humanidade que foi perdida. Esta perspectiva foi adotada por muitos movimentos anticoloniais que viam a luta armada como um meio de alcançar a autodeterminação e a independência.


Partindo deste pressuposto, podemos analisar a Guerra na Palestina como uma forma legal de uma tentativa de libertação de um povo oprimido, que segue sendo dizimado com extrema violência por parte de Israel no decorrer das últimas décadas, e que agora chega em sua maior escalada. 


Se o colonialismo é violência pura, argumentava o pensador, a resposta deve ser violência. Se o colonizado se vê encurralado pela miséria, pela fome, se se vê preso, violentado física e mentalmente, vendo sua história se apagando, perdendo seu território, para Fanon “Progressivamente e de maneira imperceptível, a necessidade de um enfrentamento decisivo se torna urgente e é experimentada pela grande maioria do povo”.


O que a Palestina faz não é terrorismo, é um grito desespero. A violência que o povo palestino causa em Israel é exclusivamente uma resposta à violência causada por este colonizador, opressor e violento Israel. 


No livro Os Condenados da Terra, Fanon comenta que “num mundo colonial a afetividade do colonizado se mantém à flor da pele como uma chaga viva que evita o agente casuístico” e que por causa disso “o psiquismo retrai-se [...] despeja-se em demonstrações musculares” e como visto nesta guerra, toda essa angústia vai para os punhos, o qual, a qualquer momento, se torna “histeria” caos, desta forma, gerando uma violência, a qual não é gerada de forma natural, senão um efeito de toda a violência sofrida. 


Finalizando: o que se chama de terrorismo por parte da Palestina não passa tão-somente do uso de uma violência de forma legitima (quando se tem em conta todo o processo histórico e político da questão da Palestina) como forma de superação da violência que Israel causa na colonização do território palestino. A violência que Israel se queixa de ser terrorismo é, na verdade, a luta de um povo em busca de sua liberdade de um Estado genocida. 



GENILDO PEREIRA GALVÃO, Graduado em Relações Internacionais pelo Centro Universitário IESB. Cursou um semestre do seu curso na Universidad Autónoma de Guadalajara, México. Conquistou essa oportunidade em um programa de bolsas do Programa Santander Universidades, no qual ficou entre os 9 selecionados do processo seletivo de 2017. Iniciou uma Licenciatura em História, em 2021, que trancou para iniciar uma em Filosofia que segue cursando. Atualmente está trabalhando no Ministério da Educação como Analista Jurídico Júnior pela THS Tecnologia. Membro do CERES.


REFERÊNCIAS


Bernardino-Costa, J. (2016). A prece de Frantz Fanon: oh, meu corpo, faça sempre de mim um homem que questiona!. Civitas: Revista De Ciências Sociais, 16(3), 504–521. https://doi.org/10.15448/1984-7289.2016.3.22915.


FANON, Frantz. 2010. Os condenados da terra.


FANON, Frantz. 1983. Pele negra, máscaras brancas. 



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