A Superpopulação do Planeta, Um Problema Contemporâneo, Mas um Debate Antigo: A Causa da Guerra de Troia
- CERES
- 26 de mar.
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Desde o século XVIII, no círculo acadêmico e científico, surgiu um debate sobre a superpopulação mundial, iniciada com estudos do matemático Thomas Malthus, considerado o pai da demografia. Desde então surgiram diversas informações e desinformações sobre a temática e algumas soluções bem problemáticas. Que a população aumenta é um fato. E até 2086 há previsões que a população mundial passe dos 10 bilhões de pessoas. Isto porque nos últimos anos a população vem crescendo, mas não em ritmo acelerado como se imaginava.
Já surgiram fake News de que Bill Gates sugerira como solução para o problema a dizimação de 3 bilhões de pessoas. Ou que Henry Kissinger, ex-secretário de Estado dos EUA, afirmou ser necessário uma vacina para controle populacional. Ou até que a primatologista Jane Goodall, havia sugerido reduzir a população a de 500 anos atrás.
No cinema e em animes também há o uso desta problemática como enredo: em Os vingadores, Thanos quer reduzir a população à metade, não só da terra, mas do universo. E consegue. Em Dragon ball, famoso anime japonês, na edição Dragon Ball Super, Zamasu, um personagem mítico, acredita que os humanos são um problema e deveriam ser dizimados para que o mundo viva em harmonia.
Agora algo interessante e pouco sabido é que na literatura clássica antiga, já havia relatos que demonstrava a preocupação dos deuses, em especial de Gaia, a Mae-terra, e por causa desta preocupação, a pedido dela, dar-se-ia início a uma guerra superfamosa, a Guerra de Troia. Sim, a Guerra de Troia, conhecida pelo relato de Homero foi iniciada como forma de reduzir a população a pedido da deusa e vó de Zeus, Gaia.
A Guerra de Troia é sem sombra de dúvidas uma das mais celebres histórias que a riquíssima mitologia grega nos agraciou. Com seu relato mais precisamente em Ilíada, escrita por Homero. Ilíada vem de Ílion, que é outro nome para os troianos. Para se ter uma abrangência maior da magnitude da história, ter-se-á de ler A Odisseia, que conta a História de Odisseu, em latim Ulisses, um dos heróis gregos. E Eneida, que conta a história de Eneias, escrita por Vírgilio, romano, que tenta trazer a magnitude do mito para o mito fundador de Roma, o qual relata a história de Eneias, guerreiro troiano que escapa da destruição de troia e que é destinado para a fundação de uma nova nação: Roma. Então as 3 histórias são fundamentais para entender toda a estrutura do mito.
Voltemos à ideia proposta neste artigo: o motivo da Guerra de Troia.
No diálogo de Platão intitulado de Protágoras, será apresentado uma versão do mito de Prometeu, aquele que dá aos humanos o fogo e as técnicas. Depois de Zeus ter pedido para que se criassem seres vivos para dar uma diversão aos deuses do Olimpo, Epimeteu, irmão de Prometeu, distribuiu todas as habilidades apenas aos animais, deixando assim, os humanos sem habilidades para se desenvolverem e se protegerem (como por exemplo, asas para os pássaros voarem, garras para predadores e assim por diante) mas os homens ficaram pelados e sem algo do gênero. Logo, Prometeu, para resolver este problema, rouba o fogo e as técnicas para dar aos homens um meio de sobreviverem e de se desenvolverem. O que, como é sabido, gera a raiva de Zeus, pois isso deu poder aos homens para se “igualarem” aos deuses, o que faz com que Zeus castigue Prometeu com seu famoso castigo, e os humanos com o jarro de Pandora e todos os males do mundo que dele saíram.
Com este problema os homens saem do paraíso grego, mencionado por Hesíodo, em sua obra Os Dias e os Trabalhos, o qual ele descreve a harmonia que os homens viviam antes deste castigo.
Então, para se alimentarem, para sobreviverem, os homens vão ter que começar a extrair o alimento da terra, e não os terão dado como antes. Com isso, e com a técnica roubada de Atena, (sim, Atena era a deusa da Guerra, da Sabedoria e das Técnicas) o homem começa a explorar a terra, e além de explorar, ele começa a se reproduzir de tal forma que Gaia vai reclamar a Zeus que os humanos lhe estão causando problemas. Ela já não aguenta mais o peso de levá-los em si. E então Zeus decide agir e causa uma Guerra, a Guerra de Troia para diminuir a superpopulação. Bem extremo!!!
Então Zeus decide agir: cria uma situação, (que não darei spoiler, ter-se-á de ler as obras para entender tudo mas terei de dar uma resumida) e que coloca Páris, príncipe de Troia, em uma situação da qual ele tem que escolher a mais bela do Olimpo, depois de Eris, Deusa da discórdia, jogar o Pomo da Discórdia (uma maçã dourada) num evento dizendo ser para a mais bela, o que gera a briga entre Hera, Afrodite e Atena. Páris ali decreta seu fim e o fim de Troia ao eleger Afrodite a mais bela.
Todos sabemos um pouco da Guerra de Troia, e seu fim com o famoso Cavalo de Troia, evento que já nem é narrado nas obras de Homero, senão em Eneida, obra de Virgílio, romano, que escreve Eneida para validar o mito fundador de Roma nos mitos do antigo império grego. E por isso a importância de se ler não só Ilíada ou a Odisseia, mas também Eneida.
O debate sobre superpopulação do planeta, como é percebido nesta obra, é bem antigo, mais antigo ainda que o próprio mito (ou não mito?) da Guerra de Troia, pois, assim como a bíblia, que tem muitas de suas histórias inspiradas numa, ou talvez a obra literária mais antiga que se tem relato: A Epopeia de Gilgamesh, Homero também se inspira neste poema épico que, data de 2100, isso mesmo, 2100 antes da era comum. Ou como preferir, antes de Cristo. Que já abordava a questão.
Olhando por essas lentes, parece que sempre soubemos que seríamos um problema ecológico para o planeta. Um problema real, pois somos muitos, bilhões, num planeta que já está sofrendo em demasia com nossos avanços técnicos que causam extração em massa de recursos naturais escassos.
A Preocupação de Zeus, quando Prometeu deu a Tecnica aos homens nunca foi tão real e hoje vivemos em uma situação da qual, pela técnica desenvolvida por nós, que vem sendo aprimorada desde que nos tornamos o homem sábio, Homo sapiens, nos leva, também, à nossa extinção. E, claro, a superpopulação, por mais que estamos recuando em questão de aumento populacional também é um problema ecológico sério. Esperemos que encontremos soluções melhores que as apresentadas na ficção e por Zeus.

REFERÊNCIAS
Ferry, Luc. Mitologia e Filosofia: O sentido dos grandes mitos gregos. Tradução de Idalina Lopes. Petrópolis: Editora Vozes Nobilis, 2023.
Hesíodo. Os Trabalhos e os Dias. Tradução de Christian Werner. São Paulo: Hedra, 2013.
Homero. A Odisseia. Tradução de Frederico Lourenço. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
Homero. A Ilíada. Tradução de Frederico Lourenço. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
Platão. Protágoras. Tradução de Ana da Piedade Elias Pinheiro. Lisboa: Relógio D'Água Editores, 1999.
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