Do Ventre da Mãe à Força da Escolha: Uma Reflexão sobre a Evolução e a Potência da Mulher
- CERES
- 4 de ago.
- 6 min de leitura
Em homenagem a Semana Internacional da Amamentação Materna e ao dia Internacional do Planejamento Familiar. A todas as Mulheres, homens, familias e seres humanos...
Lilian Schiavo
& Wesley S.T Guerra
As vezes é complexo falar do passado, sem nos levar a um refúgio construindo por nossas crenças e visões de mundo... Somos todos e todas filhos do seu tempo e de suas condições sociais, políticas, econômicas e geográficas... Embora seja importante refletir... Não através das percepções pessoais, essas são as bases do existencialismo inato dos seres humanos, são próprias de cada pessoa, cujo máximo que podemos fazer os outros é respeitar..., mas através da reflexão histórica... De tudo o que temos em comum... Refletir não pelo que nos difere, mas pelo que nos une...
Nos primórdios da humanidade, as primeiras sociedades apresentavam uma visão de mundo marcadamente diferente da atual. Embora existissem papéis definidos, os padrões não eram tão rígidos quanto muitas vezes imaginamos. Numa época em que os homens eram, em sua maioria, responsáveis pela caça e passavam longos períodos fora devido a essa atividade, as mulheres desempenhavam funções essenciais que iam muito além da simples coleta de frutos e raízes. Eram elas que garantiam o sustento por meio da coleta (sem a qual jamais existira a agricultura), cuidavam de crianças e idosos, e simbolizavam a própria essência da vida em comunidade. Essa convivência, que se estendia do ventre de uma grande mãe — símbolo da Terra e da vida — permitia uma compreensão do mundo muito mais ampla e integrada, e mesmo em um contexto em que o uso da força era indispensável para a sobrevivência, a organização e a colaboração entre os membros da comunidade eram os verdadeiros alicerces para a continuidade do grupo, sendo está uma tarefa em grande parte realizada pelas mulheres.
Com o surgimento das primeiras cidades e o florescimento dos impérios, observamos uma transformação profunda nessa dinâmica. As forças primitivas, que até então se expressavam em forma de cooperação e sobrevivência, passaram a se condensar em sistemas de domínio. A sociedade, antes pautada na colaboração mútua, começou a se organizar em estruturas hierarquizadas e centralizadas. Essa transição marcou o nascimento da primeira forma de domínio: a partir da organização das cidades, emergiu o sistema de poder que, mesmo com a modernidade, persiste em democracias, repúblicas, monarquias e no mundo empresarial. Em todas essas esferas, o que se vê, mesmo disfarçado por eufemismos e terminologias contemporâneas, é uma luta incessante por domínio e poder – seja ele econômico, social, cultural ou religioso.
A transformação desse cenário implicou também uma mudança de paradigma espiritual e simbólico. A antiga visão, que centralizava a vida no ventre materno da Terra, foi substituída por deuses patriarcais e construtores, que passaram a defender e a legitimar o poder. Esses deuses passaram a estabelecer uma ordem, estrutura social e, principalmente, o domínio. Com essa mudança, a humanidade deixou de se conceber como parte integrante de um sistema ecológico para se ver como uma raça superior, criada à semelhança desses deuses, e legitimou uma supremacia que se estendia desde a exploração dos recursos naturais até a imposição de valores e crenças sobre outras formas de entendimento do mundo.
E o motivo pelo qual vos levo a essa reflexão é que, antes de darmos passos rumo ao futuro, é fundamental contemplar todo o caminho que percorremos. Em um ciclo contínuo de inovação e retrocesso, muitas vezes, como um bebê que, ao crescer, acaba esquecendo as lições da primeira infância, nós também nos esquecemos das nossas raízes e da nossa dependência intrínseca do ser natural que somos. Essa evolução, repleta de avanços notáveis, carrega consigo a sombra de um esquecimento: a negligência para com os pilares que sustentaram nossa existência desde os primórdios.
Nesse percurso, a dinâmica de poder e domínio frequentemente resultou na marginalização de inúmeras vozes, principalmente a das mulheres. Ao longo da história, muitas delas foram relegadas a papéis secundários na narrativa dominante. Pensemos em figuras como Cleópatra, que é comumente lembrada apenas por sua beleza e pelos seus amores com Júlio César e Marco Antônio, mas cuja capacidade estratégica, habilidade diplomática e domínio dos idiomas mais falados de sua época foram igualmente fundamentais para sua influência. Da mesma forma, personagens como Maria Antonieta foram romantizadas, adornadas com uma aura de futilidade, enquanto outras líderes, como a grande imperatriz Zu Wetian, responsável por um dos períodos mais prósperos da China é praticamente esquecida, assim como, Catalina II "O Grande" (sim em masculino) epiteto que ganhou graças ao seu papel crucial na consolidação do Império Russo, a Rainha Vitoria, cuja Companhia das Indias, se transformou em uma das primeiras multinacionais do planeta, e não podemos deixar de mencionar Isabel a Católica, cuja influência na colonização da América é inegável, ou Hipátia de Alexandria, cuja trágica morte simbolizou o fim de uma era do mundo antigo, e não apenas a queda da Roma Ocidental, e muitas, muitas outras que permanecem ofuscadas ou condenadas ao esquecimento ou a frivolidade...
O que une essas mulheres que, apesar das adversidades, deixaram marcas profundas na história? Há poucos anos – e, em muitos lugares, essa realidade ainda ecoa – a mulher era vista de forma tão limitada que não podia viajar sem a autorização do marido, escolher livremente seu companheiro, divorciar-se em caso de agressões, votar ou sequer dirigir um veículo. Se tais restrições pareciam impensáveis, imagine as barreiras para que uma mulher se tornasse líder de negócios, gerisse equipes ou presidisse uma organização. Essas limitações não são apenas recordações de um passado distante, mas lembranças de um caminho que precisamos continuar a transformar.
A reflexão que se impõe hoje não é um debate ideológico sobre machismo ou feminismo, tampouco uma disputa sobre quem deve pagar a conta ou sobre a superficialidade das aparências, nem mesmo questionar tradições ou dogmas religiosos. Trata-se, antes, de reconhecer uma realidade evolutiva e de reivindicar a continuidade de um legado de colaboração e transformação. É um chamado para que a mulher de hoje – seja ela mãe, empresária, empreendedora, rainha ou dona de casa – exerça sua escolha de forma plena e consciente, sem imposições. É o reconhecimento de que a força que impulsionou as primeiras sociedades ainda pulsa em cada uma de nós, convidando-nos a resgatar e reinventar as lições de um passado repleto de resiliência e cooperação.
Que possamos, ao refletir sobre o caminho percorrido, honrar todas as vozes e histórias que contribuíram para a construção do que somos hoje. E que essa reflexão nos inspire a construir um futuro em que a liberdade de escolher nosso papel na sociedade seja celebrada, onde o poder seja exercido com responsabilidade e onde a colaboração continue sendo o verdadeiro motor de uma evolução constante e inclusiva.
A mulher não é uma sombra ou mero complemento de um mundo masculino, mas a peça-chave na construção de uma sociedade colaborativa, onde, assim como o homem é livre de realizar suas escolhas, ela também tem o direito e a força de traçar seu próprio destino, e isso não é uma guerra, nem ser mais ou menos, não é uma filosofia, uma ideologia, ou uma luta de crenças… é somente igualdade para ser o que precisamos e queremos ser para uma sociedade melhor…
Lilian Schiavo
Por Wesley S.T Guerra

Lilian Schiavo
Lilian Schiavo é Arquiteta, Engenheira de Segurança e Administradora Hospitalar. É Empresária, Colunista e Congressista com atuação em Organizações Internacionais. Atualmente, ocupa os cargos de Presidente Nacional da OBME - Organização Brasileira de Mulheres Empresárias, Presidente do GT Mulheres Industriais, é Fundadora da CEMB - Convergência Empresarial de Mulheres Brasileiras no Mercosul, Presidente Brasil Global Networking G-100, Diretora Executiva Board G-100 e ocupa a cadeira n°1 Florbela Espanca na ACLASP - Academia de Ciência, Letras e Artes de São Paulo, Embaixadora Honorária Global do Clube Mulheres de Negócios Portugal, Imortal na Academia William Shakespeare, Presidente do Conselho Empresarial do IBREI - Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Relações Empresariais Internacionais, Senior Advisor CERES Centro de Estudos das Relações Internacionais do Brasil, Co- Fundadora e Conselheira da OMA Organização Brasileira de Administradoras, Embaixadora do IBREI para a Argentina e Chile, Vice-presidente CAMBRAPER Câmara de Comércio Brasil Peru, Diretora RIN Brasil Red Internacional de Negócios, sede São Paulo, Diretora ad honorem e diretora de Relacões Internacionais das Mulheres do Mercosul na Cámara de Industria y Comercio del Mercosur y las Américas. Ademais, é Embaixadora da Paz pela UPF, Conselheira do IBREI - Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Relações Empresariais Internacionais, do Instituto Supereco, do FBGA - Fórum Brasil de Gestão Ambiental e da ANAPRI - Associação Nacional dos Profissionais de Relações Internacionais. Pelo seu trabalho de incentivadora e promovedora dos direitos das mulheres como empresárias, Lilian foi convidada a palestrar pela ONU Mulheres e OIT, a integrar espaços por diversas organizações internacionais e a participar de projetos de inclusão do Governo Federal.
• vice-presidente da Câmara de Comércio Brasil Peru • Diretora Ad Honorem na Câmara de Comércio Mercosul e Américas, Diretora de Relações Internacionais das Mulheres do Mercosul
• Diretora Brasil da RIN Red Internacional de Negócios
• Co- fundadora e Conselheira da OMA Organização Brasileira das Mulheres Administradoras
• Membro da EEN Brasil Enterprise Europe Network

Wesley Sá Teles Guerra, poliglota e hispano-brasileiro, é escritor, professor e internacionalista. Gestor do Fundo de Cooperação Triangular entre Portugal, América Latina e Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa na Secretaria-Geral Ibero-americana. Foi Paradiplomata durante 7 anos na Generalitat de Catalunya e durante 4 anos na Xunta de Galicia. Autor dos livros "Cadernos de Paradiplomacia", "Paradiplomacy Reviews the Rise of the Subnations, Cities and Smartcities" e "Manual de Sobrevivência das Relações Internacionais".
Fundador do CERES - Centro de Estudos das Relações Internacionais e membro de diversas instituições internacionais como a REPIT (Rede de Especialistas em Paradiplomacia e Internacionalização Territorial), IAPSS e o European Consortium for Political Research (ECPR). Especialista em Relações Internacionais, Paradiplomacia, Cooperação Internacional, Gestão de Projetos Europeus e Gestão de Smartcities. Possui Mestrado em Políticas Sociais com Especialização em Migrações pela Universidade da Corunha, Mestrado em Gestão de Smartcities e é doutorando em Sociologia e Transformações da Sociedade Contemporânea.
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