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Cenários geopolíticos que se desenham para 2023

Atualizado: 26 de set. de 2023

Cenário Econômico


Os últimos três anos foram catastróficos para o crescimento mundial. A triste combinação entre uma longa pandemia, uma forte crise energética e as tensões geopolíticas oriundas de uma guerra infinita, nos deixam com dificuldades para construir um cenário de crescimento econômico e desenvolvimento social para o próximo ano.


A atividade econômica global viveu em 2022 uma grande desaceleração e com inflação acima dos prognósticos esperados nos Estados Unidos e nas principais economias europeias. O custo da energia, principalmente no continente europeu, fez o mundo puxar o freio de mão. Desta forma, um olhar pelo prisma econômico se faz determinante para analisar o caminhar das principais regiões mundiais para um curto prazo.


A União Europeia está enfrentando muitas dificuldades e assim se seguirá nos próximos anos. Setores de serviço e industrial perderam força. Ao longo dos últimos se percebeu a falta de inovação tecnológica quando comparada com outras regiões do mundo. Produzir e investir no continente europeu possui um custo alto. O atual cenário geopolítico apresenta com extrema clareza a Europa perdendo relevância do ponto de vista econômico. A Alemanha, maior economia do continente europeu, está passando por uma grave crise energética que deixará como consequência um esfriamento de sua economia e um considerável aumento de custo de vida aos seus cidadãos. Vale ressaltar que as principais agências econômicas mundiais apresentam os Estados Unidos, a China e o Japão, nesta ordem, como os maiores PIBs da atualidade e a Alemanha ocupando o quarto lugar. Alguns economistas indicam a esperada queda de crescimento na zona do euro. De 2,6% este ano para 1,2% em 2023, sendo os reflexos da guerra da Ucrânia e a falta de gás natural um dos fatores determinantes para este número ruim.


Os Estados Unidos continuarão com enorme influência geopolítica nas próximas décadas, seja pelo seu poderio militar ou pela força de sua economia, apesar de um fechamento de ano difícil. A redução do poder de compra das famílias norte-americanas e uma economia mais apertada este ano, projetou pouco crescimento para 2023. Todavia, a capacidade empreendedora e tecnológica continuará forte nos próximos anos entre os americanos. No entanto, a liderança em termos globais será mais cristalina entre Estados Unidos e China. A crise energética europeia continuará favorecendo suas exportações de gás natural liquefeito. Numa projeção de longo prazo, algo em torno de 30 anos, alguns analistas econômicos já visualizam os EUA como um país de apoio ao crescimento indiano. Apenas projeções.


Em termos de PIB, um prognóstico, num médio prazo os Estados Unidos serão ultrapassados pelas potências do Oriente: China e Índia. Estes países deverão, com o PIB maior que dos norte-americanos, aumentar sua capacidade de investimento tecnológico e nos financiamentos de pesquisa e desenvolvimento ao redor do mundo. A Índia um pouco atrás dos chineses, apresenta ano após ano, um alto crescimento do PIB. A indústria indiana apresentou nos últimos anos um potencial na área digital que impressionou o mundo. No caso específico da China um aumento brutal da capacitação tecnológica do setor militar é o principal incomodo aos norte-americanos, além de sua crescente e tímida influência geopolítica em diversas regiões do mundo. O fato é que tudo depende de muitos fatores geopolíticos e econômicos, porém os que se apresentam hoje nos mostram um mundo polarizado com Índia e China, extremamente relevantes, em lados opostos.


Quanto a América do Sul e, em particular, o Brasil, manterá um crescimento muito lento puxado basicamente pelo comércio. Ser apenas uma potência agrícola é muito pouco para um país da dimensão e demanda que o Brasil exige. Se torna urgente um avanço industrial que o torne relevante. Liderar a transição energética é obrigatório. E, fundamental, o Brasil nos próximos quatro anos precisa se posicionar de forma relevante nas relações internacionais, e deixar de ser uma pária internacional.


De forma resumida, não devemos esperar um crescimento mundial no próximo ano. As altas taxas de juros e de inflação, se não forem controladas, podem até levar ao risco de recessão para 2023. E guerra econômica entre EUA e China é o que menos se espera.


Cenário Geopolítico

O que estava se formando, será muito claro em 2023. A formação de dois blocos econômicos: China e Rússia de um lado e de outro EUA, Índia e Japão. E países periféricos que buscaram relações comerciais independente da geopolítica vigente.


Vale citar que pouco mudará na questão energética. A União Europeia buscará soluções de demanda energética nos ambientes de suprimentos já existentes: Mar do Norte, Norte da África e importações de gás natural liquefeito oriundas principalmente dos Estados Unidos.


Apesar das tensões ao longo do ano entre Rússia e Ucrânia, a abertura silenciosa da China na região do Oriente Médio e no Norte da África através de vasto investimento em transporte, infraestrutura e, mais relevante, redes de energia é o grande destaque na geopolítica mundial deste ano. A China busca encontrar mais proximidade através da diplomacia econômica, inclusive na Europa, oferecendo financiamentos e recursos. A região do Oriente Médio, com sua localização estratégica, na visão chinesa é um canal de ligação comercial com África, Europa e, claro, com os árabes donos dos poços de petróleo e gás natural.


Quanto à geopolítica russa, um pior ano se aproxima. Após os 5 trilhões de rublos consumidos numa guerra que muito provavelmente não vencerá, a Rússia deixará sua relevância energética ruir. Os países desenvolvidos, muito provavelmente em 2024, não dependerão das importações de nenhum barril de petróleo russo. Os suprimentos fósseis serão de novas rotas internas ou externas e de energias renováveis que estarão mais consistentes na matriz energética global.



*Luis Augusto Medeiros Rutledge é engenheiro de petróleo e analista de Geopolítica Energética. Membro Consultor do Observatório do Mundo Islâmico de Portugal e Membro do CERES - Centro de Estudos das Relações Internacionais. Possui MBA Executivo em Economia do Petróleo e Gás pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Pós-graduando em Relações Internacionais pelo Ibmec. Atua como colunista e comentarista de geopolítica energética do site Mente Mundo Relações Internacionais. Colaborador de colunas de petróleo, gás e energia em diversos sites da área. Contato: rutledge@eq.ufrj.br

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