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Marcas incuráveis do Método Escoteiro EUA: Inépcia, negligência e desproteção infantojuvenil

Atualizado: 20 de out. de 2023

Escassas são as simplórias menções ou compreensões aprofundadas sobre ações das Organizações Não Governamentais (ONGs) na alcunha de Movimentos Sociais, os que assumem características com formalização como associações sem fins lucrativos, sob o emprego de operação local ou regionalizada. Em cenários específicos, pouco ou nada se compreende com relação à fundação e o exercício do seu propósito institucional, a menos que ocorridos excepcionais assumam manchetes jornalísticas e informem negligências ou inadequações não supervisionadas pela sociedade civil, com especificidade ao abandono de entidades incumbidas do processo de compliance demandado pelo próprio segmento.

Como exemplificação de uma dessas mobilizações não supervisionadas, o caso da “Boys Scouts of America” (Em sigla, BSA) alcançou enfoque em meados do ano de 2020, com enorme repercussão após consideráveis divulgações do filme documentário “Arquivos da Perversão” lançado pelos serviços de streaming (referência à Netflix), no início do mês de setembro de 2023. Em síntese, a produção documental acompanha burocracias incluídas no processo judicial desse Movimento Social, com mais de 110 anos de ofício, constituído de uma membresia com mais de dois milhões de jovens (idades de 5 à 21 anos) e que foi cenário de infindáveis ocorrências de abuso infantojuvenil, impulsionando a sua falência.

Como uma das maiores e simbólicas instituições dos Estados Unidos da América, isso desde sua formalização em meados do ano de 1910, essa entidade constitui-se como um dos braços globais da Organização Mundial do Movimento Escoteiro (com sua origem e consolidação na Inglaterra). As acusações que ocasionaram sua ruína resumem-se em sucessivos “resguardos”, ou em palavras idôneas, nas inúmeras “defesas dos criminosos” pelas denúncias escondidas e negligenciadas de uma série de abusos sexuais de adultos voluntários para com os jovens membros da instituição. Uma ocorrência que acompanhou gerações sem denúncias e punições dos pedófilos que permaneciam vinculados ao meio.

Calcula-se que mais de 12.000 jovens membros envolvidos foram vitimizados pela série de abusos sexuais desde o ano de 1944, com suposição de que mais de 7.800 pedófilos e abusadores estivessem chefiando, “colaborando” a instituição voluntariamente, ambos os dados foram elencados pelos próprios “Arquivos da Perversão”, que compilaram cada uma das denúncias realizadas de o primeiro processo judicial iniciado em 2012, advindos de uma investigação conduzida para documentação das ocorrências. Eu suma, números descomedidos que são elevados a cada dia, com especificidade após a exposição pública do julgamentos e o seu pós, com problemáticas financeiras experienciadas pela entidade.

Arquivos da Perversão: Os Abusos na Boy Scouts of America

Traçando um perfil das ocorrências criminais que expuseram a instituição estadunidense Boys Scout of America (famigerada na sigla, BSA), o filme documentário expõe os abusos sexuais abafados, dialogando com as inúmeras vítimas negligenciadas institucionalmente e, em consequência, ameaçadas para que não se fizessem públicas as incidências de desproteções infantojuvenil. No modelo de entrevistas com sobreviventes e denunciantes, a obra “Arquivos da Perversão”, elucida os escândalos da mobilização às consequências que a ausência de compliance, idoneidade organizacional proporcionaram aos vitimados.

Com provocações sucessivas, a produção confecciona uma “quebra” de estigma que logo sugere confiança em instituições dadas como “Tradicionais, conservadoras”, concedendo uma segunda e realística visão à movimentos venerados como o mencionado, desafiando o corpo social para que diálogos e cobranças relacionadas ao salvaguardo dos direitos na infância e juventude sejam prioridades generalizadas. Alcançando uma audiência global e, acompanhado da disseminação de informações nas famigeradas mídias sociais, o filme permanece instigando discursos e propiciando que o caso (que segue em evidência e sob desdobramentos) seja acompanhado com afinco, impulsionando ações sociais e jurídicas.

Irmãos de lenço? A repercussão dos escandalos de pedofilia na Organização Mundial do Movimento Escoteiro

Compreende-se que a própria Organização Mundial do Movimento Escoteiro (A OMME, com fundação e formalização no século XX), mesmo dispondo de princípios específicos e valores disseminados nos 27 Estados na qual exerce influência para propagações do seu Método Educativo Juvenil sob experiências de uma vivência no exercício da cidadania, não dispõe de realizações adequadas para supervisão e fiscalização periódica de grupos vinculados, considerando a priori, as diferenças de legislação e jurisdição vislumbradas nos países que aderiram aos ideais da entidade. Um dos desafios de mobilizações como a elencada, que pelos dilemas da globalização, perdem enfoque, constância em inspeção.

Como idealização global, a entidade originou-se como uma espécie de colaboração social para que os jovens assumam as rédeas de suas experiências vividas, com o apreço pela ampliação de suas habilidades, auferindo em novas potencialidades no campo intelectual, emocional, espiritual, físico e social, desenvolvendo-os como indivíduos e cidadãos sob a responsabilidade para com suas comunidades, confeccionando decisões de impacto para suas vidas e vivências dos demais, aos seus arredores. Todavia, se faz uma obviedade a de que empreendimentos como o mencionado, sob referência e popularidade, demandam uma defesa constante dos seus ideais, interna e externamente, validando as expectativas.

E nesse viés, com relação às ocorrências criminosas elencadas nas entidades vinculadas à essa organização de alcance global, isso com especificidade para os casos no Boys Scout of America, cabe a recordação de que as diferenciações estruturais e culturais dos países membros do Movimento Escoteiro demandam uma relevância, pois modificam das expectativas ao cenário para que a aplicação do projeto ocorra. E dessa forma, o número de pessoas colaboradoras ou envolvidas na aplicabilidade dessa filosofia e ideal social muda, considerando da popularidade da instituição no Estado ao processo de vinculação, seja ele simplório ou dado como rigoroso para o ingresso de indivíduos no voluntariado.

Em uma explicação para a incidência da criminalidade, a Boys Scout of America dispunha de uma escassa e desidiosa política de proteção infantojuvenil que divergia do modelo institucional salvaguardado e prezado internacionalmente, pois baseava-se na “confiança desvairada” que eximia os processos de seleção ou permanência para os indivíduos que se dispusessem no regime de vínculo no voluntariado organizacional, não exigindo o mínimo de documentações necessárias (como a identidade da membresia). Negligência que confeccionou uma conjuntura propícia para que criminosos fossem abarcados sem nenhuma identificação ou investigação, possuindo campo escalável de potenciais vítimas.

E inclusive, após a incidência de denúncias, lidava com as mesmas de modo anônimo, o que designava permanência impune aos voluntários denunciados, não investigados e nem condicionados às jurisdições estaduais conforme o priorizado. Porém, com mais de mil ocorrências sob global evidência no processo judicial iniciado em 2010, cresceu-se a preocupação necessária com a inexistência de burocracias institucionais para ingresso e a ausência de um processo de intervenção, investigação e expulsão dos criminosos, os pedófilos que se apropriaram do sigilo para realizarem crimes escaláveis sem que a lei possuísse espaço e protagonismo, julgando-os e designando suas penalidades devidas.

Conforme diferenciações e especificidade de burocracias nas legislações de cada estado, características ao federalismo estadunidense, a organização escoteira para meninos dos Estados Unidos da América lida com ocorrências de mais de 60 anos em evidência, com a noção de que denúncias de abuso sexual e agressão dispõem de alguma averiguação e investigação, independendo do período de realização. E sobre o número expressivo de denúncias, a declaração de falência organizacional mencionada de início, adveio pela própria ausência de capacidade econômico-financeira para que a entidade lidasse com o volume desses processos e as indenizações demandadas após os julgamentos deferidos.

“Bravo, Bravo, Bravíssimo!”: Glória em ruína e a publicização midiática das ocorrências

Aos indivíduos vinculados à Organização Mundial do Movimento Escoteiro (OMME) ou sob égide das ramificações, como pela União dos Escoteiros do Brasil (UEB) no cenário nacional, o amargo vislumbre e o choque ocasionado pelos esquemas perversos no braço irmão da instituição proporcionou uma conjuntura de abalos sucessivos à escoteiros (a) que jamais imaginariam ações absurdas adversas no modelo propiciado à juventude, uma oposição generalizada aos valores institucionalmente pregados e seguidos pelo incentivo da priorização do “Melhor Possível”, permanecendo “Sempre Alerta!”. E assume-se que essa significativa mancha no nome da mobilização global acompanhará o seu percurso.

Como jovens educandos do Método Educativo aplicado nos grupos escoteiros pelo globo ou colaboradores que exercem com eficácia as demandas do programa de voluntariado, a produção documental aguça do repúdio aos crimes realizados à sensação de legitimidade à iniciativa que investigou e proporcionou a exposição do escândalo para a sociedade civil e membresia do movimento internacional. Todavia, um equívoco do filme documentário foi vislumbrado na ausência de explicações sobre o porquê da existência globalizada dessa instituição e a distribuição/ramificação de organizações que independem dessa estrutura, mesmo que sigam e “imaginem que priorizam” valores e princípios originários da mesma.

E sim, confeccionando essa noção de “subdivisão” institucional, as análises sobre casos de negligência, ausência de fiscalização e compliance seriam elencados com uma clareza ideal, pois, desdobrando-se de uma instituição “Mãe”, de quem seria a responsabilidade pelas incidências criminalísticas e/ou ações que usurpassem o próprio “Tradicionalismo”, encobrindo dos crimes aos próprios criminosos? E, seguindo a mesma linha de raciocínio, Organizações Não Governamentais (ONG) que se globalizam, no exercício de operações internacionais (isso mesmo que indiretamente) se pronunciariam agindo com a jurisdição da localidade hodierna ou delegariam resoluções e penalidades ao seu Estado originário?

Analisa-se que independendo da concessão dessas responsabilizações institucionais e/ou estatais, a generalização da responsabilidade se faz discussão necessária às ocorrências, que incidem na genuína dúvida sobre o porquê um famoso e reconhecido movimento em um Estado designado como principal potencial econômica mundial da contemporaneidade foi incapaz de “instituir/priorizar” ações basilares para que compusesse uma membresia sem nenhum histórico ou propensão ao crime. Nesse viés, como se fizeram permissivos ao ingresso e permanência de pedófilos, desagrupando uma sucessão de denúncias, as minimizando, condicionando os jovens que sobreviveram à memorização dos horrores.

E como uma recordação deplorável às ramificações do Movimento Escoteiro, os “Arquivos da Perversão” permanecem em voga, sob consciência e diálogo público para que o aviso, mais do que dado seja validado, a fim de que políticas de proteção infantojuvenil possuam aplicabilidade e rigidez para com a fiscalização de suas operações, confeccionando digno compliance para regulação dos critérios de ingresso/vínculo e permanência institucional. Com consciência de que a pedofilia e, enfim, a criminalidade em um geral vislumbre, se apropria de cada um dos espaços vagos não forjados pela prevenção, enxergados como desnecessidade para inspeção e designação de burocracias para o salvaguardo cidadão.

Possuindo promessa firmada com o lenço escoteiro ou desconhecendo ações prévias na jornada do escotismo, os “Arquivos da Perversão” incitam questionamentos sucessivos e designam enfoque global para as limitações que a maximização de membresia e ações globalizadas auferem à uma organização despreparada para exercício da supervisão, na generalidade. E independendo de valores e princípios apregoados (sob o senso comum e/ou comprovação), as brechas demandam observação em constância, para que jovens e crianças sejam salvaguardadas e enxerguem-se em condições seguras necessárias para o seu desenvolvimento, sendo priorizadas, mais do que nomeações e reputações globais.



Aline Batista dos S. Silva, Graduada em Relações Internacionais (Bacharelado) pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas - FMU (Com Bolsa 100% pelo Programa Universidade para Todos - PROUNI) | Pesquisadora Acadêmica no Programa de Iniciação Científica - PIVIC (2017; 2018; 2019 e 2020) | Monitora Acadêmica das Disciplinas de: "Finanças Internacionais" (2018.2); "Economia Brasileira Contemporânea" (2019.1); "Eventos e Extensão" (2019.2); "Geopolítica e Geoestratégia" (2020.1); "Fundamentos da Economia" (2020.1) | Analista Internacional | Educadora para a Transformação e o Impacto Social | Pesquisa Acadêmica | Gestão de Projetos e Negócios Sociais |

FONTES CONSULTADAS

An Open Letter to Victims from the BSA. disponível em: <https://www.bsarestruc turing.org/an-open-letter-to-victims-from-the-boy-scouts-of-america/>.

Nota a respeito dos processos de Abusos Sexuais na Associação Escoteira dos Estados Unidos - Escoteiros do Brasil. disponível em: <https://www.escoteiros .org.br/noticias/abusos-sexuais-na-associacao-escoteira-dos-estados-unidos/>.

Locating BSA Perpetrators. disponível em: <https://www.andersonadvocates. com/practice-areas/boy-scouts-sexual-abuse/locating-boy-scouts-perpetrators/>.

Watch Scouts Honor: The Secret Files of the Boy Scouts of America | Netflix Official Site. disponível em: <https://www.netflix.com/title/81477233>.


Imagem: Canvas.com

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