O muralismo, como uma forma de arte urbana, tem se consolidado como um meio poderoso de expressão e intervenção social. Em um mundo cada vez mais urbanizado, onde as cidades são espaços de convivência e conflitos, os murais surgem como veículos de comunicação visual que transcendem as barreiras linguísticas e culturais. Este artigo explora o papel do muralismo no contexto contemporâneo, destacando sua importância como ferramenta de expressão artística, influenciando e sendo influenciada pelas lutas sociais contemporâneas, promovendo mudanças sociais.
O conceito de muralismo é relativo à representação de uma imagem, normalmente em uma parede ou muro. É uma forma de expressão utilizada pelo homem desde o período paleolítico, geralmente eram imagens relacionadas à vida quotidiana, feitas em paredes de suas cavernas. Tal como o “Grande Painel da Caverna Chauvet”. Apesar da longa tradição na história da arte, hoje em dia o muralismo se manifesta principalmente nos espaços urbanos, onde as imagens artísticas de diferentes temas são representadas.
“[…]A sua origem, no seu sentido mais amplo, remonta à pré-história, enquanto arte representativa das vivências do homem de então e seguramente ao “serviço de um ritual, primeiramente mágico, depois, religioso” (Benjamin, 2012).
Origem e Evolução do Muralismo
O muralismo tem suas raízes em práticas artísticas ancestrais, mas sua forma moderna emergiu no início do século XX, especialmente com o movimento muralista mexicano. Artistas como Diego Rivera, José Clemente Orozco e David Alfaro Siqueiros utilizaram murais para retratar a história, a cultura e as lutas sociais do México. Esses murais não só decoravam paredes, mas também contavam histórias e expressavam mensagens políticas e sociais profundas.
Com o passar do tempo, o muralismo se espalhou pelo mundo, adaptando-se a diferentes contextos culturais e sociais. Nos Estados Unidos, os murais da época da Grande Depressão reflectiam as dificuldades econômicas e a luta por justiça social. Na Europa e na América Latina, os murais serviram como ferramentas de resistência contra regimes autoritários e como meio de afirmar identidades culturais.
A arte do muralismo tem um ingrediente transgressivo e provocador, muitas das suas imagens têm um teor político, mostrando assim, um claro compromisso social. As imagens podem ser um simples entretenimento ou, pelo contrário, possuírem algum tipo de mensagem social e reivindicativa.
A arte urbana é um dos movimentos mais activos e difundidos da nossa contemporaneidade, não fosse a cidade, tal como afirmamos, a centralidade do mundo. A sua imensa galeria – avenidas, ruas e muros, eleva esta expressão cultural a uma visibilidade infinita, porque a arte urbana está na rua, logo, democraticamente a todos acessível.
De acordo com o antropólogo Nestor Garcia Canclini “[…] a cultura urbana é a principal causa de intensificação da heterogeneidade cultural de diversos grupos sociais e tribos”, assim, a arte urbana espelha a sociedade actual, visualizando suas dificuldades e percepções sobre o mundo em diversos aspectos. A cidade, nesse cenário, torna-se a maior tela, o principal meio de comunicação e um epicentro de diversidade cultural. (CANCLINI, 2006, p.56)
A Revolução Mexicana e o Muralismo
Em 1910, houve um conflito armado no México, que passou para a história como a Revolução Mexicana. Desde então, alguns artistas começaram a tradição muralista. A linguagem do Muralismo pretendia conectar-se com a realidade nacional. Diego Rivera é um dos mais reconhecidos artistas mexicanos deste movimento. De afiliação comunista, criticou duramente o governo mexicano pelo que considerava uma subserviência às potências estrangeiras.
Seus murais tinham um componente revolucionário evidente, pois pretendiam educar e conscientizar a população. Os assuntos abordados por Diego Rivera são populares, mas tratam de questões políticas e sociais, suas obras transmitem simplicidade e exalam muito simbolismo e significado.
Mensagem e Activismo no Contexto Contemporâneo
No cenário hodierno, o muralismo continua a ser uma forma eficaz para transmitir mensagens sociais e políticas. Como uma forma de arte urbana, ela tem se destacado não apenas pela sua estética vibrante, mas também pelo seu potencial de transmitir mensagens poderosas e promover o activismo social. A arte urbana contemporânea utiliza uma variedade de técnicas e aborda uma ampla gama de temas, desde questões ambientais e políticas até celebrações culturais e identitária, nomeadamente:
Expressão Artística e Visual: Murais oferecem uma plataforma para os artistas se expressarem de maneira ampla e acessível. Em um mundo saturado por mídias digitais, a arte mural proporciona uma experiência visual tangível e impactante. Artistas como Banksy, Shepard Fairey e Eduardo Kobra têm usado murais para provocar reflexões e diálogos sobre questões sociais e políticas, desde a guerra e a paz até a justiça social e a identidade.
Comunicação de Mensagens Sociais: Os murais frequentemente abordam temas como desigualdade, direitos humanos, racismo e mudanças climáticas. Por exemplo, murais criados em apoio ao movimento Black Lives Matter têm sido usados para destacar a luta contra a violência racial e a injustiça social. Esses murais não apenas embelezam os espaços públicos, mas também educam e conscientizam o público sobre questões cruciais.
Engajamento Comunitário: Muitos projectos de muralismo envolvem a participação da comunidade local, promovendo o senso de pertencimento e coesão social. Esses projectos podem ajudar a empoderar comunidades marginalizadas, dando-lhes voz e visibilidade. A colaboração entre artistas e residentes locais garante que os murais reflictam autenticamente as experiências e aspirações da comunidade.
Murais podem ser usados para mobilizar pessoas em torno de causas sociais e políticas. Durante momentos de protesto ou crise, murais podem servir como meios de resistência visual e unificação. Por exemplo, murais criados em apoio à luta contra a violência de gênero ou pela justiça climática ajudam a unificar e inspirar acções colectivas.
Os murais frequentemente celebram a história e a identidade cultural das comunidades. Eles podem preservar tradições e histórias que, de outra forma, poderiam ser esquecidas em meio à globalização e à urbanização rápida. A arte mural, assim, torna-se uma forma de resistência cultural, preservando e celebrando a memória coletiva de um povo. De igual modo, elas frequentemente celebram a história e a identidade cultural das comunidades. Eles podem preservar tradições e histórias que, de outra forma, poderiam ser esquecidas em meio à globalização e à urbanização rápida. A arte mural, assim, torna-se uma forma de resistência cultural, preservando e celebrando a memória coletiva de um povo.
Sob forma de galerias à céu aberto a todos acessível, a arte urbana tem encetado um importante papel na requalificação de bairros populares, como é o caso da “Rua dos Mercadores”, localizada no bairro dos Coqueiros em Luanda (Angola). É uma rua que testemunhou muitas histórias da cidade, que a levou a ser classificada como conjunto representativo do “Património Histórico Cultural”, como é expressa artisticamente pelas pinturas murais, sobre as suas paredes, retratando acontecimentos históricos do país.
Em termos de educação e conscientização, os murais educam o público sobre questões históricas e sociais através de imagens poderosas e narrativas visuais. Eles podem informar e inspirar ações em prol da justiça social e igualdade.
Em suma, a arte urbana em sua forma mais autêntica, continua a ser uma galeria ao ar livre, acessível a todos, que revitaliza bairros, preserva a memória colectiva e celebra as identidades culturais. As obras de artistas como Diego Rivera, Banksy, Shepard Fairey e Eduardo Kobra, entre outros, demonstram como os murais podem unir comunidades, promover mudanças sociais e inspirar acções coletivas. Os murais permanecem como uma forma vital de resistência cultural e expressão social, à medida que o mundo enfrenta desafios sociais e políticos cada vez mais complexos, o muralismo continuará a ser uma voz poderosa e necessária nas ruas das cidades ao redor do globo.
Gomes Dias, nasceu e vive em Angola, na provínciade Luanda. É Secretário-Adjunto da Assembleia, da Juventude Unida dos País de Língua Portuguesa (JUPLP). É também membro associado júnior da Associação Angolana dos Profissionais de Comunicação Institucional (AAPCI), desde 05 de Junho de 2023. É finalista da licenciatura em Comunicação pela Universidade Agostinho Neto (UAN). Trabalha de forma autónoma como pesquisador.
Redes sociais:
Instagram: https://www.instagram.com/gomes_dias9/
Referência Bibliográfica
Benjamim, W. (2010).Rua de sentido único e infância em Berlim por volta de 1900. Lisboa: Relógio d'Água..
POSSA, A. C. K. Grafite: cultura, arte urbana e espaço público. Prâksis — Revista do ICHLA. v.1, 2013. p.53–62. RANCIÈRE, Jacques. Política da Arte. Urdimento — Revista de Estudos em Artes Cênicas. v. 2, n. 15, 2010. p. 45–59.
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