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A Morte do Papa Francisco e seu Legado para a Diplomacia Religiosa e o Progressismo Católico

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    CERES
  • há 4 dias
  • 3 min de leitura

Com a recente morte do Papa Francisco, a Igreja Católica adentra um momento de inflexão histórica. Líder de mais de um bilhão de fiéis em todo o mundo, Francisco marcou seu pontificado com uma postura notavelmente progressista diante de temas que, por séculos, foram tratados com reserva ou até mesmo negação pela hierarquia eclesiástica. Sua morte não apenas encerra uma era, mas inaugura um momento de incertezas e disputas internas sobre os rumos da instituição religiosa mais antiga e influente do Ocidente.


Francisco, nascido Jorge Mario Bergoglio, foi o primeiro Papa oriundo da América Latina, o primeiro jesuíta a ocupar o trono de Pedro e um dos líderes mais carismáticos da contemporaneidade. Durante mais de uma década de pontificado, rompeu com formalismos palacianos, optando por uma vida mais simples e acessível. Recusou luxos, defendeu os pobres, abriu as portas do Vaticano a refugiados e não hesitou em confrontar o conservadorismo que permeia parte significativa da Igreja.


Sua liderança foi marcada por um compromisso vigoroso com a diplomacia religiosa, ou seja, o uso da autoridade moral e espiritual da Igreja para promover pontes em vez de muros. Exemplo emblemático foi a aproximação com a China, país onde o cristianismo é rigidamente controlado pelo Estado. Francisco também assumiu posturas ousadas ao defender o acolhimento de migrantes, a inclusão da população LGBTQIA+, o apoio às vítimas de guerras – incluindo sua posição crítica às ofensivas em Gaza – e a firme defesa do meio ambiente, simbolizada pela encíclica Laudato Si’.


O Papa não foi apenas um chefe espiritual; foi, igualmente, um chefe de Estado com uma diplomacia própria, fundamentada nos valores do Evangelho, mas aplicada ao cenário geopolítico com inteligência estratégica e humanidade. Conseguiu projetar o Vaticano como um ator relevante nas questões globais, tratando temas como mudança climática, migração, desigualdade e paz internacional com a autoridade de quem fala por princípios éticos universais.


No entanto, sua morte ocorre em um momento delicado. O mundo assiste a uma onda crescente de conservadorismo, marcada por discursos xenófobos, ataques às minorias e uma retórica de ódio travestida de "defesa dos valores tradicionais". Dentro da própria Igreja, setores conservadores aguardam a oportunidade de reverter avanços e reafirmar posições dogmáticas.


Apesar disso, Francisco moldou o Colégio de Cardeais de modo que 108 dos 135 cardeais com direito a voto foram nomeados por ele. Tal composição indica uma possibilidade real de continuidade do seu legado. Contudo, a eleição papal é também um espaço de tensões, manobras e surpresas. A sucessão definirá não apenas o futuro imediato da Igreja, mas o lugar que o Vaticano ocupará nas grandes disputas morais e políticas do século XXI.


O legado de Francisco permanece vivo. Ele nos ensinou que é possível ser fiel à tradição e, ao mesmo tempo, ouvir os clamores do tempo presente. Ensinou que a Igreja pode ser casa para todos, sobretudo para os que mais sofrem. E demonstrou, com coragem e compaixão, que a diplomacia religiosa pode ser uma força de transformação global. Resta saber se seus sucessores terão a mesma visão e coragem para seguir adiante.



Wesley Sá Teles Guerra
Wesley Sá Teles Guerra

Wesley Sá Teles Guerra

Fundador CERES e Paradiplomata. Poliglota. Formado Negociações Internacionais pelo CPE (Barcelona), Bacharel Administração pela UCB, Pós graduado Relações Internacionais e Ciências Políticas FESPSP, Mestrado Políticas Sociais e Migrações UDC (Espanha), MBA Marketing Internacional MIB (Massachussetts-EUA), Global MBA ILADEC, Mestrado Smarticities UC (Andorra), Doutorando Sociologia UNED (Espanha). Especialista Paradiplomacia, Desenvolvimento Econômico e Cidades Inteligentes. Autor livro Cadernos de Paradiplomacia, Paradiplomacy Reviews e Manual de sobrevivência das Relações Internacionais. Comentarista convidado da CBN Recife e finalista do prêmio ABANCA para investigação acadêmica.

Atuou como Paradiplomata do Governo da Catalunha durante o "procés" processo de autodeterminação da região da Catalunha (Espanha), também foi membro do IGADI, Instituto Galego de Análise e Documentação Internacional e coordenador do OGALUS, Observatório Galego da Lusofonia, sendo o responsável pelo estudo Relações entre Galicia e Brasil. Assim mesmo foi o primeiro brasileiro a se candidatar em uma eleição na cidade de Ourense (Espanha).

Foi editor executivo da revista ELA do IAPSS e é membro de diversas instituições tais como CEDEPEM, ECP, Smartcities Council e REPIT. 

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