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Geopolítica: conflitos regionais espalhados pelo mundo causam efeitos globais nas relações internacionais

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    CERES
  • há 21 horas
  • 5 min de leitura

Luis Augusto Medeiros Rutledge

Geopolítica e Energia


A competição geopolítica atual se manifesta de formas distintas em diferentes regiões da Europa, Leste Asiático e Oriente Médio, influenciando interesses que ultrapassam os limites fronteiriços dos conflitos.


No atual mundo multipolar, onde diversos países exercem influência política, econômica e militar, os conflitos geopolíticos que inicialmente se limitam em determinadas regiões, têm impacto direto na cadeia de suprimentos e de energia em todo o mundo. A guerra na Ucrânia atingiu diretamente os mercados globais de grãos e a demanda europeia por gás natural, alimentando a inflação em todo o mundo. A guerra em Gaza, causou mortes e insegurança aos países do entorno do Golfo Pérsico e crises na política internacional em diversos pontos do mundo. A atual configuração global nos apresenta um mundo que permanece intimamente entrelaçado. E, essa interdependência também significa que o mundo se tornou um grande palco para a rivalidade das grandes potências.


Na verdade, conflitos geopolíticos estão sendo travados globalmente hoje. Por meio de entregas de armas e envio de tropas, as duas Coreias estão travando uma guerra por procuração em solo europeu, o que, por sua vez, acentua a instabilidade na Península Coreana. Quanto ao leste europeu, a Rússia está tentando desviar a atenção ocidental da Ucrânia por meio de seu envolvimento no Mali, na Síria e na Coréia do Norte. Um pouco mais sutil e discreta, Pequim está ativamente tecendo parcerias em diferentes regiões do mundo, seja por meio da "Nova Rota da Seda" ou por meio de seu papel nos BRICS e na Organização de Cooperação de Xangai.


De parte do governo norte-americano, algumas potências parecem desafiar a hegemonia dos EUA em várias regiões ao mesmo tempo. Os EUA, por sua vez, estão fortalecendo suas alianças na Ásia e na Europa por meio de acordos trilaterais: com Japão e Coreia do Sul, Japão e Filipinas e Austrália e Reino Unido. Quanto à OTAN, muitos analistas sonham com uma visão de geopolítica plural, porém coesa nas estratégias geopolíticas, algo impensável na prática.


Podemos perceber que apesar da força do multilateralismo ou cooperação de diversos países e blocos econômicos para promover interesses comuns, observamos que cada vez mais as grandes potências estão lutando por influência e maior fatia de mercados em todo o mundo. 


Tanto os chineses quanto os russos, através de seus respectivos setores de diplomacia e relações internacionais evitam diretamente o envolvimento em conflitos mais distantes. De forma pragmática, os europeus querem manter e, se possível, estreitar ainda mais as relações econômicas com a China, não possuem a fixação por uma expansão da OTAN e, muito menos, intervir militarmente em um possível conflito no Estreito de Taiwan. Enquanto isso os oficialmente aliados dos EUA - Austrália, Japão e Coreia do Sul - estão se concentrando no Mar da China Meridional, Taiwan e na Península Coreana, apesar de seu apoio silencioso à Ucrânia. O foco da Índia está em seu próprio desenvolvimento. Como a maioria do Sul Global, o primeiro-ministro Narendra Modi, se recusa a tomar partido nos conflitos de poder do Norte Global. 


Em paralelo aos conflitos globais, os EUA atualmente vivenciam algo inédito, uma ruptura à sua tradicional hegemonia pós-segunda guerra mundial. E, em três regiões estratégicas observamos facilmente a dinâmica geopolítica: Europa, Oriente Médio e Leste Asiático.

Mesmo um conflito localizado no continente europeu, a guerra na Ucrânia, ainda causa efeitos geopolíticos em todo o mundo. Países como a China, Irã e Coreia do Norte apoiam o governo russo, enquanto Austrália, Japão e Coreia do Sul estão abertamente solidários à Ucrânia. A guerra no leste europeu sinalizou para potenciais novos conflitos nos Balcãs ou no Cáucaso que podem acentuar ainda mais as tensões entre o Ocidente e a Rússia. O argumento de que a Europa continue a ser uma região de risco geopolítico nos próximos anos se fortalece a cada dia. 


A influência de China está implícita na guerra na Ucrânia. O presidente Xi Jinping, afirma que é neutro – mas a China está inquieta para evitar que Vladimir Putin seja derrotado, ao mesmo tempo em que vê ganhos potenciais de uma Rússia enfraquecida. Ao mesmo tempo, a Ucrânia, nunca escondeu o desejo de que a China tenha um assento à mesa quando se trata de qualquer acordo de paz. Com ambos os lados buscando apoio da China, Xi Jinping poderia emergir como o verdadeiro vencedor da guerra. Algo que Trump procura evitar.


No Oriente Médio, o Irã, após os conflitos de Gaza, aumentou ainda mais o gigante tensionamento de décadas com os EUA. Em paralelo, Turquia, Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos estão competindo por maior influência. Com os conflitos em curso em Gaza, Líbano, Síria e Iêmen, a região já está sob considerável tensão. Israel, uma potência nuclear não oficial, provavelmente só usaria armas nucleares se sua existência estivesse ameaçada. No médio prazo, no entanto, um ataque israelense às instalações nucleares iranianas poderia empurrar o Irã para além do limiar nuclear e escalar o conflito latente entre essas duas potências regionais em uma guerra em grande escala. A retaliação iraniana, possivelmente contra instalações petrolíferas no Golfo, poderia desencadear uma enorme crise energética, cujos efeitos seriam sentidos em todo o mundo. Como a Rússia perseguirá seus interesses no Oriente Médio após a derrota na Síria ainda não se sabe. A intermediação da China de um acordo entre o Irã e a Arábia Saudita, bem como a admissão dos Emirados Árabes Unidos, Irã e Egito ao grupo de países BRICS, ilustram a crescente influência de Pequim na região. A Índia também está construindo fortes parcerias com o Irã, Israel e os Estados do Golfo. Com tantos atores envolvidos em uma possível escalada de uma guerra regional, o Oriente Médio provavelmente continuará sendo uma zona de combate primária na competição geopolítica.


No Leste Asiático, verificamos diferenças quando comparamos com o Oriente Médio. O Leste Asiático é o campo central do conflito hegemônico entre a China e os EUA. As tensões na Península Coreana ou incidentes nos mares da China Oriental e Meridional podem rapidamente sair do controle. A principal fonte de conflito, no entanto, é o Estreito de Taiwan, onde as geopolíticas dos EUA e da China se encontram. Pequim se sente cercada e está tentando romper a primeira cadeia de ilhas para ganhar profundidade estratégica no Pacífico. 


Conflitos regionais e repentinos tarifaços comerciais interrompem as cadeias de fornecimento de energia e podem causar rupturas na ordem das relações comerciais afetando diretamente a engrenagem da economia global. Hoje, ao contrário de décadas passadas, os aliados europeus dos EUA estão sob forte pressão dos setores energéticos e comerciais. E, em vista dos constantes altos riscos, as grandes potências estão tentando evitar uma escalada de novos conflitos. A continuidade da insegurança do leste europeu cria expectativas de uma nova Guerra Fria, podendo causar uma instabilidade semelhante à da última Guerra Fria, enquanto outras regiões se tornariam mais vulneráveis a guerras por procuração. 


Avaliando a probabilidade e os efeitos das guerras, instabilidade econômica e mudança climática, caminhamos para o impacto de um mundo cada vez mais desequilibrado.



Luis Augusto Rutledge
Luis Augusto Rutledge


Luis Augusto Medeiros Rutledge é Engenheiro de Petróleo e Analista de Geopolítica Energética. Possui MBA Executivo em Economia do Petróleo e Gás pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Pós-graduado em Relações Internacionais e Diplomacia pelo IBMEC. Atua como pesquisador da UFRJ, Membro Consultor do Observatório do Mundo Islâmico de Portugal, Consultor da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior – FUNCEX, Colunista do site Mente Mundo Relações Internacionais e autor de inúmeros artigos publicados sobre o setor energético.

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