O Alerta da série “Adolescence”: A Crise da Juventude na Era das Redes Sociais
- CERES
- há 1 dia
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Júlia Saraiva
A adolescência é um período marcado por descobertas, transformações emocionais e construção de identidade. É também uma fase em que os jovens se tornam especialmente vulneráveis às pressões externas, sobretudo no ambiente digital. A série britânica “Adolescence”, da Netflix, oferece uma poderosa representação dessa realidade, ao explorar as consequências drásticas da influência das redes sociais sobre adolescentes. Ambientada na Inglaterra, a produção é mais do que uma ficção; ela se aproxima de um documentário psicológico sobre os riscos silenciosos da era digital.
A trama acompanha Jamie Miller, um garoto de 13 anos acusado do assassinato de sua colega de escola, Katie Leonard. O enredo se desenvolve em torno da investigação sobre o crime e, aos poucos, revela que Jamie havia sido gradualmente influenciado por conteúdos misóginos e extremistas presentes em fóruns online. A série destaca a inserção do jovem na chamada “manosphere” ou “manosfera”, em português, uma subcultura digital que abriga discursos antifeministas, negacionistas e, frequentemente, violentos. Esses ambientes virtuais, disfarçados de grupos de apoio masculino, funcionam como câmaras de eco que alimentam o ódio, a frustração e o sentimento de exclusão.
O caso de Jamie não é isolado, e é justamente por isso que “Adolescence” causou tanto impacto no Reino Unido e no mundo. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, se pronunciou favorável à exibição da série em escolas públicas como forma de conscientizar adolescentes e educadores sobre os perigos da radicalização online. A iniciativa reflete uma preocupação crescente no país com o aumento da ansiedade, depressão e comportamentos agressivos entre jovens. De acordo com relatórios do UK Safer Internet Center, o número de adolescentes expostos a discursos de ódio e desinformação nas redes sociais aumentou exponencialmente nos últimos cinco anos, o que acende alertas não só em nível nacional, mas também global.
A radicalização de jovens em plataformas digitais é um fenômeno que ultrapassa as fronteiras do Reino Unido. No mundo inteiro, adolescentes estão sendo impactados por algoritmos que favorecem conteúdos polarizadores e extremistas, o que pode comprometer sua capacidade crítica e o desenvolvimento de empatia. A chamada “manosphere” é apenas um dos muitos exemplos de espaços virtuais que servem como incubadoras de ideologias perigosas, que vão desde o sexismo e o racismo até a negação da ciência e o incitamento à violência. A facilidade de acesso a esse tipo de conteúdo por meio de redes sociais como TikTok, YouTube e X (antigo Twitter) transforma a juventude em alvo e também em vetor de uma cultura digital tóxica e problematizadora.
O impacto disso nas relações internacionais é alarmante. A disseminação de discursos de ódio e a normalização de ideologias extremistas entre adolescentes pode comprometer os valores democráticos e os direitos humanos, pilares centrais da ordem internacional. A Primavera Árabe, os ataques de supremacistas brancos nos Estados Unidos e o crescimento de grupos ultranacionalistas na Europa demonstram como as redes sociais podem influenciar eventos geopolíticos, e com a entrada precoce de adolescentes nesses ambientes hostis, os riscos se multiplicam.
Em tempos de diplomacia digital, os jovens se tornaram parte central da estabilidade internacional. A influência das redes sociais sobre adolescentes é, portanto, uma questão de segurança internacional, exigindo respostas conjuntas entre Estados, empresas de tecnologia e instituições educacionais. É preciso investir em alfabetização midiática, inteligência emocional e regulação das plataformas, para que as novas gerações não apenas resistam ao ódio, mas também se tornem agentes ativos na construção de uma sociedade mais justa, crítica e empática.
A série “Adolescence” é, nesse contexto, mais do que entretenimento: é um alerta. Um chamado à reflexão sobre o futuro que estamos permitindo que se construa nas telas e, por consequência, nas vidas de milhões de adolescentes pelo mundo.
“As declarações aqui expressas são de responsabilidade do autor”.

Júlia Saraiva:, Formada em Relações Internacionais pela UniLaSalle-RJ. Tem pesquisa acadêmica voltada para as políticas dos Estados Unidos e do Oriente Médio, com ênfase na influência de lobbies, estratégias militares e relações diplomáticas na região. Pesquisadora do Centro de Estudos de Relações Internacionais CERES e consultora de internacionalização de empresas.
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Referências Bibliográficas
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Disponível em: https://epsicologos.com.br/o-impacto-das-redes-sociais-na-saude-mental-dos-adolescentes. Acesso em: 09 abr. 2025.
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