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O ataque do Irã a Israel era o salvo conduto que Benjamin Netanyahu desejava

Luis Augusto M. Rutledge

14 de abril, 2024


Os drones que invadiram o céu de Israel nas primeiras horas da manhã de domingo, deram ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu o que ele mais queria, um conflito mais amplo com apoio mais intenso de potências internacionais e uma justificativa clara, segundo ele, para atacar diretamente o Irã. No entanto, Estados Unidos e Reino Unido, países de sólido apoio a Israel, têm de evitar imediatamente esta situação.


Antes do ataque, Netanyahu estava acuado sofrendo pressões populares, um governo desprestigiado e aumento de sua impopularidade internacional. Agora, rapidamente passou da posição de criticado para de um líder apoiado pelas principais capitais ocidentais.


A grande questão agora, que será respondida nos próximos dias, é que forma a geopolítica dos países árabes será atingida sem adicionar novos atores ocidentais num conflito que se amplia a cada.


Líderes mundiais e diplomatas da União Europeia devem temer uma nova escalada que implicará em possíveis atentados nas principais capitais europeias. Temendo pela segurança regional, as lideranças mundiais devem ser comedidas quanto às críticas ao Irã e apenas tentar usar de diplomacia apaziguadora.  


Uma possível estratégia de Netanyahu será associar, ao mundo, a imagem do Irã aos atentados e financiamento de grupos terroristas. Assim, suas ações militares em Gaza ganhariam de forma incontestável sua razão de existir. Uma das linhas seria demonstrar que o Irã desrespeita o direito internacional, põe em risco Israel e as relações internacionais entre Estados árabes e ocidentais. Além disso, usar a imagem do líder supremo da república islâmica, o aiatolá Ali Khamenei, como verdadeiro inimigo internacional.


É irrealista esperar que Netanyahu dê a outra face. A ação bélica de Teerã deu uma oportunidade única de desviar, ao menos momentaneamente, a atenção global das atrocidades militares de seu governo em Gaza e de sua dificuldade em derrotar o grupo extremista Hamas. Ele pode dizer que a guerra contra o Hamas se transformou em uma guerra contra o Irã e que  o ataque iraniano provou mais uma vez que Israel está na posição de defensor regional diante de uma coalizão terrorista que busca arrastar toda a região para uma guerra sem fim.


O fato é que as ações de Israel nos últimos meses de guerra parecem ter levado a este momento e, esse confronto não deve ser o único à medida que a crise se desenrola. 

O Irã de Ali Khamenei culpou Israel por um ataque direto e flagrante ao seu território soberano. O ataque à embaixada de Damasco parece uma escalada premeditada destinada a fortalecer a posição política interna de Netanyahu, silenciar as críticas e desviar a pressão internacional para interromper o fornecimento de armas a Israel.


Com a resposta imediata de Washington condenando o ataque iraniano, mas, no entanto, orientando que usem as ferramentas diplomáticas para um arrefecimento do conflito, obrigará que Israel provavelmente reexamine suas opções políticas e militares e irá para um acordo político em Gaza para evitar mais perdas políticas e militares.


Do outro lado, o governo de Ebrahim Raisi, presidente linha-dura do Irã, não poderá mais fazer guerra de forma remota, se utilizando do Hezbollah no Líbano e os houthis no Iêmen. 

Em minha análise considero que Khamenei e Ebrahim Raisi, tinham alternativas mais sensatas. Por ter sido atacado primeiro, em se tratando dos fatos de momento, o Irã poderia formalmente ter levado suas queixas à ONU e ao tribunal internacional em Haia, e se utilizado da força do BRICS, onde figuram China e Rússia. Dessa forma, poderia ter conquistado a simpatia do sul global e de aliados antiocidentais.


O povo do Irã deve aguardar a resposta de Israel. Dependendo de quão ruim isso seja, o regime islâmico enfrentará um aumento na instabilidade interna, até mesmo uma revolta popular. A impopularidade crescente do governo, perante as novas gerações, pouco simpáticas ao cumprimento de regras morais e religiosas do Estado. 


Em linhas gerais, ações do Conselho de Segurança da ONU alinhadas com uma ação internacional urgente e ordenada para interromper novos combates e evitar uma escalada em todo o Oriente Médio que suga a Síria, o Líbano e as regiões do Golfo e do Mar Vermelho devem ser imediatas. Caso contrário, as elocubrações desconexas de Netanyahu e os erros estratégicos do Irã levarão apenas ao derramamento de sangue infinito.


Luis Augusto Medeiros Rutledge

Engenheiro de petróleo formado pela UNESA e possui MBA Executivo em Economia do Petróleo e Gás pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pós-graduado em Relações Internacionais e Diplomacia pelo IBMEC.

Pesquisador da UFRJ, Analista de Geopolítica Energética e Membro Consultor do Observatório do Mundo Islâmico de Portugal, Consultor da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior - FUNCEX. 

Colunista do site MenteMundo.

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