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O desfile que desafiou o Ocidente

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    CERES
  • há 2 dias
  • 3 min de leitura

O desfile em Pequim não deve ser interpretado apenas como uma demonstração militar, mas como um ato de comunicação estratégica na arena internacional. Xi Jinping usou o evento para reforçar três mensagens centrais:


(1) a legitimidade histórica da China como vencedora da Segunda Guerra Mundial;

(2) o avanço tecnológico-militar que a coloca em posição de rivalizar com os Estados Unidos;

(3) a consolidação de um eixo de cooperação com países desafiadores da ordem liberal internacional.


Ao marcar o aniversário da derrota do Japão, Xi Jinping reposiciona a narrativa da guerra como elemento central do “rejuvenescimento nacional”, transformando a memória histórica em ferramenta de legitimação política. Essa estratégia conecta passado e presente: a China que sofreu invasões e humilhações agora se apresenta como potência capaz de moldar o sistema internacional. É um recurso típico da diplomacia chinesa sob Xi, o uso da história para justificar ambições contemporâneas.


A apresentação de mísseis hipersônicos, sistemas antinavio e a tríade nuclear estratégica busca transmitir ao mundo que a China possui, pela primeira vez, capacidade credível de dissuasão contra os EUA. Essa ênfase em capacidades de negação de acesso (A2/AD) tem foco evidente no Estreito de Taiwan, onde o objetivo estratégico chinês é impedir ou retardar qualquer intervenção naval americana. Ao mesmo tempo, a presença de drones e caças reforça a ideia de que Pequim está em sintonia com as guerras de nova geração, caracterizadas por tecnologia avançada, inteligência artificial e operações multidomínio.


A presença de Putin e Kim Jong Un, junto a outros líderes não alinhados ao Ocidente, simboliza a formação de um bloco revisionista que desafia a ordem internacional baseada em regras. Embora não se trate ainda de uma aliança formal, o gesto público de unidade tem impacto geopolítico: sugere que Moscou, Pequim e Pyongyang, cada qual com seus interesses particulares, estão dispostos a se apresentar como contrapeso coletivo à influência americana. Isso aumenta o risco de percepção no Ocidente de que está emergindo um novo eixo com potencial de desestabilizar o equilíbrio global.


Por trás da grandiosidade, há vulnerabilidades. O fato de a China se apoiar em parceiros como Rússia e Coreia do Norte, ambos pressionados por sanções e isolamento, pode limitar sua capacidade de atrair aliados de maior prestígio global. A estratégia chinesa, portanto, corre o risco de cristalizar uma divisão internacional que pode, no longo prazo, dificultar sua ambição de se tornar a liderança aceitável de uma nova ordem global.


Reação dos Estados Unidos


A resposta de Donald Trump, acusando Xi, Putin e Kim de conspirarem contra os EUA, revela que a narrativa chinesa alcançou seu objetivo: provocar e chamar a atenção da Casa Branca. Ao mesmo tempo, a postura de Trump de minimizar o risco militar sugere ambivalência, o que pode ser lido por Pequim como espaço para intensificar sua assertividade. No entanto, a médio prazo, a percepção de ameaça compartilhada tende a fortalecer mecanismos de contenção liderados pelos EUA, seja na OTAN, no Indo-Pacífico (Quad, AUKUS) ou via aproximação com aliados asiáticos.


Conclusão


O desfile em Pequim deve ser visto como parte de uma disputa maior: a competição sino-americana pela liderança do século XXI. Se, por um lado, Xi Jinping buscou transmitir confiança, unidade e força, por outro, o evento expõe a crescente polarização do sistema internacional. A exibição conjunta de Xi, Putin e Kim pode acelerar a formação de blocos rivais e intensificar o clima de confrontação estratégica, aproximando o mundo de uma lógica mais próxima à da Guerra Fria, porém, desta vez, com a China no centro do palco.


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João Pedro Nascimento é especialista em Relações Internacionais, com sólida formação acadêmica e experiência prática em internacionalização empresarial e mediação de negociações internacionais. Graduado em Relações Internacionais pela Universidade Anhembi Morumbi (UAM-SP) e pós-graduado em Políticas Públicas pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), atua em processos de expansão global de negócios e gestão estratégica de parcerias em âmbito nacional e internacional.


Referências


GAN, Nectar; MCCARTHY, Simone; LENDON, Brad; et al. China to unveil newest weapons in military parade. CNN, 2025.

 

MAIMANN, Kevin. China’s lavish military parade could signal an attempted shift in world order. CBC, 2025.

 

MORITSUGU, Ken; WU, Huizhong. Chinese military parade marks 80 years since the end of World War II. AP News, 2025.

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