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Ataques do Hamas a Israel expõe feridas nunca cicatrizadas entre palestinos e israelenses

Luis Augusto Medeiros Rutledge

Geopolítica e Energia


A escalada sem precedentes iniciada pelo Hamas e tendo sua temperatura elevada pelas tropas de Israel na Faixa de Gaza, relembrou ao mundo em sua forma mais cruel a distinção entre judeus israelenses e palestinos. O início do feroz ataque terrorista na mesma data do aniversário de 50 anos da Guerra de Yom kippur não foi uma infeliz coincidência. O recado foi com data marcada. E, este foi o ataque terrorista mais grave da história de Israel.


Não podemos tampar os olhos para o passado. Parte das atrocidades acompanhadas em tempo real entre o Hamas e as tropas israelenses são resultados de um acirramento crescente entre palestinos e israelenses, que teve seu início com o projeto de formação do Estado de Israel na Palestina. As décadas entre 1920 e 1940 são as bases históricas para os conflitos que acompanhamos nos dias de hoje. O nascimento do Movimento Nacional Palestino, o crescimento do antissemitismo, a chegada de judeus na Palestina e a criação de Israel, resolução aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU) com a divisão do território da Palestina em dois estados: um árabe e um judeu, formam a colcha de retalhos observada hoje nesta região do Oriente Médio.


Em termos geopolíticos, o confronto entre Hamas e Israel representará sutis oscilações nas relações internacionais entre os países do Oriente Médio. Em sua maioria e sem maiores alardes, os países árabes estão solidários ao povo da Faixa de Gaza.


Na região, o Egito deixou de apoiar o Hamas após a deposição da Irmandade Muçulmana, historicamente associada ao grupo palestino. Hezbollah, organização política fundamentalista islâmica xiita, Irã, Iêmen, Turquia e a Síria são os principais apoiadores da causa palestina. Os demais países árabes não demonstram interesse em maior turbulência ao redor da região. Tanto a Arábia Saudita quanto os Emirados Árabes Unidos, através de seus respectivos ministros das Relações Exteriores, pediram em caráter de urgência conjuntamente o respeito ao Direito Internacional Humanitário.


Em 2020, através da mediação estratégica dos EUA, uma brisa de paz surgiu quando Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Marrocos anunciaram o restabelecimento de suas relações diplomáticas. Todos esses movimentos demonstraram naquele tempo e atualmente, um claro desejo de evitar rupturas diplomáticas ou colisões militares. O sentimento de que a geopolítica entre as nações deverá trilhar o caminho para o desenvolvimento ainda persiste entre os principais lideres árabes e o governo de Tel Aviv.


De qualquer forma, em todo o Oriente Médio, uma onda civil, não governamental, de apoio aos palestinos é observada e muitos povos estão saindo às ruas em solidariedade aos seus irmãos árabes. Em paralelo, a escalada terrorista está expondo limitações dos acordos diplomáticos mediados por governos árabes e Israel e apresentando ao mundo a dificuldade de enfrentar o terrorismo islâmico. O Catar, usando mais uma vez seu soft power, intencionou ser o mediador entre Hamas e Israel.


Ao anunciar seu apoio ao Hamas, o grupo islâmico Hezbollah, do Líbano, abre um novo capítulo no domínio da resistência armada contra os sionistas. Os movimentos observados pelos grupos armados demonstram além da força armamentista e do planejamento estratégico, a dificuldade atual e futura de dialogar com organizações terroristas. A ausência de Estado e de um território formal tornam a diplomacia e as relações internacionais palavras ao vento. As únicas regras são os confrontos bélicos. Desta forma, o acirramento tende a crescer conforme a chuva de bombas permaneça.


Uma análise fria nos apresenta que as diferenças ideológicas, religiosas, políticas e históricas não se dissiparão com o tempo.


Paz. A comunidade internacional é taxativa em afirmar que uma possível paz somente com a criação de dois Estados soberanos reconhecidos pela ONU. Os israelenses precisariam apoiar um Estado soberano palestino, liberando Cisjordânia e Jerusalém Oriental.


Enquanto, os palestinos deveriam renunciar à violência, incluindo o Hamas e seus seguidores, e reconhecer o Estado de Israel. Antes disso, algo similar aos acordos assinados em Oslo em 1993 deveria ser imediatamente iniciado, afim de evitar maiores atrocidades.


Israel e Palestina precisam acordar. Na trajetória do confronto, israelenses e palestinos somente encontrarão corpos pelo caminho.



Luis Augusto Medeiros Rutledge é engenheiro de petróleo e pesquisador da UFRJ. Analista de Geopolítica Energética, Membro Consultor do Observatório do Mundo Islâmico de Portugal e Membro do CERES-Centro de Estudos das Relações Internacionais. Possui MBA Executivo em Economia do Petróleo e Gás pela Universidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ) e Especialização em Relações Internacionais pelo Ibmec. Atua como colunista e comentarista de geopolítica energética do site MenteMundo Relações Internacionais. Colaborador de colunas de petróleo,gás e energia em diversos sites da área. Contato:rutledge@eq.ufrj.br

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