Políticas energéticas distintas entre países do G20 evidenciam a complexidade das metas de descarbonização
- CERES
- 7 de abr.
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Luis Augusto Medeiros Rutledge
Geopolítica Energética
Políticas energéticas tão díspares entre países do G20 inibem o avanço conjunto das metas de economias de baixo carbono e apresentam inúmeras complexidades, onde diferentes prioridades nacionais, infraestruturas, modelos econômicos e desafios políticos, indicam que alguns países estão progredindo na redução da dependência de combustíveis fósseis mais facilmente que outros. Por certo, a continuada e crescente demanda por suprimento energético durante a transição para fontes de energia de baixa emissão demonstram que os efeitos serão diversos em função dos contextos de cada país.
O desenvolvimento e a industrialização trouxeram não apenas ganhos econômicos e tecnológicos. Hoje, os países do G20 são responsáveis por cerca de 80% das emissões globais de gases de efeito estufa, e cada um deles possui realidades econômicas, sociais e geopolíticas distintas. Se por um lado, Alemanha e França avançam com suas respectivas políticas de transição energética, investindo em energias renováveis e eliminando gradualmente o uso fontes fósseis, outros países, como Índia e China, ainda dependem fortemente da geração por meios fósseis para atender sua infraestrutura alimentada por óleo e gás natural. Numa outra esfera, a Arábia Saudita, referência histórica em produção de petróleo, procura equilibrar metas ambientais com os interesses financeiros do Reino.
Mesmo com claras metas climáticas e energéticas, uma enorme incongruência se apresenta ao G20. A capacidade de geração de eletricidade a carvão aumentou globalmente em 3% entre 2019 e 2023, com alguns estados membros da União Europeia colaborando para este índice. Este ligeiro crescimento do carvão reflete não somente as contradições entre acordos internacionais firmados, mas também as consequências de alguns riscos geopolíticos, como a guerra na Ucrânia, que levou alguns países europeus a reativarem usinas a carvão diante das incertezas do suprimento de gás natural. Estes dados evidenciam que, mesmo com o avanço das energias renováveis, o carvão ainda ocupa um papel estratégico em alguns sistemas energéticos, dificultando os esforços globais para a redução das emissões.
A diversidade de políticas energéticas e os obstáculos tecnológicos e de infraestrutura para estabelecer metas dificultam a ruptura dos atuais padrões de geração de energia. A transição energética exige acordos de cooperação técnica e financeira, e, mais ainda, a percepção das necessidades específicas de cada nação.
Nos EUA, ainda é incerto se a governança do presidente Trump será capaz de retardar a transição para energias limpas. As políticas de Trump, que estão reduzindo o apoio para investimentos em energias renováveis, devem desacelerar a descarbonização norte-americana. Entretanto, nem mesmo a Casa Branca pode controlar totalmente o ritmo global da transição energética.
Com diversos projetos voltados para o setor dos recursos naturais cancelados por Trump, já é possível ver o impacto das políticas do atual governo na forma de projetos cancelados ou atrasados. Nos últimos anos, a construção de novos projetos de energia limpa ultrapassou amplamente os atuais projetos de combustíveis fósseis. Porém, o mapeamento do atual governo norte-americano das aprovações de novas usinas de gás natural e as medidas para desacelerar a construção de novos parques eólicos podem diminuir o avanço de energias limpas no país.
As mudanças ocorrem quando a transição energética - a ampla mudança dos combustíveis fósseis para a energia limpa - estava avançando. Os gastos com energia limpa nos EUA ultrapassaram US$ 280 bilhões em 2024, ante cerca de US$ 200 bilhões em 2020, de acordo com a Agência Internacional de Energia.
Muitos desses investimentos foram incentivados por leis aprovadas durante o governo democrata de Joe Biden. Mas grande parte da atividade é simplesmente uma função da dinâmica do mercado, à medida que o preço da energia limpa cai e a demanda por energia solar, eólica e baterias cresce.
Na maior economia da União Europeia, a Energiewende da Alemanha, ou transição energética, visa diminuir gradualmente a dependência por combustíveis nucleares e fósseis para fontes de energia renováveis. Apesar do amplo apoio da sociedade alemã, essa transição enfrenta oposição significativa de vários grupos políticos e econômicos preocupados com os custos e a confiabilidade das energias renováveis. Essas dinâmicas adversárias levaram a debates sobre o desenho da política energética, subsídios e o futuro papel do carvão e da energia nuclear, fontes tradicionais na matriz energética do país. A Alemanha está em um ponto de inflexão, o resultado da última eleição nacional pode impactar a política energética nacional. A ascensão da extrema direita pode impactar as políticas de energia renovável no país e os acordos internacionais de financiamento da transição energética. Nos últimos anos, houve aumento dos preços da eletricidade, discussões sobre energia nuclear e metas climáticas ambiciosas – mas também preocupações com acessibilidade e segurança do fornecimento. Cada grande parte tem sua própria estratégia para superar esses desafios – de mais energias renováveis a reformas no mercado de eletricidade.
Na Índia, a transição energética é caracterizada por conflitos entre diferentes partes interessadas, incluindo agências governamentais, empresas privadas e sociedade civil. O impulso para a energia renovável é frequentemente recebido com resistência de regiões e indústrias dependentes do carvão, levando a negociações contraditórias e compromissos políticos. Esse cenário complexo resultou em progresso desigual e desafios no dimensionamento de soluções de energia renovável em todo o país.
Esses exemplos dos EUA, Alemanha e Índia ilustram como a dinâmica das políticas nacionais molda a política energética, dificultando abordagens conjuntas que envolvem o planejamento energético global.
Apesar dos progressos significativos na adoção de energias renováveis, especialmente nos setores dos transportes e da eletricidade, a transição continua a ser difícil noutros setores, como o siderúrgico, o cimento, o transporte marítimo e a aviação.
Embora os investimentos em energia renovável e as tecnologias de baixo carbono tenham atingido níveis recordes, ainda não são suficientes para alcançar uma transição energética inclusiva, especialmente porque o investimento em fontes de combustíveis fósseis continua.
O progresso das políticas de transição energética do G20 depende em grande parte da implementação de regulamentos de risco climático que orientem investimentos e decisões estratégicas. Sem uma regulação clara que incorpore os custos ambientais, o mercado tende a favorecer fontes de energia mais baratas, porém mais poluentes, como o carvão.
A adoção de mecanismos como precificação de carbono, exigências de transparência sobre riscos climáticos e padrões para finanças sustentáveis podem acelerar a mudança para uma matriz energética de baixo carbono. No entanto, a velocidade e a eficácia dessa transição variam entre os países do G20, refletindo diferentes níveis de ambição política, capacidade institucional e pressão da sociedade civil.

Luis Augusto Medeiros Rutledge é Engenheiro de Petróleo e Analista de Geopolítica Energética. Possui MBA Executivo em Economia do Petróleo e Gás pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Pós-graduado em Relações Internacionais e Diplomacia pelo IBMEC. Atua como pesquisador da UFRJ, Membro Consultor do Observatório do Mundo Islâmico de Portugal, Consultor da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior – FUNCEX, Colunista do site Mente Mundo Relações Internacionais e autor de inúmeros artigos publicados sobre o setor energético.
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