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O Silêncio de Leão: Quando o Papa se Retira da História

  • Foto do escritor: CERES
    CERES
  • há 43 minutos
  • 3 min de leitura

Em um tempo de ruído, o silêncio pode ser ensurdecedor. E o silêncio de Papa Leão XIV diante dos grandes dramas da geopolítica contemporânea tem soado como um eco vazio no coração da cristandade. Guerras, genocídios e perseguições se multiplicam — mas o representante de Pedro parece preferir o recolhimento ao verbo, a contemplação à ação, a distância à presença.


Quando a Ucrânia é devastada por uma guerra que já ultrapassa fronteiras e ceifa vidas inocentes, esperava-se que o Vaticano, com sua tradição diplomática secular, se tornasse voz ativa pela paz. O Papa Leão XIV, no entanto, manteve-se à margem. Não houve a intensidade moral de João Paulo II diante da Guerra do Golfo, nem a prudência engajada de Francisco nos conflitos do Oriente Médio. Há apenas uma aparente indiferença — ou, no melhor dos casos, um silêncio calculado que, na prática, soa como abdicação.


Da mesma forma, os ataques em Gaza e o sofrimento do povo palestino — assim como a dor dos civis israelenses — têm passado sem uma palavra firme do pontífice. Num mundo em que cada morte é transmitida em tempo real, a ausência do Papa é um escândalo silencioso. O líder da Igreja que, outrora, se colocava como mediador moral entre povos e nações, agora parece ausente da mesa onde a História é escrita.


E o que dizer das perseguições a cristãos na África, massacrados por grupos extremistas islâmicos em regiões como Nigéria, Chade e Sudão? Onde está o pastor que deveria velar por seu rebanho? Onde está a denúncia, o apelo, a compaixão visível?


A omissão do Papa Leão XIV não é apenas religiosa — é política. Pois o Papa não é apenas o chefe espiritual de 1,3 bilhão de fiéis; é também o chefe de Estado do Vaticano, o menor, mas talvez o mais simbólico dos estados do mundo. A diplomacia pontifícia, que outrora exerceu influência decisiva nas negociações de paz, hoje parece confinada à irrelevância. O Vaticano tornou-se um eco das suas próprias glórias passadas — uma instituição que fala pouco, age menos e observa o caos de longe, envolta em ouro e incenso.


Curiosamente, Leão XIV é mais frio que Bento XVI e infinitamente mais distante que Francisco. Se Ratzinger foi acusado de rigidez intelectual e Francisco de populismo pastoral, Leão XIV parece ter conseguido o pior de ambos: a frieza sem a profundidade, a neutralidade sem a empatia. Seu pontificado é o retrato de uma Igreja que teme se comprometer — que prefere parecer prudente a ser profética.


Certo é que o Papa, teceu algumas críticas a Trump e sua gestão dos imigrantes e até mesmo recebeu ao lider palestino, porém longe da fortaleza que sua figura representa.


O silêncio do Papa, no entanto, não é neutro. O silêncio, neste contexto, é um ato político. É escolher não se opor, é permitir que o sofrimento humano se torne estatística e não causa. É um silêncio que protege o poder, mas abandona as pessoas.


O mundo não precisa de um Papa midiático. Precisa de um Papa presente — alguém capaz de devolver à Santa Sé o papel que ela historicamente desempenhou: o de consciência moral da humanidade. Sem isso, a Igreja corre o risco de se tornar irrelevante, e o Papa Leão XIV, um fantasma que observa o mundo arder de dentro das muralhas do Vaticano.


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Wesley Sá Teles Guerra

Fundador do CERES e Paradiplomata. Poliglota, residente em Madrid, onde atua como Gestor do Fundo de Cooperação Triangular Europa, América Latina e África. Formado em Negociações Internacionais pelo Centro de Promoção Econômica de El Prat (Barcelona), Bacharel Administração pela Universidade Católica de Brasilia, Pós graduado em Relações Internacionais e Ciências Políticas pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Mestrado em Políticas Sociais e Intervenção Sócio-Comunitária com Especialização em Migrações pela Universidad de La Coruña (Espanha), MBA Marketing Internacional MIB (Massachussetts-EUA), Global MBA ILADEC, Mestrado em Gestão e Planejamento de Smarticities pela Universitat Carlemany (Andorra), Doutorando em Sociologia na UNED (Espanha). Especialista em Paradiplomacia, Desenvolvimento Econômico e Cidades Inteligentes, Cooperação Internacional e Migrações. Autor dos livros: "Cadernos de Paradiplomacia", "Paradiplomacy Reviews" e "Manual de Sobrevivência das Relações Internacionais". Comentarista convidado pela CBN Recife e finalista do prêmio ABANCA para investigação acadêmica.

Atuou como Paradiplomata do Governo da Catalunha durante o "procés" processo de autodeterminação da região da Catalunha (Espanha), também foi membro do IGADI, Instituto Galego de Análise e Documentação Internacional e coordenador do OGALUS, Observatório Galego da Lusofonia, sendo o responsável pelo estudo Relações entre Galicia e Brasil. Assim mesmo foi o primeiro brasileiro a se candidatar em uma eleição na cidade de Ourense (Espanha).

Foi editor executivo da revista ELA do IAPSS e é membro de diversas instituições tais como CEDEPEM, ECP, Smartcities Council e REPIT. 

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